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Enterro no Ceará vira protesto
ARI CIPOLA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM OCARA E REDENÇÃO (CE)
O enterro do sem-terra Francisco Aldenir Mesquita, 28, o Beni,
assassinado anteontem em Ocara
(CE), se transformou em um ato
de protesto contra a lentidão na
reforma agrária no país e a violência no campo.
Cerca de 300 sem-terra ligados
ao MST fizeram passeata e celebraram missa pelas ruas de Ocara
ontem. Eles cobraram também a
prisão dos pistoleiros responsáveis pelos tiros disparados contra
os sem-terra na manhã de anteontem na fazenda Lagoa do Serrote, episódio que deixou outras
oito pessoas feridas, seis por bala.
Durante a missa, o padre Lino
Alegre disse que "o movimento
dos sem-terra é um movimento
que Deus quer", frase repetida em
coro pelos participantes.
Até o final da tarde de ontem, a
polícia cearense não havia conseguido prender os acusados pelos
disparos.
Policiais civis chegaram a deter
o taxista que transportou por R$
100 os três pistoleiros de Ocara
para Aracoiaba. O taxista foi liberado após descrever os homens.
"A qualquer momento vamos
prendê-los", afirmou o delegado
de Redenção (CE), José Maurílio
de Oliveira, responsável pelo caso.
Reginaldo Martins Barbosa, um
dos suspeitos de ter feito os disparos contra os sem-terra por ser
dono das duas motos apreendidas na fazenda, se apresentou ontem ao delegado. Ele disse que estava viajando e que havia deixado
as motos com um parente para
que elas fossem vendidas. Ele se
submeteu a um exame residuográfico e foi liberado. Barbosa é
primo de Francisco de Assis Barbosa, o Pantico, um dos pistoleiros mais famosos do Ceará.
O delegado afirmou que ainda
não tem a convicção da participação, como mandante, da proprietária da fazenda, Jacinta Abreu de
Souza, 78, que foi presa em flagrante anteontem acusada de ter
favorecido o crime por ter contratado homens para fazer a "segurança" da propriedade.
"Vou deixar para a Justiça definir se a fazendeira é mandante ou
não. Hoje tenho elementos para
garantir que ela favoreceu a ocorrência do crime e mantê-la presa", afirmou o delegado.
A fazendeira disse à polícia que
contratou os três homens para
que eles fizessem a segurança dos
funcionários que escalou para refazer a cerca pela qual os sem-terra entravam em sua fazenda "para
depredar e roubar".
O episódio aconteceu na manhã
de anteontem, quando as 30 famílias sem terra que moram em um
acampamento do Incra ao lado da
fazenda se preparavam para participar de missa em homenagem
ao Levante do Campo. A fazenda
de Jacinta está em processo de desapropriação.
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