São Paulo, sexta-feira, 27 de julho de 2007

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Lula diz que eleição é "eterna" e ataca "mesquinharia" política

Presidente retomou agenda de viagens e ouviu vaias de pequeno grupo em Sergipe

No Nordeste, petista pede um minuto de silêncio em memória às vítimas de acidente e diz que classe dirigente "briga pequeno"



O governador de Sergipe, Marcelo Déda (PT), com Lula, durante evento no Centro de Convenções


FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM JOÃO PESSOA

LETÍCIA SANDER
ENVIADA ESPECIAL A ARACAJU

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva atacou ontem seus opositores e disse, em João Pessoa (PB), ter a sensação de que a eleição no Brasil é "eterna". Para ele, a classe política tem que se tornar "mais civilizada" para compreender o "momento de fazer oposição e o de construir do Estado".
"Porque no Brasil [a eleição] não termina nunca. Acabou a eleição, ela continua. Ela é eterna", disse, em cerimônia para anunciar investimentos em habitação e saneamento previstos no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) na região.
As declarações foram feitas um dia após o presidente trocar o comando do Ministério da Defesa e admitir a crise do setor aéreo. O ex-ministro Waldir Pires (PT), que foi substituído por Nelson Jobim (PMDB), havia afirmado que deixava o posto não por conta da crise, mas por pressões políticas que visam a atingir o governo Lula.
"Você pode mandar qualquer projeto, para melhorar qualquer coisa. As pessoas, se são contra o governo, dizem: eu voto contra. Não se preocupam sequer em analisar se aquilo vai beneficiar [...] o povo da cidade, o povo do Estado e o povo do nosso país", declarou Lula.
"Enquanto a classe dirigente fica brigando pequeno, fica com mesquinharia, o povo fica sofrendo, na expectativa de que apareça um milagroso para salvá-lo, e não tem", acrescentou.

Agenda pós-acidente
O presidente retomou ontem a agenda de viagens, suspensa logo após o acidente com o Airbus-A320 da TAM e a intensificação da crise aérea. Lula optou por viajar esta semana ao Nordeste, região do país onde seu governo é mais bem avaliado.
Na semana do acidente estavam previstas viagens de Lula ao Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Rio de Janeiro. Como a maior parte dos mortos no acidente do avião da TAM que partiu de Porto Alegre a São Paulo era do Sul - região em que tem os piores índices de popularidade -, Lula decidiu evitar a região por enquanto. Antes de discursar ontem, Lula pediu um minuto de silêncio em memória das vítimas.
Na platéia de cerca de 800 convidados, entre políticos, sindicalistas e integrantes de movimentos sociais, havia faixas de apoio ao presidente. Ele comemorou o desempenho econômico do governo. "Ontem [o país] atingiu R$ 154 bilhões em reservas. Hoje, a nossa preocupação não é ir atrás de dólares, mas é evitar que continue entrando essa enxurrada de dólares aqui."
Do lado de fora, ex-funcionários da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) pediam a reintegração na estatal e portuários de Cabedelo (18 km de João Pessoa) protestavam contra a ociosidade do porto.
Ao final do discurso, pediu apoio à transposição do rio São Francisco. "Nós não aceitamos que as pessoas digam: vai custar R$ 6 bilhões. Que custe sete, oito", declarou. "Eu estou vendo gente ser contra. A gente visita os Estados, e eles nunca fizeram um centavo de investimento para evitar que o esgoto da sua cidade fosse jogado no rio São Francisco."

Vaias
Em Aracaju, primeira cidade que visitou ontem, Lula foi vaiado duas vezes por aproximadamente 40 pessoas -entre um público de 4.000-, majoritariamente funcionários do Incra. O constrangimento só não foi maior porque o grupo pró-Lula, convidado ao evento e em número bastante superior ao dos críticos, abafou o protesto com aplausos e gritos de "Olê, Olê, Olê, Olá, Lula, Lula". O presidente já havia sido vaiado na abertura dos jogos Pan-Americanos, em 13 de julho, no Rio.
Ontem no evento só entrou quem tinha convite - a maioria servidores das secretarias do Estado e da prefeitura que vestiam camisetas de cortesia. Os manifestantes levantaram uma faixa onde estava escrito "Lula traidor", mas ela foi logo arrancada por um segurança da Presidência. Do lado de fora do centro de convenções um grupo de cerca de cem universitários, em greve, gritava palavras de ordem contra o presidente.


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