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Empresária diz que pagou propina no DF
No depoimento à PF, Nerci Soares afirma ter dado R$ 150 mil ao esquema para obter a liberação de pagamentos congelados
Entre a empresária ter pago
o dinheiro e a realização da
Operação Caixa de Pandora
da PF, a Unirepro recebeu
R$ 2,6 mi do governo do DF
FILIPE COUTINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma empresária admitiu pela primeira vez à Polícia Federal que pagou propina de R$
150 mil ao esquema do mensalão do DEM para conseguir que
o governo de José Roberto Arruda (sem partido) liberasse
pagamentos congelados.
A Folha teve acesso ao depoimento prestado em 27 de
janeiro por Nerci Soares, filmada entregando o dinheiro ao
delator do mensalão Durval
Barbosa. A representante da
Unirepro usa expressões como
"extorsão" e "pressão" para
classificar a negociação feita
com Barbosa.
Segundo ela, os R$ 150 mil
representavam cerca de 10%
dos pagamentos que o governo
do DF devia a Unirepro. Ela já
havia sido demitida pela Unirepro quando falou com a PF.
A empresária é dona da empresa Nerci SS Informática,
que prestava serviços e era a
responsável pela área comercial da Unirepro em Brasília.
Nerci estava com problemas
para conseguir os pagamentos
atrasados de contratos da Unirepro com o governo -em especial nas secretarias de Educação e da Saúde. Segundo o
depoimento, a empresária foi
informada por pessoas do setor
de informática do governo que
"deveria conversar com Durval
para tentar resolver os problemas com os atrasos". Nerci diz
também que sabia que "havia
empresas em pior situação".
"A declarante agiu assim [pagando Barbosa] porque queria
receber os pagamentos em
atraso, não tendo encontrado
outra forma para tal", diz o depoimento colhido pela PF.
Oficialmente, Durval Barbosa era secretário de Relações
Institucionais e não tinha controle sobre despesas do governo Arruda. Segundo Nerci, Barbosa disse que "tais atrasos estavam ocorrendo em razão da
Unirepro não ter se "adequado"
ao sistema de trabalho na área
de informática do governo".
No primeiro encontro, em
2008, Barbosa teria pedido
propina e a Unirepro negou.
Em setembro de 2009, quando
Barbosa já colaborava com a
Justiça, a empresária o procurou de novo. Ela deu então R$
150 mil ao operador do mensalão, encontro filmado por Barbosa e entregue à Justiça.
Segundo o depoimento, Nerci fez o pagamento sem autorização da Unirepro, com parte
do dinheiro das comissões que
ganhava. Disse que temia que
os atrasos levassem a Unirepro
a fechar a filial em Brasília.
A Folha teve acesso às tabelas de Barbosa com os valores
dos contratos de informática
do governo. Segundo ele, era
um controle da propina a ser
cobrada de cada empresa. A
Unirepro aparece com R$ 1,6
milhão em ordens bancárias.
A Folha apurou que entre a
empresária ter dado R$ 150 mil
a Barbosa e a Operação Caixa
de Pandora, a Unirepro recebeu R$ 2,6 milhões do governo.
Destes, pelo menos R$ 2 milhões foram da Secretaria de
Educação. A Secretaria de Saúde liberou o pagamento de R$
816 mil no dia 10 de fevereiro,
véspera da prisão de Arruda.
A empresária também isentou o deputado federal Augusto
Carvalho (PPS-DF), que aparece no vídeo de Durval Barbosa.
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