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Crises de choro marcam depoimento
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A instituição da família e a figura da dona-de-casa foram utilizadas ontem como uma espécie de
salvo-conduto por Renilda Santiago, na CPI dos Correios, para
tentar se dissociar dos negócios
do marido, o publicitário Marcos
Valério Fernandes de Souza, e
amenizar o questionamento dos
parlamentares.
A personagem frágil, que chorou por cinco vezes, não foi a tônica de todo o depoimento. Ela
também enfrentou parlamentares
e disse que se tornou "um pouco
leoa" para defender sua família,
principalmente os dois filhos, depois que o nome de Valério apareceu no escândalo do "mensalão".
Renilda reclamou muito da exposição e da falta de privacidade
que diz estar sofrendo e afirmou
que teve depressão. "Minha família está desmoronando."
Apesar de ser sócia das agências
de publicidade DNA e SMPB, Renilda afirmou que não participa
das atividades das empresas. "Dei
uma procuração a meu marido,
como muitas mulheres no Brasil
fazem. Se casou, você confia, ama
e passa a ser do lar", disse, ressaltando que não se arrepende da
opção. Ela disse conviver com Valério há 25 anos -sete de namoro
e 18 de casamento.
Abrindo a bateria de perguntas,
a senadora Heloísa Helena
(PSOL-AL) tentou desconstruir o
mundo à parte criado pela depoente e disse que a CPI não estava interessada na sua vida doméstica, e sim nas relações de seu marido com o governo e com partidos políticos.
"Algumas mulheres se satisfazem em ser do lar, mas para outras esse não é o caminho da felicidade. Até porque o lar é um tormento, é um trabalho repetitivo e
doloroso", disse a senadora.
Renilda apresentou à CPI dois
mundos: o de casa, onde não permite reuniões de negócios, e o das
agências de publicidade das quais
é sócia mas não sabe nem a "cor
do tapete", segundo ela, que também disse não gostar de política.
"Sou extremamente apolítica.
Não lembro nem do deputado
que votei na última eleição."
Formada em pedagogia, Renilda chegou a trabalhar no Bemge
(Banco do Estado de Minas Gerais) mas encerrou a carreira ao
ter o primeiro filho. Ela disse, no
entanto, se arrepender de ter ficado "tão alheia" ao que acontecia
em suas próprias agências.
Parlamentares tentaram convencer Renilda a entregar o próprio marido: "A senhora só se libertará e libertará seus filhos
quando toda a verdade aparecer",
disse o deputado Antônio Carlos
Magalhães Neto (PFL-BA).
Chegou-se a sugerir que a sessão passasse a ser fechada para
que ela pudesse fazer revelações.
"A verdade que eu tenho a declarar estou declarando aqui na frente de todos", disse ao deputado
Onyx Lorenzoni (PFL-RS).
Ela chorou pela primeira vez ao
ser pressionada pelo senador César Borges (PFL-BA). O raciocínio
era de que não seria possível ela
não saber dos negócios de Valério
e que, neste caso, teria sido vítima
dele. "Eu estava com depressão,
não saía do quarto, então não ficava perguntando as coisas que
via na televisão", disse ela.
As lágrimas voltaram quando
Renilda reclamou da falta de privacidade e de segurança decorrentes da exposição pública da família. Na terceira vez que chorou,
depois de um embate com o deputado Alberto Fraga (PTB-SP),
ela teve que sair da sala.
Contrariada com a agressividade de Fraga, ela reclamou que
suas perguntas eram repetitivas.
"Estou bem cansada de responder
às mesmas perguntas. Já respondi
isso quatro ou cinco vezes."
Esse não foi o único atrito do
depoimento. O deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) queria o
número do telefone celular de
Marcos Valério. Ela disse que, por
não saber de cor, encaminharia à
Mesa Diretora depois. "Eu quero
agora!", pressionava ele. Renilda
foi socorrida pelo presidente da
CPI, senador Delcídio Amaral
(PT-MS). "Não entendo essa proteção à depoente", insistiu ele.
No final da sessão, Renilda voltou a se emocionar e não conseguia parar de chorar. O depoimento, que durou cerca de oito
horas, foi encerrado com o questionamento do deputado Moroni
Torgan (PFL-CE). Ele fez um apelo "à mãe Renilda" em nome da
"história que vai deixar para seus
filhos". "Essa é sua chance de virar a mesa", disse, provocando o
quinto e último choro.
Delcídio encerrou a sessão visivelmente irritado. Ele já havia feito pedidos "em nome da humanidade" para poupar Renilda, e teve
o apoio do relator, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). "Você
extrai da pessoa até o limite do
possível, depois disso é tortura",
disse Serraglio.
Eles ainda ouviram protestos do
deputado Pompeu de Mattos
(PDT-RS). "A Fernanda Karina
[ex-secretária de Valério] agüentou e olha que foi chamada de tudo. Funcionária pobre tem que
agüentar. Madame não precisa?",
reclamou.
(FK, LS e CG)
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