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Procurador vai apurar arquivo "esquecido" do Deops em Santos
Dossiês produzidos pela polícia política na cidade estavam abandonados
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ministério Público Federal
em Santos instaurou ontem
uma investigação para apurar
as razões que levaram um arquivo secreto do Deops (Departamento de Ordem Política e
Social de São Paulo) a ficar
abandonado num prédio da Polícia Civil naquela cidade.
Ontem, a Folha revelou que
a polícia paulista tem em Santos um arquivo com documentos que vão de 1943 a 1982, pelo
menos, sobre os chamados crimes políticos. O arquivo tem
entre 6.000 e 9.000 dossiês,
numa estimativa grosseira, feitos pela polícia política.
O objetivo do procurador Felipe Jow Namba é apurar quem
foram os responsáveis pela
"guarda irregular" dessa documentação. Os documentos estavam armazenados irregularmente porque um decreto de
1994 do governo paulista determinou que todos os papéis
do Deops fossem levados para
o Arquivo do Estado, para que
eles pudesse ser consultados.
Ontem, o delegado Waldomiro Bueno Filho, chefe da delegacia onde está o arquivo, se
comprometeu a entregar a documentação numa reunião
com representantes do Ministério Público Federal, da OAB
(Ordem dos Advogados do Brasil) e do Arquivo do Estado.
O delegado também se comprometeu a explicar em cinco
dias por que não mandara a documentação para o Arquivo do
Estado, como manda a lei.
O secretário de Segurança,
Antonio Ferreira Pinto, determinou que a Corregedoria da
Polícia Civil apure os motivos
pelos quais os documentos não
foram entregues. "Falei para
dar prioridade a essa investigação", disse à Folha.
Os representantes da OAB,
do Ministério Público e do Arquivo do Estado visitaram o arquivo no Palácio da Polícia em
Santos para garantir que a documentação seja preservada.
O ministro Paulo Vannuchi
(Direitos Humanos) afirmou à
Folha que a descoberta da documentação mostra que "persistem procedimentos da época
da ditadura". "A reportagem
confirma que há outros arquivos ainda não abertos e asseguro que outros aparecerão."
A descoberta do arquivo pode gerar uma disputa entre os
governos federal e estadual. Falando em tese sobre os documentos, o procurador Marlon
Weichert disse que os documentos federais devem ir para
o Arquivo Nacional, como determina um decreto de 2005. A
Folha encontrou no arquivo de
Santos documentos do 2º Exército, que coordenava certas
ações do Deops.
O secretário de Justiça do governo paulista, Luiz Antonio
Marrey, diz que é preciso analisar o arquivo antes de qualquer
decisão. Frisa, porém, que "a
princípio o Estado quer manter
sob sua guarda esses documentos porque eles estavam numa
repartição estadual".
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