São Paulo, quinta-feira, 27 de julho de 2006

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Escândalo vira munição em guerra eleitoral

Alckmin e Heloísa culpam Executivo por sanguessugas, enquanto CGU divulga prefeituras de PSDB e PFL suspeitas de envolvimento

Cidades governadas por tucanos e pefelistas tiveram 235 convênios com indícios de fraudes com a Planam, acusada de chefiar esquema

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O escândalo dos sanguessugas virou ontem munição da guerra eleitoral. Enquanto Geraldo Alckmin (PSDB) e Heloísa Helena (PSOL) disseram que a origem do escândalo está no governo, a CGU (Controladoria Geral da União) divulgou ontem dados mostrando que prefeituras tucanas e pefelistas formalizaram a maioria dos convênios com suspeitas de irregularidades com a Planam entre 2000 e 2004.
O dado foi divulgado em entrevista convocada pelos ministros Márcio Thomaz Bastos (Justiça) e Jorge Hage (CGU), na qual procuraram destacar que o escândalo foi descoberto e investigado por órgãos do atual governo, como a própria CGU e a Polícia Federal.
Segundo o levantamento da CGU, de um total de 3.048 convênios firmados por municípios com o Ministério da Saúde para compra de ambulâncias, entre 2000 e 2004, a Planam ganhou licitações em 891.
Desses 891 convênios, num total de R$ 79 milhões, todos com "fortíssimos indícios de fraude", segundo a CGU, 128 foram realizados por prefeituras do PSDB. As pefelistas vêm em seguida, com 107 convênios.
Em terceiro lugar estão as prefeituras peemedebistas, com 106. As petistas aparecem em nono lugar, com 19 convênios com a participação da Planam, apontada como a empresa líder do esquema de venda superfaturada de ambulâncias.
Os números foram divulgados pelo governo à tarde, depois que Alckmin e Heloísa Helena usaram o escândalo para atacar o governo. O tucano disse que a "matriz" dos sanguessugas é o Executivo. "Os deputados são as filiais, mas a matriz é o governo federal. É de lá que sai o dinheiro, é do ministério."
Ao ser questionado sobre a possibilidade de inclusão do nome do ex-prefeito de São Paulo José Serra no caso, já que ele foi ministro da Saúde na gestão FHC, Alckmin diminuiu o tom. "Não vi detalhes, de que forma apareceu [o nome de Serra], tem que ter cuidado com essas coisas. Mas investigar, esclarecer, é bom para todo mundo", afirmou.
Heloísa Helena, candidata à Presidência pelo PSOL, também atacou o governo Lula, mas não poupou os tucanos. "Se o esquema acontecia no governo passado e agora no governo Lula continuou acontecendo, com requinte de vigarice política inaceitável, precisamos dizer ao povo brasileiro para poder desmontá-lo", disse a senadora, que integra a CPI dos Sanguessugas.
Para evitar a repetição dos desvios, a senadora defendeu a adoção do Orçamento participativo e impositivo.
Durante a entrevista convocada pelo governo, da qual também participou o diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda, o ministro Jorge Hage criticou a oposição pelo que considera "vazamento seletivo" de informações com o objetivo de atingir o Executivo.
"Por que o governo que estourou e investigou o esquema tem de ser posto na condição de réu? Nós entendemos que é um dever de transparência", disse, ao ser questionado se a divulgação dos dados também não tinha o objetivo de atacar o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
"Não se trata de jogar os sanguessugas no colo do governo passado, mas de repelir o escamoteamento da verdade. A fonte da CGU não é A ou B nem quem está interessado em delação premiada. São dados objetivos. Desafio a qualquer um refutá-los", afirmou.
No Congresso, PFL e PSDB criticaram a divulgação do levantamento da CGU, que aponta prefeituras tucanas e pefelistas como as que realizaram a maior parte de convênios tidos como suspeitos com a Planam.
"O problema é que eles querem jogar sobre o Congresso um problema que é do governo do PT. Até agora, só foram citados o Humberto Costa e o Saraiva Felipe, [ex]ministros [da Saúde] do Lula, então não me venham com essa atitude escapista", afirmou o líder do PFL no Senado, José Agripino (RN).
O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), também criticou o ministro Jorge Hage. "Ele não tem boa-fé para números, não tem boa-fé para política, é um taifeiro [serviçal em embarcações] do governo, faz o que o chefe manda, que é jogar para debaixo do tapete as roubalheiras que o governo faz."
Apesar da divulgação dos dados, tanto Jorge Hage quanto Márcio Thomaz Bastos ressaltaram que as informações levantadas até agora não permitem que os investigados sejam declarados culpados. "Essa é uma função da Justiça", disse o ministro da CGU.


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