|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JANIO DE FREITAS
O país dos pinóquios
Tudo o que o governo brasileiro diga na reunião da
ONU em Genebra, ontem iniciada para verificar o que os
países fizeram do seu compromisso de promover melhorias
sociais, não requer mais do que
uma singela reportagem para
desmoronar como um amontado de inverdades.
A delegação dos pinóquios deveria prestar contas de cinco
anos, ou seja, desde 95. Ou desde
que coincidiram, no tempo, o
início do governo Fernando
Henrique Cardoso e a Cúpula
para o Desenvolvimento Social.
Ou desde que o governo brasileiro passou a cortar pela raiz as
verbas introduzidas no Orçamento e, portanto, aprovadas
pelo Congresso, para finalidades sociais.
Nada pode exprimir melhor o
tratamento dado a problemas
sociais do que as verbas para assistência à infância. Chegamos
à metade do ano e o Departamento da Criança e do Adolescente continua esperando a liberação de suas verbas orçamentárias, como demonstrou Gabriela Athias, em discreta reportagem na Folha de domingo.
Dos R$ 19,6 milhões nominalmente destinados à ação sobre a
marginalidade infanto-juvenil e
à proteção de crianças e adolescentes, encargo do Ministério da
Justiça, foram aplicados cerca
de R$ 80 mil, ou 0,4% da verba
prevista no Orçamento.
Dois indicadores muito oportunos, quando a violência urbana voltou a ser assunto em moda. As verbas aplicadas contra a
criminalidade de adolescentes e
crianças foram cortadas em
75%, anos 98-99. As ocorrências
desse tipo aumentaram, no
mesmo período, 113%. Nada
mais é preciso para provar a responsabilidade do governo federal no aumento da delinquência
de menores, essa multidão que
dominou as calçadas e praças,
com os assaltos indiferentes à
quantidade de transeuntes.
Em outra coincidência, o recente ministro da Justiça, José
Gregori, era o titular da Secretaria de Direitos Humanos, à qual
está afeto o Departamento da
Criança e do Adolescente tão
acomodado em sua miséria, como na dos meninos e adolescentes de que deveria cuidar.
Para relatar a obra social de
Fernando Henrique Cardoso e
Pedro Malan, comparando-a ao
compromisso de prioridade social assumido em 95, não é preciso demonstrar a destruição da
universidade, o encarecimento
dos serviços públicos privados
para a população pobre, a farsa
do ensino elementar, as batalhas de José Serra por verbas para a saúde, o desemprego escandaloso, a aposentadoria miseranda. Uma reportagem simples
e pequena retrataria o Brasil em
Genebra. Ou, se houvesse, em
um tribunal de Nuremberg social.
Texto Anterior: Pinotti depõe hoje sobre proposta de suborno no PAS Próximo Texto: Londrina: PFL não expulsará Belinati do partido Índice
|