São Paulo, Terça-feira, 27 de Abril de 1999
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QUESTÃO AGRÁRIA
Sem-terra querem fecularia
MST prepara reação em fábrica de SP


São José do Rio Preto e Belém

O MST está aumentando o número de acampados e assentados para resistir a eventual desocupação da fábrica de farinha de mandioca Larreina, em Sandovalina, no Pontal do Paranapanema (extremo oeste de São Paulo).
O local, que já abriga um acampamento com mais de 200 famílias, recebeu ontem cerca de 200 sem-terra, levados de ônibus de vários acampamentos.
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) diz que não deixa a fecularia, cujo arrendamento para a Cocamp (cooperativa dos sem-terra) venceu no dia 30 de março.
O dirigente Cledson Mendes disse que os acampados vão resistir. ""O pessoal está preparado, com foices, paus, pedras".
A PM tem ordem do juiz Darci Lopes Beraldo, de Pirapozinho, para desocupar a fábrica. O comandante da PM na região, major Amâncio de Camargo Filho, disse que está colhendo informações para preparar a operação.
O sem-terra Edvaldo Trindade, 54, foi morto com um golpe de faca domingo à noite no acampamento que fica na área da Larreina.
O acusado, cujo nome não foi revelado pela polícia, está foragido. O delegado Marco Antonio Scaliante Fogolin disse que a família prometeu que ele vai se entregar.
O crime não tem conotação política, diz a polícia, que trabalha com hipóteses de vingança, queima de arquivo e legítima defesa.

Marabá
Cerca de 500 sem-terra ligados ao MST e à Fetagri (Federação dos Trabalhadores na Agricultura) montaram ontem um acampamento em frente à sede do Incra de Marabá.
Os manifestantes reivindicam a desapropriação de mais de 130 áreas invadidas nos últimos seis anos por cerca de 25 mil pessoas. Eles pretendem ainda discutir a criação de novos assentamentos e a liberação de recurso financeiro para os já assentados.
Segundo o coordenador estadual do MST, Eurival Martins, são esperados até a quarta-feira cerca de 10 mil pessoas no acampamento, representantes de 400 sindicatos e associações.
Martins, no entanto, disse que os sem-terra estão tendo dificuldades para chegar ao Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) por causa das barreiras da Polícia Militar nas saídas das cidades e na entrada de Marabá. ""Eles estão tomando tudo de nós", disse o sem-terra.
O tenente-coronel Edir Carvalho, do Comando Regional do Sul do Pará, disse que as barreiras são de rotina e estão parando os veículos irregulares e caminhões transportando pessoas nas caçambas.
Ele admitiu que os sem-terra estão sendo revistados e os facões e foices apreendidos. ""Eles não podem entrar na cidade com armas brancas", disse Carvalho.
Algumas destes manifestantes devem se unir às 800 famílias acampadas na praça da Leitura, em Belém, desde 16 de abril.


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