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Atraso ameaça apuração sobre Renan, diz PF
Até agora polícia só teve acesso a um lote de documentos relativos a negócios do presidente do Senado, alvo de investigação
Em Alagoas, senador ataca
adversários, diz que só sai
da presidência "enforcado"
ou "queimado" e elogia a ação de seus aliados na Casa
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DO ENVIADO A MACEIÓ
A Polícia Federal informou
ontem que o atraso no envio de
documentos do presidente do
Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), pode comprometer ou a qualidade ou o prazo de
entrega da perícia do Instituto
Nacional de Criminalística,
destinada a atestar se o senador
teve renda para custear suas
despesas nos últimos anos.
O prazo de 20 dias para conclusão do laudo, acordado entre
peritos da PF e o Conselho de
Ética do Senado, começou a
correr anteontem. Mas, segundo a PF, somente um lote dos
documentos que devem ser enviados de Alagoas para Brasília
chegou ao seu destino.
Os dois órgãos públicos que
ainda não atenderam às solicitações de dados foram a Secretaria Estadual de Fazenda de
Alagoas e a Superintendência
do Ministério da Agricultura no
Estado. Da primeira, são esperadas notas fiscais e registros
de compra e venda de gado. Da
segunda, informações técnicas
das terras de Renan.
Dois técnicos do Senado viajaram a Alagoas na semana passada para buscar dados dos
compradores de gado de Renan, mas voltaram de mãos vazias. Mais do que isso, reafirmaram que ao menos duas empresas que o senador afirmou
ter emitido recibos de venda
estavam inativas.
O recesso parlamentar termina dia 1º. Por enquanto, os
peritos se debruçam sob um calhamaço de GTAs (Guia de
Trânsito Animal), emitidas pela Adeal (Agência de Defesa e
Inspeção Agropecuária) de Alagoas, e recibos de apenas um
dos compradores do gado vendido por Renan, o seu irmão,
Olavo Calheiros (PMDB-AL).
Se a demora persistir, a decisão da PF será por tentar manter o prazo, ainda que em prejuízo da possibilidade de responder a todos os quesitos
apresentados pelos senadores.
Caso isso ocorra, os técnicos
pretendem registrar que o trabalho foi prejudicado.
Em casa
O presidente do Senado
aproveitou o início do recesso
parlamentar para se defender
em seu Estado natal. Anteontem, Renan deu entrevistas a
três rádios e dois canais de TV,
todos controlados por familiares e aliados do senador.
Exaltado, Renan fugiu do
tom mais ponderado que vinha
mantendo em Brasília. Atacou
adversários em Alagoas, referindo-se a questões pessoais, e
disse que para tirá-lo do Senado a oposição na Casa terá que
enforcá-lo ou queimá-lo.
Ressaltou, contudo, que seus
aliados não o abandonaram e
disse que mantém com o presidente Lula uma relação de amizade. Sobre as denúncias de
que teve contas pagas por Cláudio Gontijo, lobista da construtora Mendes Júnior, e que vendeu gado a empresas fantasmas, Renan disse que já provou
tudo, com documentos.
"Eles vão ter que sacrificar o
presidente do Senado. Mas eles
vão ter que assumir a responsabilidade, que é sujar as mãos de
sangue [...]. Vão ter que votar,
se não conseguirem no voto,
vão ter que botar uma forca em
frente ao Congresso Nacional,
ou então fazer uma fogueira, e
pegar o presidente do Congresso Nacional e jogar", disse ele,
num dos programas de TV.
Renan atribuiu a adversários
alagoanos a responsabilidade
pela invasão de grupos de sem-terra a uma fazenda de seu irmão Olavo.
No cenário nacional, disse
que a pressão para que deixe a
presidência parte da oposição.
"O que está havendo é uma briga para ocupar a cadeira de presidente do Senado, porque o
Senado é uma instituição forte,
tem haver com endividamento
do Estado, com a especificação
de recursos para investimento,
tem haver com muitas coisas
das quais muitos precisam e
muitas vezes brigam por isso",
afirmou.
(ANDRÉA MICHAEL, SILVIO NAVARRO E LEONARDO SOUZA)
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