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Agora, governo diz que se preparou para CPI
Ministro José Múcio afirma que manuseio de dados sigilosos sobre FHC foi ação preventiva para eventual pedido do Congresso
Tarso havia dito na segunda que TCU pediu informações sobre gastos da Presidência, mas tribunal contestou essa versão; PF não investigará
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em mais um dia sem apontar
o responsável pelo vazamento
de informações sigilosas contra
a oposição, o governo reconheceu ontem que a abertura da
CPI dos Cartões foi um dos motivos para que a Casa Civil fizesse o que chama de "atualização" de um banco de dados de
acesso restrito com gastos do
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
O ministro José Múcio Monteiro (Relações Institucionais)
disse que o manuseio dos dados
fazia parte de uma ação preventiva da Casa Civil para atender a
um futuro pedido das investigações em curso no Congresso.
Sem admitir confecção de
dossiê, ele alega que o requerimento de criação da CPI dos
Cartões estendia as investigações por um período de dez
anos e, por isso, a Casa Civil
preparava um "levantamento"
dos gastos com cartões corporativos e contas tipo B desde
1998 para enviar à comissão.
Segundo a Folha apurou, em
conversas reservadas com aliados, assessores de Lula já admitiram que o Planalto se aproveitou de uma recomendação
antiga e genérica do TCU para
montar um banco de dados
com gastos do governo tucano.
À tarde, Múcio afirmou que o
governo fizera o levantamento
a pedido da "oposição" e da
CPI, embora nenhum requerimento de informação tivesse
sido aprovado até ontem: "Esse
levantamento existe. Os números, os dados, as notas que a
CPI pedir o governo está disposto a fornecer. Repetindo,
sem que isso seja usado como
instrumento de manobra política ou revanchismo".
Em conversa com a Folha
um pouco mais tarde, Múcio se
corrigiu: "A CPI não pediu. O
governo está se preparando para atender a CPI. O levantamento está sendo feito porque
o enunciado de criação da CPI
pede os documentos de dez
anos".
Dossiê
"Não há dossiê. Não há dossiê", disse Múcio, repetindo
membros do governo como
Tarso Genro (Justiça). Segundo ele, dossiê seria uma documentação específica "para atingir adversários e isso não interessa ao governo".
O ministro classificou o vazamento como "extremamente
grave". Disse ter sido "maldosa" a atitude de repassar tais
dados. Indagado por que vazaram apenas dados contra a oposição, Múcio respondeu: "Porque tem gente interessada em
fazer o governo e a oposição
brigarem, em tumultuar o ambiente". A Folha pediu ao ministro que desse nomes. "Não
sei, não sei", disse ele.
O ministro afirmou que sabe
que os documentos "vazaram"
da Casa Civil, conforme a equipe da ministra Dilma Rousseff
reconheceu na véspera, em nota à Folha. Mas Múcio disse
que tinha "certeza" de que Dilma não participou ou mandou
copiar ou divulgar o documento -dentro da estratégia governista de blindar uma possível
presidenciável de 2010.
A ministra deu anteontem
prazo de 30 dias para uma comissão de sindicância apurar
como os dados vazaram.
Na segunda-feira, Tarso
Genro havia mencionado a expectativa da CPI ao dizer que o
processamento de dados do governo FHC atendia a um pedido do TCU (Tribunal de Contas
da União). O TCU negou ter
feito o pedido, mas apenas uma
recomendação-quatro anos
atrás-de que o Planalto aperfeiçoasse o controle de gastos
com suprimento de fundos na
Presidência.
Investigação
O governo não cogita acionar
a Polícia Federal para investigar o vazamento de dados e
mantém a investigação restrita
à comissão de sindicância.
Questionado ontem pela Folha
sobre a possibilidade de a PF
investigar o crime, Tarso Genro disse que não tinha "nada a
dizer sobre o assunto". Para a
Casa Civil, "o processo de apuração indicará se há outras providências a serem tomadas".
A Casa Civil reafirmou ontem que o material publicado
pela revista "Veja" em sua última edição com despesas do governo FHC desde 1998 são
"fragmentos" de relatórios que
estavam sendo digitados para
alimentar o Suprim, o sistema
de controle de suprimento de
fundos da Presidência da República. O governo nega a existência de um dossiê, embora
reconheça que as informações
saíram do Planalto e começaram a ser incluídas no Suprim.
Até o início das investigações
no Congresso, o sistema que
armazena as despesas com suprimento de fundos do Planalto continha dados apenas da
gestão Lula, que o governo insiste em manter sob sigilo a
pretexto de não comprometer
a segurança do presidente.
Um número reduzido de pessoas no Planalto tem acesso ao
Suprim. A Casa Civil reiterou
que a identificação do responsável pelo vazamento depende
da "devida apuração dos fatos".
(KENNEDY ALENCAR, MARTA SALOMON,
FELIPE SELIGMAN, VALDO CRUZ, E
ANDREZA MATAIS)
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