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ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA
Lula e FHC distorcem dados ao comparar seus governos
Petista desencava juros altos da gestão do PSDB, mas não explica altas taxas atuais
Tucano acusa presidente de permitir uma valorização excessiva do real, sem citar que utilizou mesma política em seu primeiro governo
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
No primeiro duelo retórico
após a definição das candidaturas presidenciais do PT e do
PSDB, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva e seu antecessor,
Fernando Henrique Cardoso,
preteriram propostas para o futuro em favor de comparações
distorcidas entre suas gestões.
Salvo declarações genéricas
de intenções, ambos omitiram
o que acham que deve ser feito
para conter o gasto público e o
déficit da Previdência, reduzir
os juros, elevar os investimentos e o crescimento do PIB.
Culpam um ao outro pelos problemas a serem enfrentados.
Lula, que assumiu sua candidatura à reeleição no sábado,
chegou a desencavar os juros
do Banco Central de abril de
1995, sem explicar por que a taxa, em seu governo, continua a
mais alta do planeta. FHC, no
dia seguinte, acusou Lula de
permitir a valorização excessiva do real em relação ao dólar,
sem mencionar que adotou a
mesma política em seu primeiro mandato e levou o país a acumular déficits recordes nas
transações com o exterior.
Apesar de encabeçarem a
disputa pelo poder central nos
últimos 12 anos, petistas e tucanos ainda não formularam diretrizes palpáveis para o próximo governo -ou não as revelam por cálculo eleitoral. A hipótese é razoável: pelo diagnóstico da ortodoxia liberal que
conduziu os governos FHC e
Lula, o tratamento para as mazelas apontadas implica medidas polêmicas e impopulares.
A supervalorização cambial é
conseqüência dos juros altos,
que atraem capital especulativo ao país e provocam um excesso de oferta de dólares, prejudicial às exportações. E os juros altos, segundo a cartilha ortodoxa, são fabricados por um
Estado que precisa reduzir despesas -leia-se gastos sociais.
Eufemismos
Tanto Lula como o presidenciável do PSDB, Geraldo Alckmin, falam na redução de gastos, mas sempre sob eufemismos. "Dedicarei meu segundo
governo, também, para resolver uma questão difícil e delicada: a qualidade do gasto público", disse o petista, repetindo,
com outras palavras, a tese do
"choque de gestão" do tucano.
Duas estratégias já são claras
na campanha petista: reivindicar o mérito pela melhora dos
indicadores econômicos e sociais, que analistas atribuem
principalmente ao cenário internacional favorável, e insistir
na comparação com FHC.
Nos palanques, contexto e
precisão são deixados de lado.
O petista disse ter assumido o
governo com um risco-país de
"quase 2.000 pontos". Eram
1.446 pontos. Já o tucano afirmou que em seu governo a economia cresceu à mesma média
anual de 2,6% dos primeiros
três anos de Lula. Sua taxa, porém, foi de 2,3%.
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