São Paulo, sexta-feira, 27 de julho de 2007

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Atraso ameaça apuração sobre Renan, diz PF

Até agora polícia só teve acesso a um lote de documentos relativos a negócios do presidente do Senado, alvo de investigação

Em Alagoas, senador ataca adversários, diz que só sai da presidência "enforcado" ou "queimado" e elogia a ação de seus aliados na Casa

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DO ENVIADO A MACEIÓ

A Polícia Federal informou ontem que o atraso no envio de documentos do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), pode comprometer ou a qualidade ou o prazo de entrega da perícia do Instituto Nacional de Criminalística, destinada a atestar se o senador teve renda para custear suas despesas nos últimos anos.
O prazo de 20 dias para conclusão do laudo, acordado entre peritos da PF e o Conselho de Ética do Senado, começou a correr anteontem. Mas, segundo a PF, somente um lote dos documentos que devem ser enviados de Alagoas para Brasília chegou ao seu destino.
Os dois órgãos públicos que ainda não atenderam às solicitações de dados foram a Secretaria Estadual de Fazenda de Alagoas e a Superintendência do Ministério da Agricultura no Estado. Da primeira, são esperadas notas fiscais e registros de compra e venda de gado. Da segunda, informações técnicas das terras de Renan.
Dois técnicos do Senado viajaram a Alagoas na semana passada para buscar dados dos compradores de gado de Renan, mas voltaram de mãos vazias. Mais do que isso, reafirmaram que ao menos duas empresas que o senador afirmou ter emitido recibos de venda estavam inativas.
O recesso parlamentar termina dia 1º. Por enquanto, os peritos se debruçam sob um calhamaço de GTAs (Guia de Trânsito Animal), emitidas pela Adeal (Agência de Defesa e Inspeção Agropecuária) de Alagoas, e recibos de apenas um dos compradores do gado vendido por Renan, o seu irmão, Olavo Calheiros (PMDB-AL).
Se a demora persistir, a decisão da PF será por tentar manter o prazo, ainda que em prejuízo da possibilidade de responder a todos os quesitos apresentados pelos senadores. Caso isso ocorra, os técnicos pretendem registrar que o trabalho foi prejudicado.

Em casa
O presidente do Senado aproveitou o início do recesso parlamentar para se defender em seu Estado natal. Anteontem, Renan deu entrevistas a três rádios e dois canais de TV, todos controlados por familiares e aliados do senador.
Exaltado, Renan fugiu do tom mais ponderado que vinha mantendo em Brasília. Atacou adversários em Alagoas, referindo-se a questões pessoais, e disse que para tirá-lo do Senado a oposição na Casa terá que enforcá-lo ou queimá-lo.
Ressaltou, contudo, que seus aliados não o abandonaram e disse que mantém com o presidente Lula uma relação de amizade. Sobre as denúncias de que teve contas pagas por Cláudio Gontijo, lobista da construtora Mendes Júnior, e que vendeu gado a empresas fantasmas, Renan disse que já provou tudo, com documentos.
"Eles vão ter que sacrificar o presidente do Senado. Mas eles vão ter que assumir a responsabilidade, que é sujar as mãos de sangue [...]. Vão ter que votar, se não conseguirem no voto, vão ter que botar uma forca em frente ao Congresso Nacional, ou então fazer uma fogueira, e pegar o presidente do Congresso Nacional e jogar", disse ele, num dos programas de TV.
Renan atribuiu a adversários alagoanos a responsabilidade pela invasão de grupos de sem-terra a uma fazenda de seu irmão Olavo.
No cenário nacional, disse que a pressão para que deixe a presidência parte da oposição. "O que está havendo é uma briga para ocupar a cadeira de presidente do Senado, porque o Senado é uma instituição forte, tem haver com endividamento do Estado, com a especificação de recursos para investimento, tem haver com muitas coisas das quais muitos precisam e muitas vezes brigam por isso", afirmou. (ANDRÉA MICHAEL, SILVIO NAVARRO E LEONARDO SOUZA)


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