São Paulo, quinta-feira, 27 de julho de 2000


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Leia trechos das gravações

DA REDAÇÃO

Leia a seguir trechos das fitas com conversas de Júlio Porto:

Interlocutora - Ju? Tudo bom?

Júlio Porto - Tô no meio do jantar aqui, mas tá ótimo. Tô no banheiro, aqui. Foi ótimo. E aí, como estão as coisas? Tudo tranquilo? Acho que o negócio foi ótimo. O Eduardo Jorge e o Cláudio me receberam três vezes hoje.

Interlocutora - Oopa!!

Júlio - Três vezes. Fui lá à noite, fizeram questão de eu ir lá de novo, os dois ficaram comigo mais de uma hora.

Interlocutora - Ô, que bom.

Júlio - Muito bom mesmo. Maravilha. Tô aqui com os deputados, indo para o banheiro agora. Não vou falar mais nada aqui.

Interlocutora - Nesse telefone não deve falar nada, né? Amanhã você vem que horas?

Júlio - Onde você tá?

Interlocutora - Tô aqui na Funcef, tô aqui em Brasília.

Júlio - Você já esteve com o pessoal?

Interlocutora - Que pessoal? Lá do Palácio? Vou estar agora, me atrasei pra caramba, pô.

Júlio - Ó, foi muito bom, hein?

Interlocutora - É?

Júlio - Ééé. Tanto que ele me chamou no final da tarde, ele, Eduardo... Porque eu tive com o Cláudio (Faria, chefe de gabinete de Eduardo Jorge) de manhã cedo, tá? Aí falei, expliquei tudo para o Cláudio. Depois às 4 horas da tarde eu estive normalmente com o Gadelha (Marco Aurélio Gadelha, entã presidente do fundo de pensão de Furnas) lá. Aí, antes de eu entrar, o Cláudio falou: "Julinho, o Eduardo falou para você voltar aqui às 6 horas da tarde pra conversar só com ele. Não traz o Gadelha". Aí eu voltei, às 6 horas, aí ficamos eu, ele (Eduardo Jorge) e Cláudio. Aí eu contei aquele negócio todo para ele, ele disse: "Olha, Julinho, o Eduardo Cunha é "persona non grata" ao governo, todo o mundo sabe disso. Ele não tem nenhuma chance no governo, para lugar nenhum. E já foi passado isso para o Dornelles (Francisco Dornelles, do PPB, ministro do Trabalho). Por outro lado, os deputados têm direito ao seu cargo, então esse é um problema que você tem" (...). Ele falou: "É, você tá no fio da navalha mesmo. Mas fique tranquilo que você tá com linha direta pra mim".

Interlocutor - Mas ele falou que te segura caso os deputados...

Júlio - Não, não, não senhor.

Interlocutor - Porra.

Júlio - Não. O cargo é dos deputados.

Interlocutor - Então tem que chamar os deputados para conversar então.

Júlio - Então, calma. Aí tudo bem, tudo certinho, e tal, ele disse: "Mas pode falar que o governo, Eduardo Jorge Caldas Pereira, diz que Eduardo Cunha é persona non grata no governo. Não tem nenhuma chance de nada nesse governo, e que é um lobista que tá querendo levar vantagem. Não vale porra nenhuma".

Interlocutor - A gente vai ter que arrumar uma saída pra isso.

Júlio - Tudo bem.

Interlocutor - Eu de repente falo com o Dornelles.

Júlio - Ele disse mais: "O Dornelles sabe disso, Julinho. O governo já avisou a ele que esse Eduardo Cunha é persona non grata ao governo".

Interlocutor - Eu falo com ele para segurar a bancada. Se os deputados estão seguindo a orientação dele, de repente eu falo com ele para segurar a bancada. Eu procuro o Dornelles, pô. Tá bom?

Júlio - Alô?

Interlocutor - Julinho, Marcelo.

Júlio - Ô, rapaz, cê vai bem?

Interlocutor - Tá passeando, vendo o Fernando Henrique, não?

Júlio - Não, fui lá em Brasília, agora eu tô como diretor financeiro da fundação lá de Furnas...

