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CELSO PINTO
Boas e más notícias
O resultado fiscal de 97,
confirmado ontem, foi um desastre. Para contrabalançar a
má notícia, contudo, o mercado pode escolher entre um aumento de US$ 4 bilhões a US$
5 bilhões nas reservas, em fevereiro, e um déficit comercial
muito abaixo das previsões.
As boas notícias externas
chegaram na hora exata. Ajudam a acalmar os ânimos
com o fiasco fiscal, pelo menos
a curto prazo, e dão mais
margem de manobra para a
redução dos juros.
O desastre fiscal foi explicado, em parte, pelo fato de os
Estados terem usado dinheiro
da privatização para pagar o
décimo terceiro. Como lembra
Marcelo Allain, do BMC, os
Estados só pagaram metade
do décimo terceiro em dezembro. Calcula-se que a folha salarial dos Estados tenha sido
de R$ 37 bilhões em 97. Meio
salário a mais, portanto, seria, grosso modo, R$ 1,5 bilhão. O déficit dos Estados e
municípios em dezembro,
contudo, foi de R$ 5,1 bilhões.
O déficit primário (receita
menos despesa, exceto juros)
de 0,75% dos Estados e municípios no ano ajudou a transformar a meta de superávit de
1,5% do PIB na realidade de
um déficit de 0,67%. De 96
para 97, todos os déficits pioraram: o primário (de 0,1%
para 0,67%), o operacional
(de 3,75% para 4,07%) e o nominal (de 5,87% para 5,89%).
E isso apesar de a receita ter
sido recorde e de o funcionalismo não ter tido aumento.
Se o governo não conseguiu
melhorar o resultado fiscal no
ano passado, como convencer
o mercado de que conseguirá
fazê-lo justo num ano eleitoral? Existem alguns argumentos a favor. Por exemplo: o
impacto pleno do pacote fiscal
de novembro e a assinatura
dos acordos de renegociação
das dívidas com os Estados.
As reformas administrativa e
previdenciária, mesmo se
aprovadas, terão um impacto
fiscal imediato mínimo.
Em suma, pelo lado fiscal,
que o mercado olha com lupas
gigantes, a briga por expectativas não será fácil. Os números externos, contudo, esbanjam otimismo -e o governo
foi ator ativo na sua construção.
No final do ano passado, o
diretor da Área Externa do
Banco Central, Demósthenes
Pinho Neto, disse, numa entrevista à coluna, que o governo preferia recuperar lentamente as reservas do que acelerar a entrada de dólares
criando estímulos ao capital
especulativo de curto prazo.
Foi isso, contudo, exatamente
o que o BC ajudou a fazer a
partir de meados de janeiro.
Ninguém discute o fato que
a enxurrada de dólares nas
últimas sete ou oito semanas
é, em grande medida, dinheiro de curto prazo atraído pela
arbitragem: a diferença entre
o custo externo e a aplicação
no Brasil. E esta diferença
cresceu porque caiu a cotação
do dólar no mercado futuro,
ajudada pela generosa oferta
de papéis do governo indexados ao dólar, de um lado, e
pela presença do governo como vendedor de dólar no mercado futuro, de outro.
Se queria evitar tanta entrada de capital de curto prazo, o
BC poderia ter reduzido a remuneração do aplicador externo reduzindo os juros,
saindo do mercado futuro ou
ofertando menos títulos indexados. Não quis. Preferiu ver
o país inundado dos dólares
que, há algum tempo, o BC
chamava de "dinheiro ruim".
Uma razão para ter ficado
com os dólares e esquecido os
adjetivos pode ter sido acumular um colchão de reservas
que ajude a travessia até a
aceleração da privatização.
Outra razão para acumular
muitas reservas é criar um clima positivo que pode facilitar
uma redução mais rápida dos
juros -vital para aliviar os
gastos fiscais-, sem comprometer a entrada de dólares.
Quaisquer que tenham sido
as razões em janeiro, nas últimas semanas, quando ficou
claro o desastre das contas fiscais em 97, o acúmulo de reservas tornou-se ainda mais
importante. Da mesma forma,
o surpreendente resultado da
balança comercial em fevereiro pode ter tido uma mãozinha do governo.
O mercado estimava um déficit de US$ 500 milhões. Faltando três dias úteis para fechar o mês, o déficit estava em
apenas US$ 170 milhões. Somam-se reclamações de que a
volta dos registros de importações tem criado lentidão
num processo que, até então,
era automático.
Se entraves burocráticos estão represando algumas importações, isso acabará aparecendo nos meses seguintes.
Ainda assim, ter uma surpresa a favor na balança, a essa
altura, tornou-se mais do que
bem-vinda.
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