São Paulo, quinta-feira, 27 de julho de 2000


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Enterro no Ceará vira protesto

ARI CIPOLA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM OCARA E REDENÇÃO (CE)

O enterro do sem-terra Francisco Aldenir Mesquita, 28, o Beni, assassinado anteontem em Ocara (CE), se transformou em um ato de protesto contra a lentidão na reforma agrária no país e a violência no campo.
Cerca de 300 sem-terra ligados ao MST fizeram passeata e celebraram missa pelas ruas de Ocara ontem. Eles cobraram também a prisão dos pistoleiros responsáveis pelos tiros disparados contra os sem-terra na manhã de anteontem na fazenda Lagoa do Serrote, episódio que deixou outras oito pessoas feridas, seis por bala.
Durante a missa, o padre Lino Alegre disse que "o movimento dos sem-terra é um movimento que Deus quer", frase repetida em coro pelos participantes.
Até o final da tarde de ontem, a polícia cearense não havia conseguido prender os acusados pelos disparos.
Policiais civis chegaram a deter o taxista que transportou por R$ 100 os três pistoleiros de Ocara para Aracoiaba. O taxista foi liberado após descrever os homens.
"A qualquer momento vamos prendê-los", afirmou o delegado de Redenção (CE), José Maurílio de Oliveira, responsável pelo caso.
Reginaldo Martins Barbosa, um dos suspeitos de ter feito os disparos contra os sem-terra por ser dono das duas motos apreendidas na fazenda, se apresentou ontem ao delegado. Ele disse que estava viajando e que havia deixado as motos com um parente para que elas fossem vendidas. Ele se submeteu a um exame residuográfico e foi liberado. Barbosa é primo de Francisco de Assis Barbosa, o Pantico, um dos pistoleiros mais famosos do Ceará.
O delegado afirmou que ainda não tem a convicção da participação, como mandante, da proprietária da fazenda, Jacinta Abreu de Souza, 78, que foi presa em flagrante anteontem acusada de ter favorecido o crime por ter contratado homens para fazer a "segurança" da propriedade.
"Vou deixar para a Justiça definir se a fazendeira é mandante ou não. Hoje tenho elementos para garantir que ela favoreceu a ocorrência do crime e mantê-la presa", afirmou o delegado.
A fazendeira disse à polícia que contratou os três homens para que eles fizessem a segurança dos funcionários que escalou para refazer a cerca pela qual os sem-terra entravam em sua fazenda "para depredar e roubar".
O episódio aconteceu na manhã de anteontem, quando as 30 famílias sem terra que moram em um acampamento do Incra ao lado da fazenda se preparavam para participar de missa em homenagem ao Levante do Campo. A fazenda de Jacinta está em processo de desapropriação.


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