Interlocutor - Que beleza!

Júlio - E eu tive que ir lá em Brasília pra ir na (ininteligível) e no Eduardo Jorge.

Interlocutor - E aí?

Júlio - Tudo bem, sem problema nenhum.

Júlio - O jantar foi tranquilo. Fui chamado pela terceira vez no Palácio. Resumindo, Manoel, é o seguinte: o Eduardo Cunha é "persona non grata" ao governo (...)

Interlocutor - Mas e os deputados?

Júlio - Os deputados, não. "Você tente agradar os deputados, dentro das suas possibilidades. Tente fazer o que possa ser feito, dentro das possibilidades".

Interlocutor - Se ele (Eduardo Cunha) pressionar os deputados para pressionarem a sua cabeça?

Júlio - Se eles pressionarem muito, eu acabo sendo cortado. Mas ele (Eduardo Jorge) falou: "Julio, eles não são malucos. Se fizerem isso, esse cargo acabou. Eles não botam mais ninguém lá".

Interlocutor - Perfeito.

Júlio - Outra coisa. Ele disse o seguinte: "Eu vou chamar aqui o Cunha Lima e o Francisco Silva (deputados federais do PPB que tinham indicado Porto) para dizer que eu não quero o Eduardo Cunha na jogada.

Interlocutor - Se houver muita pressão, ele não segura a sua cabeça.

Júlio - (...) Ele falou: "Durante dois, três meses, você vai ficar mesmo no fio da navalha. Mas eu garanto que eu tô te apoiando. Eu não quero, porra, eu quero um cara de minha confiança lá, pô! Eu tenho que ter um cara de minha confiança lá, não quero picareta nenhum lá, eu quero um cara de minha confiança. Agora, você pode, qualquer coisa, linha direta comigo. Pode me ligar. E eu vou chamar os deputados". Já mandou hoje de manhã buscar a ficha de todo o mundo que me apoiou, mandou buscar a ficha dos cargos que o Cunha Lima e o Francisco Silva já têm no governo, dado por eles, para atochar eles.

Interlocutor - Acertou os ponteiros todos?

Júlio - Quase todos. O negócio é complicadíssimo. Tive três vezes com o Eduardo Jorge.

Interlocutor - É?!

Júlio - É. Inclusive marcou no final da tarde, entre 6 e 7 pra estar comigo, sozinho, que queria conversar comigo sozinho. Contei detalhes da coisa.

Interlocutor - Ele tá do seu lado, ou não?

Júlio - Ah, totalmente. Mas deputado é deputado. Pessoalmente te conto.

Júlio - Eu tô lá há duas semanas, e não tenho certeza se vou fazer mais um dia, mais uma semana, mais um mês, nem um ano. Porque aquilo lá é totalmente político.(...)

Interlocutor - Por que você está tão preocupado?

Júlio - Não, porque tudo é político. Tudo é político. É político prá cacete.

Interlocutor - É mesmo?

Júlio - É demais. Exageradamente. Depois eu posso contar detalhes prá você.

Interlocutor - Mas você não está tendo suporte?

Júlio - Por enquanto tenho, diretamente do palácio, tá? Mas diretamente mesmo. Não tô esnobando ninguém, tô falando a verdade. Mas isso não quer dizer nada. O próprio palácio diz: se os deputados quiserem te tirar, eles te tiram. É nesse nível, a coisa. Então você não está "agradando" como eles queriam que você "agradasse", entre aspas também.(...) Eu só tenho certeza que vou durar algum tempo lá depois de uns três meses, alguma coisa assim. Porque o negócio é muito político, muito mesmo. Toda a hora você recebe recado de todo o mundo (...) Fiz a primeira mudança hoje, de um chefete meu que resolvi mudar, tá certo? Ah, se você vê o trauma que foi para fazer um negócio desses, é impressionante (...) Os políticos não é difícil agradar, não. O problema são os que ficam entre os políticos e você. Os lobistas, pra ser mais preciso. Que existem, meu caro, em cada esquina. É esse que é o problema. E aí os caras falam em nome deles e tentam te peitar por causa disso. Se você não fizer, eles derrubam você. E por aí vai.


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