São Paulo, domingo, 27 de maio de 2007

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Zuleido é conhecido por discrição e obsessão com o trabalho

Jaques Wagner (PT), que usou a lancha do empreiteiro, define o dono da Gautama como "arrojado", "pró-ativo" e "vigoroso" em suas investidas profissionais

SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

O empreiteiro Zuleido Veras, 62, tem uma obsessão ocupacional, o trabalho; uma pessoal, o misticismo; e uma terceira que serve como norte de sua atuação empresarial, o lucro.
Quem o conhece diz que o obcecado Zuleido desfruta pouco das benesses conquistadas com o dinheiro ganho nos últimos 20 anos, na construtora OAS e depois na Gautama, que fundou há 12 anos.
Zuleido pouco aproveita a lancha "Clara", avaliada em R$ 2 milhões. Costuma oferecê-la a quem deseja agradar, como em novembro passado, quando Jaques Wagner (PT), recém-eleito governador da Bahia, passou um domingo no mar, na companhia de parentes e da ministra Dilma Rousseff.
Na casa de R$ 4,5 milhões no condomínio Encontro das Águas (região metropolitana de Salvador), ele pouco fica. Durante a semana vai a São Paulo ou Brasília. Quando está em casa, joga tênis em sua quadra particular. Não usa o campo de futebol. Prefere emprestá-lo a amigos, como em 18 de março.
Naquela noite, após show em Salvador, o cantor Chico Buarque rumou para o condomínio a fim de jogar futebol, como sempre faz em suas turnês.
A assessoria do artista informou que ele não conhece Zuleido. Foi lá a convite dos produtores do espetáculo na Bahia. Ainda segundo a assessoria, as partidas foram disputadas no campo do condomínio.
Em vez de futebol ou música, orações. Zuleido é místico. Budista, batizou sua empresa de Gautama, o segundo nome de Buda -Sidarta Gautama. Na casa, há um templo para rezas. O misticismo remonta à infância, em sua cidade natal, Cacimba de Areia (PB). Lá, se afeiçoou a procissões, missas, ao culto a padre Cícero (1844-1934) e a frei Damião (1898-1997).
Apesar de ter deixado o lugar "ainda rapazote", como conta o prefeito Inácio Roberto de Campos (PMDB), Zuleido visita os irmãos e o pai, Antônio Veras, 93, prefeito da cidade duas vezes, proprietário rural.
O irmão Dimas também foi preso pela PF. Até o início do ano ele ainda vivia em Cacimba de Areia, onde em 2000 disputou e perdeu pelo PFL (hoje DEM) a eleição para a prefeitura. Mais sorte teve outro irmão, Florisvaldo, prefeito nos anos 80. "Dimas decidiu ir atrás do irmão rico e se lascou todo", disse o prefeito à Folha.
Para o publicitário Guilherme Sodré Martins, o amigo Zuleido não pensa em nada que não seja sua atividade empresarial. "O nome dele é trabalho." Já Jaques Wagner usa, com cuidado, adjetivos na tentativa de definir o empreiteiro, a quem diz conhecer muito pouco: "arrojado" e "pró-ativo" nas investidas profissionais.
Em Salvador, Zuleido tem a fama de, nos raros encontros sociais, falar sempre o mesmo: "Neste ano quero faturar tanto". As gravações da PF mostram que ele dá ordens sem preâmbulos e que não gosta de telefonema longo. Os diálogos duram um minuto em média. Com políticos, é gentil. Trata todos bem. Define-se como suprapartidário. Em datas como o Natal, distribui presentes.
É casado com Jane, sócia na fundação da Gautama. O casal tem dois filhos: Rodolpho, preso com o pai, e Maria Clara.


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