São Paulo, domingo, 27 de outubro de 2002

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RELAÇÕES EXTERIORES

Se eleito, candidato petista terá 45 dias após a posse para definir que fatia do mercado irá oferecer nas negociações da Alca, associação que ele atacou na campanha

Negociação com os EUA será espinhosa

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Os sinais de boa vontade enviados por Washington a Luiz Inácio Lula da Silva, candidato que deve se eleger presidente hoje, não escondem a agenda espinhosa a ser negociada pelos dois países.
Lula terá só 45 dias, após a eventual posse, para decidir qual fatia do mercado irá oferecer nas negociações da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), processo comparado por ele a uma anexação do Brasil pelos EUA.
Além disso, Brasil e EUA estarão co-presidindo as negociações da Alca e definindo sua velocidade na época da posse do novo presidente, em janeiro.
O discurso anti-Alca usado por Lula durante a campanha agrada vários setores industriais brasileiros que temem a concorrência com os EUA. Mas há setores no país que levariam vantagem com a Alca, como o têxtil, o agronegócio e o aeronáutico, entre outros.
Esses setores contribuem para o ingresso de dólares no Brasil e facilitam o equilíbrio das contas externas brasileiras. "Criticar a Alca pode ter ótimos resultados eleitorais, mas não ajudam na vida real", disse Richard Feinberg, ex-diretor do Conselho de Segurança da Casa Branca.
"Se o Brasil não entrar, ficará isolado, cercado. Esperamos que, se eleito, Lula traga uma abordagem mais construtiva para a diplomacia comercial brasileira."
Para adaptar-se à realidade, Lula poderia aderir cuidadosamente às negociações, acelerando a integração somente nos setores que interessam ao país. O problema seria explicar à opinião pública as diferenças entre essa postura e a do governo atual, cuja política comercial é criticada pelo PT.

Foguete
Mas a Alca não será o único problema comercial de Lula. Durante a campanha, ele afirmou que basta ao Brasil assumir uma postura mais incisiva para convencer os EUA, país com um PIB de US$ 9,3 trilhões, a derrubar barreiras contra o Brasil, nação com uma economia de US$ 500 bilhões. Essas barreiras inibem US$ 5 bilhões em exportações e são um entrave ao crescimento brasileiro.
O programa petista sugere, indiretamente, que o governo brasileiro pode combater esse protecionismo por meio de retaliação. Mas as consequências poderiam ser graves. Segundo dados do BC brasileiro, o país só conseguirá fechar suas contas externas em 2003 com os empréstimos do FMI, controlado pelos EUA.
Outro assunto "espinhoso" na relação bilateral é tratado entre os dois países que regulamenta o uso comercial, por empresas americanas, da base de lançamento de foguetes de Alcântara.
Concluído no ano passado, o tratado é fundamental para o uso da base porque obriga o Brasil a respeitar as condições exigidas pela Casa Branca para permitir que companhias americanas lancem satélites em outros países.
Segundo o PT, essas condições são inaceitáveis porque ferem a soberania. O problema é virar as costas para um mercado anual de US$ 12 bilhões, no qual 80% dos lançamentos de foguetes são feitos por companhias americanas.


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