São Paulo, domingo, 27 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ÚLTIMO DIA

No Rio, candidato não dá esmola a garoto de 13 anos e diz que só fala de governo após eleição

Lula afirma que vai procurar Serra

PATRICIA ZORZAN
FÁBIO VICTOR
DA REPORTAGEM LOCAL
VERÔNICA MARIA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Depois de ter afirmado, no debate de anteontem na Rede Globo, que não poderia pedir a cada eleitor seu para buscar mais um voto, pois nesse caso ultrapassaria os "100% dos votos", o candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, recobrou ontem um tom mais moderado e se recusou a falar sobre a transição para seu eventual governo.
"Eleição é eleição. Então acho importante a gente ter cautela. Estou otimista. Acredito que vou ganhar. Mas qualquer coisa em relação ao governo, a transição, só depois do processo eleitoral", afirmou o presidenciável.
Pouco depois, entretanto, disse que pretende passar para a história do país como o presidente que mais dialogou com empresários, sindicalistas e com todas as forças políticas. "Vamos fazer um governo sem preconceito, ouvindo todos, porque é assim que tem que ser."
O candidato petista, que chegou a São Paulo ontem às 11h30, voltou a dizer que pretende procurar seu adversário José Serra (PSDB), caso seja eleito: "Passei a campanha inteira dizendo que eu era amigo do Ciro, do Garotinho e do Serra. Acabou o embate eleitoral, voltamos a ser amigos outra vez e vou conversar com todo mundo", declarou.
Em sua chegada a São Paulo, o petista foi recebido com festa no aeroporto. Aos gritos de "Viva" e de "Lula", foi recepcionado com aplausos por um grupo de 20 pessoas no saguão de Congonhas. Tirou fotos com crianças e pegou no colo um garoto que carregava a bandeira do PT.

Aniversário
Do aeroporto, o carro que conduzia Lula seguiu em velocidade acima do permitido (130 km/h contra o limite de 110 km/ h) para São Bernardo do Campo, onde o candidato passou o dia.
À tarde, o PT de São Bernardo organizou uma festa de aniversário em frente ao prédio em que mora Lula. O petista completa hoje 57 anos.
Após uma caminhada com cerca de 500 militantes, um carro de som foi colocado no local. Militantes falaram ao público. O candidato desceu com a mulher, Marisa, mas, apesar dos pedidos, não discursou, dizendo estar proibido pela Lei Eleitoral.
O presidente do PT local, José Albino de Melo, presenteou o petista com um bolo decorado com um desenho do candidato ainda como metalúrgico. Também deu a ele uma placa, com uma frase dita por Lula na greve dos metalúrgicos do ABC de 1980: "Que ninguém jamais ouse duvidar da capacidade de luta da classe trabalhadora".
O deputado federal eleito Vicentinho puxou um "Parabéns a você". Com os olhos marejados, Lula agradeceu com apenas uma frase: "Ninguém pode me proibir de falar "Obrigado'".
Em seguida, recebeu camisetas, bonés a até roupas infantis para autografar. A motorista desempregada Ivanilda Rabelo, 39, jogou a camiseta que vestia e cobriu o sutiã com uma bandeira do PT. "Há 20 anos torço por esse partido. Faço isso por esperança". Como a camiseta não foi devolvida, ela teve de usar a de um colega para sair do local.

Rio
Em sua última passagem pelo Rio antes da eleição, Lula foi muito assediado e disse que o melhor presente que pode ganhar de aniversário é "o voto de milhões de brasileiros". "Vou aguardar o resultado, mas estou otimista e ao mesmo tempo aliviado com o final da campanha, pois foi muito puxada e dura."
Hospedado no hotel Glória (zona sul do Rio), Lula foi cercado, no saguão do prédio, por cerca de 30 hóspedes, que tiraram fotos a seu lado.
O presidenciável não quis adiantar nomes de sua equipe e disse que o anúncio também não será feito hoje, caso seja eleito.
Na chegada ao aeroporto, Lula foi abordado por um garoto de rua, Paulinho Souza Silva, 13, que lhe pediu R$ 30 para comprar feijão, arroz e um botijão de gás, mas não foi atendido. Com pressa, o presidenciável encaminhou o menino a um assessor, que também não o atendeu.
O presidenciável deve votar hoje às 10h, em São Bernardo. Depois pretende almoçar com representantes dos partidos políticos estrangeiros e de organizações não-governamentais que vieram ao Brasil para acompanhar a eleição.


Texto Anterior: Primeiro desafio do PT seria acomodar legião de 'aliados'
Próximo Texto: Transição: "2003 será ano de crise", afirma Dirceu
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.