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Lula diz que eleição é "eterna" e ataca "mesquinharia" política
Presidente retomou agenda de viagens e ouviu vaias de pequeno grupo em Sergipe
No Nordeste, petista pede um minuto de silêncio em memória às vítimas de acidente e diz que classe dirigente "briga pequeno"
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O governador de Sergipe, Marcelo Déda (PT), com Lula, durante evento no Centro de Convenções |
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM JOÃO PESSOA
LETÍCIA SANDER
ENVIADA ESPECIAL A ARACAJU
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva atacou ontem seus
opositores e disse, em João
Pessoa (PB), ter a sensação de
que a eleição no Brasil é "eterna". Para ele, a classe política
tem que se tornar "mais civilizada" para compreender o
"momento de fazer oposição e
o de construir do Estado".
"Porque no Brasil [a eleição]
não termina nunca. Acabou a
eleição, ela continua. Ela é eterna", disse, em cerimônia para
anunciar investimentos em habitação e saneamento previstos
no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) na região.
As declarações foram feitas
um dia após o presidente trocar
o comando do Ministério da
Defesa e admitir a crise do setor
aéreo. O ex-ministro Waldir Pires (PT), que foi substituído por
Nelson Jobim (PMDB), havia
afirmado que deixava o posto
não por conta da crise, mas por
pressões políticas que visam a
atingir o governo Lula.
"Você pode mandar qualquer
projeto, para melhorar qualquer coisa. As pessoas, se são
contra o governo, dizem: eu voto contra. Não se preocupam
sequer em analisar se aquilo vai
beneficiar [...] o povo da cidade,
o povo do Estado e o povo do
nosso país", declarou Lula.
"Enquanto a classe dirigente
fica brigando pequeno, fica
com mesquinharia, o povo fica
sofrendo, na expectativa de que
apareça um milagroso para salvá-lo, e não tem", acrescentou.
Agenda pós-acidente
O presidente retomou ontem
a agenda de viagens, suspensa
logo após o acidente com o Airbus-A320 da TAM e a intensificação da crise aérea. Lula optou
por viajar esta semana ao Nordeste, região do país onde seu
governo é mais bem avaliado.
Na semana do acidente estavam previstas viagens de Lula
ao Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Rio de Janeiro.
Como a maior parte dos mortos
no acidente do avião da TAM
que partiu de Porto Alegre a
São Paulo era do Sul - região
em que tem os piores índices de
popularidade -, Lula decidiu
evitar a região por enquanto.
Antes de discursar ontem, Lula
pediu um minuto de silêncio
em memória das vítimas.
Na platéia de cerca de 800
convidados, entre políticos,
sindicalistas e integrantes de
movimentos sociais, havia faixas de apoio ao presidente. Ele
comemorou o desempenho
econômico do governo. "Ontem [o país] atingiu R$ 154 bilhões em reservas. Hoje, a nossa preocupação não é ir atrás de
dólares, mas é evitar que continue entrando essa enxurrada
de dólares aqui."
Do lado de fora, ex-funcionários da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) pediam a reintegração na estatal e
portuários de Cabedelo (18 km
de João Pessoa) protestavam
contra a ociosidade do porto.
Ao final do discurso, pediu
apoio à transposição do rio São
Francisco. "Nós não aceitamos
que as pessoas digam: vai custar R$ 6 bilhões. Que custe sete,
oito", declarou. "Eu estou vendo gente ser contra. A gente visita os Estados, e eles nunca fizeram um centavo de investimento para evitar que o esgoto
da sua cidade fosse jogado no
rio São Francisco."
Vaias
Em Aracaju, primeira cidade
que visitou ontem, Lula foi
vaiado duas vezes por aproximadamente 40 pessoas -entre
um público de 4.000-, majoritariamente funcionários do Incra. O constrangimento só não
foi maior porque o grupo pró-Lula, convidado ao evento e em
número bastante superior ao
dos críticos, abafou o protesto
com aplausos e gritos de "Olê,
Olê, Olê, Olá, Lula, Lula". O presidente já havia sido vaiado na
abertura dos jogos Pan-Americanos, em 13 de julho, no Rio.
Ontem no evento só entrou
quem tinha convite - a maioria
servidores das secretarias do
Estado e da prefeitura que vestiam camisetas de cortesia. Os
manifestantes levantaram uma
faixa onde estava escrito "Lula
traidor", mas ela foi logo arrancada por um segurança da Presidência. Do lado de fora do
centro de convenções um grupo de cerca de cem universitários, em greve, gritava palavras
de ordem contra o presidente.
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