São Paulo, quarta-feira, 27 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/HORA DAS PROVAS

Recursos podem ter chegado a R$ 1,6 milhão; agência não cita valores nem nomes

Campanha tucana de 98 já recebia recursos via SMPB

CHICO DE GOIS
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

A SMPB, agência do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, transferiu pelo menos R$ 1,9 milhão para campanhas de mais de 80 políticos mineiros em 1998, a maioria ligada à candidatura do então candidato a governador do PSDB, Eduardo Azeredo. Documentos obtidos pela Folha demonstram que os depósitos saíram de contas da SMPB no Banco Rural e no BCN, incorporado, anos depois, pelo Bradesco.
Dos R$ 1,8 milhão, R$ 1,1 milhão foram DOCs (Documentos de Ordem de Crédito) do BCN para contas correntes de diversos candidatos. As transferências ocorreram em 22 de outubro de 1998. Os R$ 800 mil restantes saíram do Banco Rural em 28 de setembro de 1998. Uma carta da SMPB datada de 1º de outubro daquele ano autorizou a transferência de R$ 95 mil da conta corrente da empresa para cinco contas de políticos em diversos bancos. São dois pagamentos de R$ 30 mil, dois de R$ 10 mil, e um de R$ 15 mil.
Entre os candidatos beneficiados pelos depósitos da empresa de Marcos Valério está o deputado federal Custódio de Mattos (PSDB-MG). Ele recebeu R$ 20 mil, em outubro. Outro que também foi agraciado com recursos da SMPB para sua campanha foi o deputado Eduardo Barbosa. Ele foi destinatário de um depósito de R$ 10 mil na conta corrente de sua irmã, Elma Barbosa de Araújo.
Outros ex-deputados, que hoje ocupam cargos na administração do governador Aécio Neves (PSDB), também foram contemplados, entre eles Amilcar Martins, presidente da Fundação João Pinheiro, que recebeu R$ 6 mil para sua candidatura a deputado estadual. Ele não foi localizado pela Folha para falar sobre o assunto. Outros ex-parlamentares da Assembléia Legislativa de Minas também se beneficiaram.
Os dois parlamentares confirmaram o recebimento das doações por intermédio de caixa 2 e disseram que os recursos vieram por meio da campanha de Eduardo Azeredo (PSDB) ao governo de Minas Gerais.
"Eu acertei com a coordenação um valor e chegaram os R$ 25 mil, muito inferior ao orçamento que havia mandado", disse Custódio de Mattos, esclarecendo que o dinheiro foi para sua conta pessoal "porque era uma relação de confiança" com a coordenação.
Ele disse que, na coordenação, falava com Clésio Andrade (PL), então candidato a vice-governador de Azeredo e atual vice-governador de Aécio Neves (PSDB).
De acordo com a edição do jornal "O Globo" de ontem, Marcos Valério adotou, em 1998, com o PSDB e o PFL, um esquema semelhante ao desenvolvido com o PT a partir de 2003 -empréstimos em bancos e repasses do dinheiro para políticos. A DNA, em 1998, contraiu um empréstimo de R$ 11,7 milhões no Banco Rural, cujo saldo foi liquidado em abril de 2003, por acordo entre as partes.

Sem registro
A SMPB Comunicação informou ontem, por meio da sua assessoria, que fez doação em dinheiro para políticos na eleição de 1998, mas que não há registros dos beneficiários porque elas foram feitas "por fora". A agência diz apenas que o responsável era Marcos Valério de Souza.
Em uma ação por improbidade administrativa proposta pelo Ministério Público Estadual, que tramita no STF (Supremo Tribunal Federal), os promotores de Justiça de Minas e o então procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, levantam a suspeita de que um repasse de R$ 3 milhões feitos pela gestão Azeredo para a SMPB pode ter sido usado na campanha.


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