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São Paulo, sexta-feira, 27 de junho de 2003

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Promotor de NY acusa empresa do caso CC-5

ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK

Um promotor de Nova York formalizou ontem acusações contra a Beacon Hill, uma das principais receptoras de dinheiro da agência do Banestado de Nova York, agora investigada por uma Comissão Parlamentar de Inquérito no Congresso brasileiro.
Robert Morgenthau, o promotor público responsável pelo distrito de Manhattan, revelou que apenas 4 de 40 contas operadas pela empresa entre 2001 e 2002 movimentaram US$ 3,2 bilhões.
No decorrer da investigação americana, a Beacon foi fechada, em 4 de fevereiro último.
Indagado por jornalista brasileiro sobre se buscava documentos que possam incriminar políticos brasileiros, a pedido de autoridades brasileiras, Morgenthau respondeu que sim.
As quatro acusações que Morgenthau formulou ontem contra a Beacon Hill focam a evasão de impostos. A empresa não tinha o registro exigido pela lei bancária nova-iorquina para receber dinheiro de fora do país e enviá-lo para outros lugares.

Fundos ilegais
"Nossa hipótese é a de que se tratavam de fundos ilegais", disse Morgenthau. Além de corrupção, disse ele, investiga-se a participação da Beacon Hill em esquemas de tráfico de drogas e terroristas -houve repasses para Riad (Arábia Saudita) e Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos).
A Beacon Hill fechou suas portas já durante as investigações, após uma busca realizada pelos oficiais em seu escritório em Manhattan. Os procuradores conseguiram congelar uma pequena parte do dinheiro que passou por suas contas: US$ 13 milhões.
A empresa recebeu dinheiro de pessoas físicas, empresas e casas de câmbio da América do Sul. O promotor não apontou quem são os responsáveis por ela.
Mas, questionado sobre nomes de brasileiros, afirmou: "Os brasileiros têm uma investigação sobre um ex-alto funcionário do governo brasileiro por receber propinas. Isso tem sido relatado extensivamente pela imprensa brasileira. Esse sujeito foi governador do maior Estado do Brasil".
Quando um jornalista da revista "IstoÉ" lhe pediu para dizer se estava se referindo ao ex-governador Paulo Maluf (PP), Morgenthau indicou o autor da pergunta a seus colegas e disse: "Ele sabe".
O assessor de Paulo Maluf, Adilson Laranjeira, disse ontem que o ex-governador não mantém ou manteve contas de pessoa física ou jurídica em bancos de Nova York. "Podem investigar à vontade. Vão confirmar que não há nada contra Maluf", disse ele.
O promotor disse ainda que trabalha em cooperação com as autoridades brasileiras que investigam o que acreditam ser a ponta inicial do caso -ou seja, a origem do dinheiro da Beacon Hill. "Autoridades brasileiras pediram nossa ajuda, e estamos dando. Conseguimos autorização judicial para dar informações."
O escritório de Morgenthau se recusou a dar detalhes da parte brasileira da investigação. Não confirmaram, por exemplo, se as quatro contas que mencionaram são as mesmas apuradas por promotores brasileiros. Também se recusaram a dizer se investigadores foram à ilha de Jersey e à Suíça, para onde teria ido parte do dinheiro que passou pelos EUA e que pertenceria a Maluf.
Promotores e policiais brasileiros suspeitam de que o Banestado tenha sido usado num esquema ilegal de envio de dinheiro do Brasil para o exterior, utilizando as chamadas contas CC-5.


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