São Paulo, domingo, 27 de outubro de 2002

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Após eleição, Serra trava disputa pelo controle do PSDB

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

José Serra sai hoje direto da eleição para uma guerra interna pelo controle do PSDB. Se disputou o segundo turno das eleições contra o petista Luiz Inácio Lula da Silva, vai ter que enfrentar principalmente o governador eleito de Minas, Aécio Neves, e o futuro senador Tasso Jereissati (CE).
Serra sai da eleição possivelmente com mais de 30 milhões de votos, mas deixando atrás um rastro de dissidentes, adversários e até inimigos. Aécio ganhou a eleição em Minas no primeiro turno e uma legião de aliados. Os dois são pré-candidatos do PSDB à Presidência em 2006. É essa disputa interna que vai definir todo o futuro do partido, que passa por uma profunda renovação e inverte posições: sai do governo e vai para a oposição. A questão é o tom e a intensidade da oposição.
Ao saber que Aécio, o senador eleito Tasso Jereissati (CE) e o candidato derrotado do PPS à Presidência, Ciro Gomes, haviam jantado em Fortaleza para discutir uma reação à "hegemonia paulista" no PSDB, o deputado Pimenta da Veiga (MG), um dos fundadores do partido, reagiu: "É mesmo? Que ótimo!".
A tropa de Aécio e Tasso -que querem trazer Ciro de volta ao PSDB- inclui os mineiros Pimenta e Eduardo Azeredo, o governador goiano Marcone Perillo, reeleito no primeiro turno, e líderes emergentes em Mato Grosso do Sul e Pará. Eles sonham, ainda, com a adesão do governador Geraldo Alckmin (SP), que disputa hoje o segundo turno em condição de vantagem, e do líder do governo na Câmara, Arnaldo Madeira, reeleito deputado. Mas Alckmin e Madeira -ligados a Mário Covas, morto em 2001- são justamente paulistas.
Quando enfrentam a "hegemonia paulista", Aécio e Tasso se dirigem ao presidente Fernando Henrique Cardoso, que deixa a vida político-partidária, a Serra, cujo mandato de senador acaba em dezembro, e ao "núcleo duro" da campanha serrista. Incluem-se aí os deputados paulistas Aloysio Nunes Ferreira e Alberto Goldman, que tentam articular uma fusão do PSDB com o que chamam de "a parte boa" do PMDB, e o líder da bancada na Câmara, Jutahy Magalhães Júnior (BA).
O presidente do partido, José Aníbal (SP), era antigo desafeto de Serra e na campanha teve um comportamento considerado "exemplar" pelo grupo serrista. Mas é outro a ser disputado pelos dois lados. Aécio não só articulou uma ampla aliança em Minas, inclusive com o governador Itamar Franco (sem partido), como tem contatos no país inteiro e apareceu em programas regionais.

Estouro da boiada
A disputa no PSDB se repete em três partidos que deram sustentação política aos dois mandatos de FHC: PMDB, PFL e PPB.
O PMDB, por ser o mais heterogêneo, é o mais disputado tanto pelo PT, que precisa de maioria no Congresso, quanto pelo PSDB serrista, para fazer frente à escalada de Aécio e Tasso.
O PFL, que sai mais ferido da eleição, por uma sucessão de erros, vai se concentrar em duas frentes: 1) afirmar-se como partido antagônico ao PT e comandar a oposição; 2) tentar conter o "estouro da boiada".
A expectativa, dentro e fora do PFL, é que o PT use o aliado PL como ímã para os pefelistas dispostos a votar com o novo governo em troca de manter os velhos cargos federais nos Estados.
No PPB, o deputado Francisco Dornelles (RJ) vai continuar a articular, lenta e eficazmente, a transição da liderança do ex-governador Paulo Maluf (SP). A questão é: para quem?
Ao chegar ao poder, portanto, o PT embaralha as velhas alianças, tenta atrair o que for possível e empurra o PSDB para a oposição.
Sob a liderança de Serra e seu grupo "paulista", a oposição a Lula e ao PT será mais acirrada, diária, em cima de votações, projetos, discursos. Caso prevaleça o grupo "mineiro" (aí incluídos Tasso e Perillo), será mais pontual, mais calibrada.
Nos dois casos, o ritmo vai depender de como governo petista se sair. Se mantiver alto índice de apoio popular, os aliados vão se multiplicar e a oposição, minguar. Se ocorrer o contrário, que Lula se prepare: o PSDB vem com tudo, seja Aécio ou Serra, na eleição de 2006. (ELIANE CANTANHÊDE)


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