São Paulo, Terça-feira, 27 de Abril de 1999
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Atitude foi "irracional", afirma Ermírio

da Reportagem Local

A carreira do ex-presidente do BC Francisco Lopes no Brasil "está liquidada", segundo o empresário Antonio Ermírio de Moraes, do grupo Votorantim. "Foi uma atitude absolutamente irracional e incompreensível", disse o empresário. "Talvez seja uma estratégia da defesa, mas é difícil de acreditar".
Lopes faltou com respeito ao país, segundo Antonio Ermírio. "Ele deveria depor com altivez, poderia até confessar que errou, mas deveria ser homem até o fim."
O empresário acha que a atual safra de CPIs indica um gradual amadurecimento democrático, mas teme que, sem uma reforma do sistema jurídico, os eventuais atos ilícitos apurados no âmbito do Legislativo acabem esquecidos pela opinião pública.
"Cada processo cível, entre agravos e recursos, tem de oito a dez etapas que podem durar meses e meses. Daqui a dez anos, o ex-presidente do Banco Central terá 60 anos. Ninguém se lembrará dele. A menção do nome dele em uma conversa de bar suscitará a pergunta: "Chico Lopes? Em que posição ele jogava?'"
Ironia à parte, Antonio Ermírio espera que a CPI, no que diz respeito a Lopes, faça justiça. "Não quero prejulgar ninguém, mas espero que se faça justiça. Se for culpado tem de pagar pelo erro dele, se não for tem de sair por cima."

Lula
Luís Inácio Lula da Silva, por meio de sua assessoria de imprensa, divulgou ontem uma nota criticando a atitude de Lopes. "É lamentável que um homem que comandou a política monetária do Brasil tome esse tipo de atitude (não depor)."
Ele disse que a "tática radical" adotada pelos advogados do ex-presidente do BC o livram de "dizer tudo o que sabe sobre o escândalo dos bancos".
O petista julgou a atitude do economista uma confissão. "Se ele não quer falar, é porque tem o que esconder", afirma a nota.
Lula afirma no comunicado que chegou a hora de a sociedade civil exigir "a apuração rápida e transparente de um episódio que fez o Brasil perder bilhões de reais".

Marcílio
O ex-ministro da Economia Marcílio Marques Moreira se disse "perplexo" com a decisão de Francisco Lopes de não assinar o termo de compromisso na CPI.
Moreira, foi ministro da Economia durante o governo Collor, ocupando o cargo durante a CPI que culminou com o impeachment do então presidente.
Moreira afirmou que esperava que o ex-presidente do BC pudesse, ontem, ter esclarecido as suspeitas a seu respeito.
Moreira, que hoje ocupa um cargo na iniciativa privada, como consultor de um dos maiores bancos de investimentos do mundo, o Merrill Lynch, disse que espera que o episódio não afete a credibilidade do país no exterior.

Marta Suplicy
A ex-deputada federal Marta Suplicy (PT-SP) considerou ""inacreditável" a recusa do ex-presidente do BC em prestar depoimento. ""Quando ele se nega a falar, coloca-se como culpado. Fora o desrespeito ao Congresso Nacional e à população", declarou.
Segundo ela, além de se comprometer de maneira ""irremediável", Lopes também ""constrangeu" o governo com sua atitude.
""A situação para o governo se complica e muito. Lopes demonstrou que tem comprometimento e que não pode falar. Assim ele compromete também todos os seus defensores", afirmou.
O governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra (PT) disse que a atitude de Lopes compromete o presidente Fernando Henrique Cardoso.
""Com os acontecimentos desta tarde (de ontem), agrava-se a situação do centro do governo. Lembro que há menos de uma semana, o presidente Fernando Henrique colocava a mão no fogo pelo ex-presidente do BC", afirmou.


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