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ELEIÇÕES 2006 / LEGISLATIVO
Gabinete vira comitê na Assembléia de SP
Deputados estaduais desapareceram da Casa, mas colam cartazes nas paredes e usam funcionários públicos na campanha
Candidatos utilizam seus
escritórios para estocar
santinhos e contratar cabos
eleitorais; para procurador
regional, "situação é grave"
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
A cinco semanas da eleição,
deputados estaduais de São
Paulo desapareceram da Assembléia Legislativa e transformaram seus gabinetes em verdadeiros comitês eleitorais,
com direito a cartazes nas paredes, santinhos espalhados nas
mesas e funcionários públicos
trabalhando na campanha.
A situação é considerada grave pelo procurador regional
eleitoral, Mário Luiz Bonsaglia,
responsável por fiscalizar esta
eleição no Estado de São Paulo.
"Se fosse apenas um cartaz, a
situação poderia ser tolerada.
Mas estocar santinhos não pode. O gabinete não é comitê
eleitoral. E usar funcionários
públicos é uma situação gravíssima, que leva à cassação da
candidatura em poucos dias",
afirmou Bonsaglia.
A Folha percorreu durante
duas semanas os gabinetes.
Além das irregularidades apontadas, constatou que é raro encontrar deputados na Casa
neste período eleitoral. Na última quarta-feira, por exemplo,
de 22 parlamentares procurados pela reportagem, 17 não estavam na Assembléia.
"O deputado nem vem mais
para a Casa, todos os dias está
em campanha", afirmou uma
funcionária do deputado Conte
Lopes (PTB), cujo gabinete estava abarrotado de santinhos.
Há quase um mês, nada é votado na Assembléia.
Infrações
Na última quarta-feira, às
14h50, cinco funcionárias do
deputado Antonio Salim Curiati (PP), pagas pela Assembléia,
se debruçavam sobre uma mesa e separavam milhares de
santinhos do candidato. Contavam um por um e os separavam
em blocos com clipes.
Em cada folheto havia um
pequeno pingente folhado a
ouro em formato de cruz, apesar de os brindes terem sido vetados pela legislação eleitoral.
Segundo Bonsaglia, apesar
de a nova norma não prever punição para a distribuição de
brindes, a prática pode ser enquadrada como abuso de poder, com possível cancelamento do registro da candidatura.
Curiati é deputado estadual
desde 1967 e que vai tentar sua
oitava legislatura neste ano.
Outros candidatos, que também disputam a reeleição,
usam seus escritórios na Assembléia para armazenar material de campanha.
Nos gabinetes de Donizete
Braga (PT), Conte Lopes
(PTB), Arthur Alves Pinto (PL)
e de Afanásio Jazadji (PFL),
por exemplo, basta entrar para
ver lotes de folhetos, santinhos
e adesivos espalhados pelas
mesas dos assessores, dentro
de armários e de gavetas. Alguns afixaram cartazes de campanha nos corredores que levam aos gabinetes, como Pedro
Tobias (PSDB), Vanderlei Siraque (PT) e Afanásio Jazadji.
Funcionários
A reeleição dos deputados
tem afetado a rotina dos funcionários que trabalham com
eles na Assembléia. Numa
quinta-feira, por volta das 15h,
Alves Pinto, segurando vários
santinhos, conversava em seu
gabinete com uma advogada
que queria ajudá-lo na campanha. Enquanto isso, sua recepcionista anotava os dados de
um homem que se oferecia para ser cabo eleitoral no bairro
da Lapa, zona oeste.
Quando a reportagem entrou, a primeira pergunta foi:
"De que região você é?"
Num andar acima, entre gritinhos e palmas, funcionários
de Valdomiro Lopes (PSB), segundo vice-presidente da Assembléia, se amontoavam para
ouvir o parlamentar no horário
eleitoral pelo rádio.
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