São Paulo, sexta, 27 de fevereiro de 1998

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QUESTÃO AGRÁRIA
Segundo os acampados, ferido fez provocações durante o dia
Fazendeiro é baleado em conflito com sem-terra

ESTANISLAU MARIA
da Agência Folha, em Florianópolis

O fazendeiro Luís Carlos Bauer levou dois tiros durante um confronto com trabalhadores rurais sem terra acampados na fazenda São Sebastião, em Abelardo Luz, oeste de Santa Catarina, no começo da noite de anteontem.
Segundo o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), cerca de 300 famílias -1.500 pessoas- invadiram a fazenda durante a madrugada.
Mesmo ferido com um tiro no queixo e outro no braço, Bauer ainda dirigiu sua camionete por cerca de 15 quilômetros até chegar a Clevelândia, onde foi socorrido. Segundo a Polícia Militar, ele está em observação no hospital.
Segundo os sem-terra, o fazendeiro passou o dia provocando as pessoas que estavam acampadas. Ameaçou jogar a camionete contra os trabalhadores.
A Agência Folha não localizou Bauer, mas a polícia tem outra versão para o confronto entre os sem-terra e o fazendeiro.
"Os sem-terra fecharam a estrada e não quiseram negociar", disse o cabo PM Celso Souza Bueno. Segundo o policial, o fazendeiro não podia chegar até sua área, que fica atrás da fazenda invadida.
"Nós negociamos a passagem, mas, na volta, Bauer foi novamente cercado. Então, ele acelerou o carro", disse o PM.
"As famílias acampadas passaram o dia sendo ameaçadas. Quando o fazendeiro investiu, os trabalhadores foram obrigados a defender o acampamento", disse Pedro Possanai, da coordenação estadual do MST.
Foi aberto inquérito na delegacia de Abelardo Luz. Essa foi a quarta invasão nos últimos oito meses.
O dono da fazenda São Sebastião, Constantino Pacheco, anunciou que entrará hoje na Justiça com pedido de reintegração de posse da área, que tem 3.600 hectares.
Início
A concentração de sem-terra em Abelardo Luz começou em junho passado, com a ocupação da fazenda Dissenha, por cerca de mil famílias. O MST, então, começou a invadir as áreas vizinhas, enviando grupos acampados na Dissenha.
Hoje, entre 250 e 300 famílias permanecem nas áreas invadidas. Nenhum mandado de reintegração foi cumprido, e o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) não fez vistorias nas fazendas.
O órgão anunciou para março um recadastramento de todas as 51 fazendas com mais de 300 hectares no município.



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