São Paulo, quarta-feira, 27 de julho de 2005

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Empresa indicada pela CPI dos Correios como beneficiada com dinheiro de Valério fica em terreno baldio de Santana do Parnaiba

Sacadora fica em terreno baldio

CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Registrado na Receita Federal como o endereço da Guaranhuns Empreendimentos, Intermediações e Participações, o número 38 da rua Nelson Piccinini Miguel, em Santana do Parnaíba (São Paulo), é um terreno baldio, usado por crianças como campo de futebol. Erguidas, somente as duas estacas de madeira que improvisam as traves.
É lá que, oficialmente, funciona a empresa, beneficiada com mais de R$ 6 milhões saídos das contas do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza em 2003.
Segundo recentes revelações à CPI dos Correios, a empresa fez saques vultosos no Banco Rural. Mas, no suburbano bairro de Jardim Frediane, ninguém conhece seu nome. "Na semana passada, um homem esteve aqui atrás dessa Guaranhuns. Veio sozinho. Mas essa empresa não existe", estranhou Edson Giglio, 46 anos, oito deles na Nelson Piccinini.
Ele lembra ainda que há cerca de três meses um motoboy perguntou pela empresa, à qual deveria entregar envelopes.
Morador da casa de número 55, Giglio, teoricamente, teria vista para a Guaranhuns. Mas não há construção no lado par da rua, que encerra uma ladeira ainda em chão de cascalho. Sem infra-estrutura, a continuação da rua é uma trilha de terra.
Na rua existem apenas cinco casas, além do campo cercado por mato e barranco. Giglio também diz desconhecer José Carlos Batista, apontado por integrantes da CPI como um dos responsáveis pela empresa. "Um vizinho se chama José Carlos. Mas é motorista de ônibus."
Segundo parlamentares que tiveram acesso aos documentos da Guaranhuns, José Carlos Batista era o responsável pela empresa.
O endereço residencial declarado nos documentos é um apartamento num prédio do bairro Santa Terezinha, em Santo André (Grande São Paulo).
No edifício, até a mulher, Maria Tereza, diz ignorar seu destino. "Somos divorciados. Ele deve estar viajando", disse ela, sem mostrar estranheza ao ser informada sobre os saques da empresa pela qual Batista seria responsável. "Não vou declarar nada sobre o assunto", repetiu.
Maria Tereza insistiu que não vive mais com Batista, contrariando registros oficiais, anotações do condomínio, a versão de vizinhos e a do próprio porteiro.
O edifício fica cercado de casas de famílias cuja renda é incompatível com a de um empresário que movimente R$ 6 milhões. Os vizinhos afirmam que a família tem dois carros: um Gol e um Fiat.
Após ser abordada pela Folha, Maria Tereza pediu que informassem, na portaria, que acabara de viajar.


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