São Paulo, quarta-feira, 27 de julho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/HORA DAS PROVAS

Parlamentares acham que documentos referentes a retiradas de R$ 11,8 milhões podem ter sido adulterados pelo Banco Rural

CPI suspeita de saques sem identificação

MARTA SALOMON
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A CPI dos Correios detectou pelo menos R$ 11,8 milhões de saques sem identificação nas contas das empresas do publicitário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza no Banco Rural.
Parlamentares levantaram a hipótese de ter ocorrido uma filtragem nos documentos enviados à comissão e devem discutir hoje a possibilidade de uma operação de busca e apreensão no banco, sediado em Belo Horizonte (MG).
Também deverá ser discutida hoje a hipótese de pedir a prisão preventiva de Marcos Valério, sob acusação de supostamente destruir documentos fiscais para prejudicar as investigações.
O valor de R$ 11,8 milhões corresponde a uma amostra de 50 operações cujo destino ainda não foi esclarecido. Parlamentares de oposição e de governo concordaram que há indícios de que documentos foram manipulados de forma a não identificar os beneficiários das operações.
Segundo integrantes da comissão que analisaram os documentos, há sinais de que grampos foram retirados da ponta superior esquerda dos papéis, o que indicaria a retirada de outros papéis que poderiam mostrar o destino do dinheiro.
"Está absolutamente claro que houve adulterações nos documentos", disse o deputado federal Jorge Bittar (PT-RJ). "Há sinais de que vários documentos foram despregados. Tiraram antes de mandar para cá", afirmou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR). O senador afirmou que cada operação deveria ser acompanhada do "fac-símile do cheque e do documento de identidade do sacador".
O Banco Rural informou, em repetidas vezes na semana passada, que atendeu a todos os requerimentos feitos pela CPI e não escondeu ou omitiu nenhum papel. Segundo a assessoria do banco, pode estar havendo uma interpretação equivocada da documentação bancária.
Delcídio Amaral (PT-MS), presidente da CPI, também negou ontem que haja adulteração e omissões nas informações de transferências bancárias do Banco Rural para ocultar nomes.

Créditos
A CPI revelou ontem a primeira parcial de depósitos realizados pelas empresas de telefonia Telemig Celular, Amazônia Celular e Brasil Telecom, controladas pelo banqueiro Daniel Dantas, na conta da DNA Propaganda no Banco do Brasil. Entre 2003 e 2005, as três empresas depositaram R$ 61,9 milhões na conta da DNA.
A segunda maior depositante na conta da DNA é a Companhia Brasileira de Meios de Pagamento, cuja marca registrada é a Visanet, empresa de cartão de crédito criada em 1995 a partir da associação entre o Banco do Brasil, Bradesco e Banco Real. A companhia depositou R$ 44 milhões.
Outra empresa, a Fiat Automóveis, depositou ao menos R$ 4,6 milhões na conta da DNA. O Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) considera essas operações como "atípicas".
A assessoria de comunicação da Telemig Celular e Amazônia Celular informou ontem que todos os depósitos na DNA são referentes a gastos com publicidade. As empresas são clientes de Valério.
A Construtora Norberto Odebrecht aparece nos registros com pelo menos R$ 400 mil. Já a Olgivy tem um depósito nas contas da DNA de R$ 51,591 mil.


Texto Anterior: Sacadora fica em terreno baldio
Próximo Texto: Outro lado: Empresas afirmam que pagaram por serviços de agência de Valério
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.