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LOBBY INTERNACIONAL
Nos anos 70, Raytheon foi derrotada
Vencedora do Sivam já teve ajuda do governo dos EUA contra franceses
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
A disputa entre fornecedores
americanos e franceses pelo sistema de controle de tráfego aéreo
no Brasil dura três décadas, marcadas por lobby intenso e pela interferência dos dois governos em
defesa de suas empresas.
Nesta semana, a Folha revelou
que espionagem do governo dos
EUA e a ajuda de um militar brasileiro garantiram à companhia
norte-americana Raytheon a conquista do Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia), projeto de
US$ 1,4 bilhão de proteção da região que foi inaugurado anteontem. Sua principal concorrente foi
a francesa Thomson-CSA.
Nos anos 70, a Raytheon e o governo francês disputaram um
contrato com a Aeronáutica.
Para tentar vencer os franceses
em 1971, a Raytheon contou com
a ajuda de um astronauta, William Anders -integrante da
missão Apollo 8, a primeira a entrar em órbita da Lua, em 1968.
Em 1971, às vésperas da visita do
presidente Emílio Garrastazu Médici a Washington, Anders, que
deixara a Nasa e trabalhava como
assessor da Casa Branca, tentou
convencer o presidente Richard
Nixon a pressionar o governo
brasileiro a contratar a Raytheon
para instalar o Cindacta (Centro
Integrado de Defesa e Controle de
Tráfego Aéreo).
Anders fez chegar às mãos de
Henry Kissinger, assessor de segurança nacional da Casa Branca,
um apelo para que Nixon pressionasse Médici em favor dos americanos. O documento foi entregue
à Kissinger por Robert Finch, secretário de Saúde dos EUA.
"Creio que o senhor tem conhecimento do fato de que os brasileiros estão ativamente engajados
na aquisição de um sistema de
controle de tráfego aéreo para a
região do triângulo formado pelo
Rio, São Paulo e Brasília", escreveu o astronauta. "A empresa
Raytheon está em concorrência
acirrada com os franceses pelo
contrato, que vale US$ 60 milhões, valor este que provavelmente vai aumentar para entre
US$ 300 milhões e US$ 500 milhões ao longo dos próximos dez
anos".
Anders informa à Casa Branca
que os franceses pareciam levar
vantagem na proposta até então,
mas que as coisas haviam mudado com a demissão do ministro
da Aeronáutica, o marechal-do-ar Márcio de Sousa e Melo, substituído na pasta pelo tenente-brigadeiro Joelmir Campos de Araripe
Macedo.
No Brasil, os motivos da demissão de Marcio Melo ainda são nebulosos. Alguns a creditam à crise
irrompida na Aeronáutica após o
assassinato do militante esquerdista Stuart Edgard Angel Jones,
acusado de vinculação a grupos
armados. No entanto, para Anders, a demissão de Melo resultou
da "nuvem de desconfiança envolvendo suas relações com interesses franceses na venda do caça
supersônico Mirage III".
Anders acreditava que chegara
a hora de os EUA vencerem, mas
os franceses levaram o Cindacta.
Os EUA vieram a ter sua chance
trinta anos depois, com o Sivam.
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