São Paulo, domingo, 27 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTURO

Tucano aposta em fracasso de eventual governo petista e dedica últimos dias da campanha para tentar se credenciar como líder anti-PT e voltar a disputar a Presidência em 2006

Se perder, Serra quer ser líder anti-PT

RAYMUNDO COSTA
EM SÃO PAULO

Convencido de que um eventual governo de Luiz Inácio Lula da Silva levará o país à "frustração" popular ou à "ruína" econômica, José Serra dedicou os últimos dias da campanha eleitoral, no segundo turno, para tentar credenciar-se como o líder anti-PT. Seu futuro é a oposição, um posto para o qual tem muitos concorrentes, sobretudo no próprio PSDB.
O futuro imediato Serra já decidiu. Após um período de descanso, provavelmente na Europa, o tucano reassume sua cadeira no Senado. O mandato termina em fevereiro, quando o novo Congresso toma posse. Depois disso, pensa em voltar a dar palestras e aulas na Unicamp, universidade da qual é professor licenciado.
Para credenciar-se ao posto de líder anti-PT, Serra precisa tirar das urnas neste domingo pelo menos 30 milhões de votos.
Qualquer coisa a menos deixaria a Serra a opção de tentar o governo de São Paulo ou voltar ao Legislativo, onde se tornaria uma espécie de "guru" econômico como hoje é o deputado federal Delfim Netto (PPB-SP).
A expectativa mais otimista do comitê de campanha de Serra é que ele possa chegar perto dos 35 milhões de votos. Para o presidente do PSDB, José Aníbal, com 30 milhões ou com 35 milhões de votos Serra "será uma referência" obrigatória.
Esse foi o objetivo dos últimos programas de TV do candidato no horário eleitoral gratuito. O ataque cerrado ao PT foi substituído por realizações de Serra como ministro do presidente Fernando Henrique Cardoso e pela reapresentação de sua biografia.
O objetivo é "amenizar" a imagem do candidato, que ao longo da campanha adquiriu a fama de "destruidor", uma pessoa desagregadora.
Primeiro, teria sido Roseana Sarney (PFL- MA), cuja candidatura presidencial naufragou com a descoberta de R$ 1,35 milhão em empresa que ela mantém em sociedade com o marido, Jorge Murad. Depois, foram os ataques a Ciro Gomes (PPS) logo na abertura do horário eleitoral.
Serra pensa em concorrer novamente à Presidência, tarefa que seria facilitada por um eventual naufrágio do governo Lula, segundo a avaliação dos tucanos. Afinal, segundo o raciocínio do núcleo da campanha mais próximo do candidato, o petista tentou quatro vezes antes de chegar lá. Essa foi a pista que o candidato tucano pavimentou na última semana, embora seus assessores mais próximos digam que ele exercerá uma oposição no limite da governabilidade.
Na "frustração" ou na "ruína", destino que o próprio candidato previu para o país com Lula na Presidência, Serra poderia capitalizar o fato de que a eleição o projetou nacionalmente e dizer que avisou do "estelionato" eleitoral. Algo que Lula, agora, nem precisou martelar em relação à sobrevalorização do dólar que Fernando Henrique Cardoso fez em 1998, quando tentou e conseguiu o segundo mandato.
O projeto serrista tem dois problemas. De saída, as primeiras iniciativas de Lula. Se o petista propuser um pacto nacional, até mesmo os aliados mais fiéis do candidato querem discuti-lo antes de tomar uma decisão de apoiar ou não o governo petista. E boa parte deles tem origem na esquerda e simpatia pelo PT.
O outro problema é a concorrência no campo dos derrotados, a começar pelo PFL, cuja oposição "doutrinária" liberal ao PT saiu desacreditada pela aversão da sigla a Serra e a adesão de caciques da sigla a Lula.
No PSDB, há pelo menos três segmentos preparados para ocupar o posto para o qual desde já Serra tenta se credenciar: os setores que ele derrotou para sair candidato, que afiam as garras para a revanche, as forças que saíram fortalecidas das urnas e a sigla natural no caso de um fiasco do PT: FHC. No primeiro caso, estão Tasso Jereissati, senador eleito pelo Ceará, e Pimenta da Veiga (MG). Pimenta não terá mandato.
Tasso ficou "queimado" mesmo entre aliados do PSDB ao se expor publicamente no apoio a Ciro Gomes (PPS). Na sigla vige uma espécie de Lei Mário Covas: quem perde, apóia o vencedor.
No segundo grupo destacam-se o governador eleito de Minas Gerais, Aécio Neves, e Geraldo Alckmin, cuja reeleição em São Paulo é apontada por todas as pesquisas de opinião.

Fragilidade
A fragilidade de Aécio é a situação financeira que encontrará em Minas, na avaliação dos tucanos. Ele vem tentando que FHC, em final de mandato, ajude Itamar Franco a terminar o governo com as contas mais ou menos equilibradas. Mas enfrenta a mesma retórica que Serra enfrentou da equipe econômica para ajudar na eleição: não tem dinheiro.
Dos governadores tucanos, Alckmin é um dos que saem da eleição com a maior gratidão de Serra. Muito embora ele não tenha vinculado seu nome na propaganda da TV tanto quanto o tucano gostaria, o candidato acha que o governador paulista ajudou como pode. Levando-o a seus comícios, por exemplo, sem exigir contrapartidas materiais como outros fizeram.
Antes de ser sagrado pelo PSDB, Serra fez um acordo com Alckmin: não tentaria disputar o governo de São Paulo caso não conseguisse a indicação do partido para disputar a Presidência. No comitê de Serra, há quem aposte que ele pode vir a ser consultor do governo paulista.
A eventual aliança Serra-Alckmin poderia manter a hegemonia paulista no comando do partido, ameaçada pela frente que Tasso começa a articular com Aécio, que prevê até a volta de Ciro Gomes ao partido.
Para Serra, resta uma árdua tarefa: reconstruir as pontes que implodiu para se tornar o candidato à sucessão de FHC.


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Campanha tucana termina com dificuldades de caixa
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.