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Zuleido é conhecido por discrição e obsessão com o trabalho
Jaques Wagner (PT), que usou a lancha do empreiteiro, define o dono da Gautama como "arrojado", "pró-ativo" e "vigoroso" em suas investidas profissionais
SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR
LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR
O empreiteiro Zuleido Veras,
62, tem uma obsessão ocupacional, o trabalho; uma pessoal,
o misticismo; e uma terceira
que serve como norte de sua
atuação empresarial, o lucro.
Quem o conhece diz que o
obcecado Zuleido desfruta
pouco das benesses conquistadas com o dinheiro ganho nos
últimos 20 anos, na construtora OAS e depois na Gautama,
que fundou há 12 anos.
Zuleido pouco aproveita a
lancha "Clara", avaliada em
R$ 2 milhões. Costuma oferecê-la a quem deseja agradar, como em novembro passado,
quando Jaques Wagner (PT),
recém-eleito governador da
Bahia, passou um domingo no
mar, na companhia de parentes
e da ministra Dilma Rousseff.
Na casa de R$ 4,5 milhões no
condomínio Encontro das
Águas (região metropolitana de
Salvador), ele pouco fica. Durante a semana vai a São Paulo
ou Brasília. Quando está em casa, joga tênis em sua quadra
particular. Não usa o campo de
futebol. Prefere emprestá-lo a
amigos, como em 18 de março.
Naquela noite, após show em
Salvador, o cantor Chico Buarque rumou para o condomínio
a fim de jogar futebol, como
sempre faz em suas turnês.
A assessoria do artista informou que ele não conhece Zuleido. Foi lá a convite dos produtores do espetáculo na Bahia.
Ainda segundo a assessoria, as
partidas foram disputadas no
campo do condomínio.
Em vez de futebol ou música,
orações. Zuleido é místico. Budista, batizou sua empresa de
Gautama, o segundo nome de
Buda -Sidarta Gautama. Na
casa, há um templo para rezas.
O misticismo remonta à infância, em sua cidade natal, Cacimba de Areia (PB). Lá, se afeiçoou
a procissões, missas, ao culto a
padre Cícero (1844-1934) e a
frei Damião (1898-1997).
Apesar de ter deixado o lugar
"ainda rapazote", como conta o
prefeito Inácio Roberto de
Campos (PMDB), Zuleido visita os irmãos e o pai, Antônio
Veras, 93, prefeito da cidade
duas vezes, proprietário rural.
O irmão Dimas também foi
preso pela PF. Até o início do
ano ele ainda vivia em Cacimba
de Areia, onde em 2000 disputou e perdeu pelo PFL (hoje
DEM) a eleição para a prefeitura. Mais sorte teve outro irmão,
Florisvaldo, prefeito nos anos
80. "Dimas decidiu ir atrás do
irmão rico e se lascou todo",
disse o prefeito à Folha.
Para o publicitário Guilherme Sodré Martins, o amigo Zuleido não pensa em nada que
não seja sua atividade empresarial. "O nome dele é trabalho." Já Jaques Wagner usa,
com cuidado, adjetivos na tentativa de definir o empreiteiro,
a quem diz conhecer muito
pouco: "arrojado" e "pró-ativo"
nas investidas profissionais.
Em Salvador, Zuleido tem a
fama de, nos raros encontros
sociais, falar sempre o mesmo:
"Neste ano quero faturar tanto". As gravações da PF mostram que ele dá ordens sem
preâmbulos e que não gosta de
telefonema longo. Os diálogos
duram um minuto em média.
Com políticos, é gentil. Trata
todos bem. Define-se como suprapartidário. Em datas como
o Natal, distribui presentes.
É casado com Jane, sócia na
fundação da Gautama. O casal
tem dois filhos: Rodolpho, preso com o pai, e Maria Clara.
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