São Paulo, domingo, 27 de julho de 2008

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ELEIÇÕES 2008 / RIO DE JANEIRO

Jornalistas são ameaçados por traficantes em favela

Grupo que acompanhava visita de candidato foi forçado a apagar imagens de câmeras

Para Marcelo Crivella, que fazia campanha no local, ameaça ofende a dignidade; "o direito de ir e vir hoje no Rio não é respeitado", afirma

DA SUCURSAL DO RIO

Repórteres e fotógrafos que acompanhavam ontem pela manhã a campanha do candidato a prefeito do Rio de Janeiro Marcelo Crivella (PRB) receberam ameaças de traficantes armados na Vila Cruzeiro, na Penha, zona norte. A abordagem ocorreu depois que um grupo, formado por repórteres e fotógrafos dos jornais "O Globo", "Jornal do Brasil" e "O Dia", distanciou-se do senador.
Os profissionais fotografavam o candidato cumprimentando moradores em uma praça da favela quando três homens cobriram os rostos e começaram a dizer que não era para fotografar. O senador os ignorou e seguiu a caminhada.
Um dos homens aproximou-se dos jornalistas e mandou que eles apagassem as imagens feitas no local. Um assessor do candidato que estava com o grupo tentou argumentar que o objetivo não era denunciar ninguém, mas logo chegou uma moto com outros dois homens, um deles armado com um fuzil.
Ameaçados, os jornalistas apagaram as imagens. Após serem liberados, voltaram a se unir a Crivella, que, sem perceber a abordagem, continuara a caminhada. Ao ser informado do ocorrido, o candidato encerrou a caminhada. A pedido dos jornalistas, ele aguardou a chegada dos carros da imprensa antes de deixar a favela.
"Eu fui caminhando e conversando com as pessoas, quando o repórter veio me dizer que teve de esvaziar a máquina [fotográfica]. Eu não percebi, mas achei revoltante. Ofende a nossa dignidade", disse. Segundo Crivella, é necessário "pedir autorização" para "entrar em determinados locais" da cidade.
O senador relatou ainda o susto que passou há cerca de oito meses, quando, numa visita à mesma Vila Cruzeiro, um homem na garupa de uma moto veio em sua direção com um fuzil na mão. "Ele vinha de longe e sempre na minha direção. Graças a Deus, uns 20 metros antes, tomou outro rumo e desapareceu", afirmou.
A Vila Cruzeiro faz parte do Complexo da Penha -endereço de 130 mil pessoas de dez comunidades-, que faz divisa com o Complexo do Alemão. Neste ano, já houve mais de 70 mortes em confrontos com a polícia na região.
Como mostrou reportagem de ontem da Folha, candidatos a prefeito do Rio têm de ignorar traficantes armados para fazer campanha. Crivella, anteontem, já havia passado, nas favelas do Amarelinho e de Acari, por homens com fuzis e pistolas. Homens armados acompanharam à distância o percurso do senador.
A ex-deputada Jandira Feghali (PC do B) também passou entre homens armados com fuzis quando esteve em campanha, há uma semana, no morro da Mangueira, zona norte.
Em nota, a Secretaria de Segurança disse considerar "uma afronta ao Estado de direito e à sociedade as ameaças que bandidos fizeram a jornalistas na Vila Cruzeiro." Também por meio de nota, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, disse que "o direito de ir e vir de quaisquer candidatos e da imprensa é sagrado" e que "fatos como esse -gravíssimo- tornam evidente a necessidade de combate sem tréguas à criminalidade." Para Cabral, sempre que "o livre jornalismo é impedido de atuar, é sinal de um Estado de exceção".


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