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São Paulo, domingo, 27 de julho de 2003

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Cidade em SC escapa do desemprego graças ao crescimento da Sadia, empregadora de 4.800 pessoas no município

Concórdia prospera à sombra de frigorífico

WILSON SILVEIRA
ENVIADO ESPECIAL A CONCÓRDIA (SC)

O ex-lavrador Vitorio Galeazzi trabalhava havia dois anos no frigorífico Trasmontana, em Guaporé (RS), quando a empresa faliu em junho de 1944. As máquinas e equipamentos do frigorífico foram vendidas para Atílio Fontana, que os levou para Concórdia (SC), a 300 km de distância, onde fundou a Sadia -hoje uma das maiores agroindústrias do país. Galeazzi, hoje com 81 anos, foi o primeiro funcionário da Sadia. Contratado por Fontana aos 22 anos de idade, colocou tudo que tinha em uma mala e a jogou em cima do caminhão que levava as máquinas do frigorífico falido. "Não havia nada em Concórdia", lembra. Hoje, em contraste com a maior parte do país, o próspero município de Concórdia, no oeste de Santa Catarina, vive situação privilegiada em termos de ocupação de mão-de-obra, tanto na zona rural como na urbana. Não há pesquisa oficial recente sobre o desemprego na cidade, mas o prefeito Neodi Saretta (PT) calcula entre 2.000 e 3.000 o número de desempregados, de uma população de 65 mil. Em grande parte, o sucesso de Concórdia se deve ao crescimento da Sadia, que emprega 4.800 pessoas na cidade. Dependem diretamente da empresa cerca de 20 mil pessoas, ou seja, quase um terço da população local. Há ainda os empregos indiretos. Por exemplo: há na cidade 94 empresas proprietárias de 185 caminhões frigorificados que trabalham para a Sadia, e 31 empresas donas de 47 caminhões de transportes de ração que prestam serviços para essa agroindústria. Além disso, há a ocupação de mão-de-obra na zona rural. Segundo o prefeito, Concórdia possui 3.500 propriedades rurais, todas de pequeno porte. Segundo a Sadia, desse total, 1.100 proprietários estão envolvidos na criação de frangos para a empresa, e 800 na criação de suínos. A Sadia inaugurou no Brasil o sistema integrado de produção. A empresa entra com assistência técnica, insumos, material genético e assistência veterinária, e o produtor com instalações, equipamentos e mão-de-obra. No caso do frango, por exemplo, a Sadia distribui diariamente cerca de 250 mil pintos no primeiro dia de vida para serem criados em fazendas integradas e os recolhe 35 a 40 dias depois para o abate. Esse sistema é muito criticado pelo presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul, Altemir Tortelli. Para ele, nesse modelo a renda fica toda concentrada na agroindústria, enquanto o agricultor se torna um operário sem carteira assinada, ficando alienado do processo produtivo. "É uma relação selvagem de domínio absoluto", disse. Segundo ele, os agricultores optam pela integração em nome da estabilidade -ter um comprador para seus produtos e serviços. Tortelli reconhece a importância da Sadia para o crescimento de Concórdia, mas disse que outras cidades, como Chapecó, se desenvolveram sem que houvesse por trás uma grande agroindústria. Com ou sem exploração de mão-de-obra, Concórdia prosperou junto com a Sadia, hoje presente em sete Estados, com 12 unidades de produção. A história de Vitorio Galeazzi é ilustrativa: saiu do nada, com pouca instrução e quase nenhuma qualificação profissional, trabalhou na empresa por 40 anos, criando cinco filhos, dois deles com cursos de pós-graduação, inclusive no exterior. Um deles, Antônio Carlos, 41, trabalha há 25 anos na Sadia, onde é gerente de granjas. Hoje, Galeazzi é aposentado, recebendo R$ 1.150 de um fundo privado e R$ 1.090 do INSS. Questionado sobre a reforma da Previdência do governo Lula, ele pede aos congressistas que deixem de "lengalenga" e aprovem a proposta do presidente, "que é um homem bem-intencionado". Os agricultores de Concórdia também produzem leite -cerca de 150 mil litros por dia, que vendem para grandes empresas, como Parmalat e Batavo. O prefeito, que ganhou em 2002 o prêmio Gestão Fiscal Responsável, disse que a força do município está na agricultura familiar e em cooperativas agrícolas. Deputado federal e senador, Atílio Fontana, morto em 1989, é avô do ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, natural de Concórdia, que se licenciou da presidência do conselho de administração da Sadia para assumir o ministério.


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