São Paulo, domingo, 27 de outubro de 2002

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Campanha tucana termina com dificuldades de caixa

EM SÃO PAULO

A campanha de José Serra chega ao final endividada, mas o presidente do PSDB, José Aníbal (SP), assegura que todos os compromissos assumidos serão honrados. Os tucanos fizeram uma previsão de gastos de R$ 60 milhões, esperavam arrecadar R$ 48 milhões e estarão satisfeitos se fecharem com R$ 45 milhões.
Além de sua posição nas pesquisas, um outro problema afetou o projeto financeiro dos tucanos: a inexperiência dos encarregados da arrecadação, Luiz Furquim e Milton Seligman, além do deputado Márcio Fortes (RJ), que estava ocupado com a própria reeleição.
Fez falta para Serra o ex-ministro das Comunicações Sérgio Motta, morto em abril de 1998. Além da articulação política, era ele quem cuidava dessa questão para o candidato em campanhas anteriores. O principal gasto da campanha de Serra foi com a produção dos programas de TV do candidato. Era esperado. O que ninguém apostava é que a campanha se encerrasse com Serra e o publicitário Nizan Guanaes, responsável pelos programas, mantendo um bom relacionamento.
Desafetos no passado, Serra e o publicitário Nizan Guanaes chegam ao fim da respeitando-se mais. Eles não tiveram uma, mas várias discussões sobre o que fazer na campanha. Profissionalmente, ao contrário do que ocorreu na campanha de Serra para a Prefeitura de São Paulo, em 1996, que terminaram rompidos pessoalmente.
Uma das discussões de Nizan com Serra, na atual campanha, foi justamente sobre a questão financeira. O publicitário disse claramente ao candidato os problemas que detectava na campanha, como a falta de dinheiro para o pagamento do pessoal, o que poderia desmotivar quem trabalhava dia e noite por sua eleição.
O próprio Nizan adiantou R$ 1.350,00 para bancar despesas inadiáveis, como o pagamento de direitos autorais, que é sempre feito à vista. Caso de uma música de Leonardo adotada pela campanha no primeiro turno.
Em outra ocasião, Nizan aborreceu-se quando Serra decidiu cumprir um compromisso de campanha na capital do Tocantins, Palmas, em plena madrugada. O publicitário achava que o candidato deveria se concentrar em grandes colégios eleitorais como Minas Gerais.
Serra argumentou que era uma exigência dos políticos. Além disso, Serra já havia adiado uma visita à cidade. Nizan, falando alto e gesticulando muito, rebateu que os políticos o haviam abandonado, que ele estava só.
As duas agendas, a política e a do marketing, nunca se entenderam. Nizan, que valoriza a forma, queria Serra descansado e de bom humor no último debate antes do primeiro turno, realizado na TV Globo no dia 3 de outubro.
A campanha chegou a fazer uma reserva num hotel localizado nas proximidades do estúdio da TV Globo. Ele deveria chegar pela manhã, descansar à tarde e ir à noite para o debate.
Serra, ao contrário, sempre privilegiou o conteúdo à forma. Antes do debate, fez uma maratona de viagens, indo do Norte ao extremo Sul do país.
Resultado: o tucano chegou à TV Globo gripado, parecendo ter mais do que seus 60 anos, na visão de um auxiliar.
Já no debate de sexta-feira passada, Serra cumpriu à risca às recomendações da equipe de marketing: tomou sol na tarde de quinta-feira, viajou pela madrugada para o Rio, dormiu pela manhã e, à tarde, treinou novamente para o embate noturno.
Nizan, que entrou como um "criador" na campanha, sai com a fama de também ser um "estrategista" que ele mesmo não saberia que é. Uma de suas teses: o governo deveria ter entrado na disputa eleitoral com mais de um candidato: nos debates, Serra não seria o único alvo e nem o único a atacar os outros três adversários, todos de oposição ao governo, o que sempre provoca desgaste.
Nas conversas diárias que mantinha com FHC, previu que Serra iria para o segundo turno, mas não ganharia a eleição.


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