São Paulo, domingo, 27 de outubro de 2002

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RIO GRANDE DO SUL

PT pode perder hoje, para o PMDB, o mais importante governo estadual que já conquistou no país

Antipetismo e "onda Lula" decidem no Sul

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA EM PORTO ALEGRE
MÁRIO MAGALHÃES
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE

O espectro que ronda o Rio Grande do Sul na eleição de hoje a governador não é vermelho, não carrega estrela no peito e não fala em socialismo: é o espectro do candidato favorito segundo as pesquisas de intenção de voto, Germano Rigotto (PMDB), 53.
A rigor, o espectro ronda não o Estado, mas o PT, partido de Tarso Genro, 55, o oponente de Rigotto. O PT pode perder o mais importante governo estadual que já conquistou nas urnas, logo onde administra seis das dez maiores cidades, incluindo a capital, e ostenta sua mais robusta estrutura relativa em todo o país.
Nenhum outro Estado representa de modo tão vigoroso o "modo petista de governar". O Fórum Social Mundial se reúne em Porto Alegre. Uma derrota quatro anos após a chegada ao governo gaúcho seria histórica, no ano da mais farta colheita eleitoral do partido. "Porém está em curso uma virada histórica", disse Tarso Genro na sexta-feira à Folha.
Seja qual for o resultado, terá de fato impacto na história do Estado, com eco nacional imediato.
De um lado, perfila em torno de Rigotto uma larga frente de partidos (PMDB, PSDB, PFL, PPS, PPB, PTB, PDT) que formalmente, ou com a esmagadora maioria dos quadros, reforçou a já enraizada cultura gaúcha do antipetismo -à qual se opõe outra manifestação poderosa, a do petismo.
Tem o apoio dos grandes empresários e dos produtores rurais. Esteve quase toda na base do governo de Antônio Britto (PPS), de 1995 a 1998. O PDT é recém-convertido. A maioria esmagadora, como Rigotto, está com José Serra (PSDB) para a Presidência.
No outro córner, o PT é acompanhado dos parceiros tradicionais, como o PC do B. Em comparação com o palanque onde sempre cabe mais um do presidenciável petista Luiz Inácio Lula da Silva, Tarso vive na solidão.
É o candidato do governador Olívio Dutra, cujo mandato mal avaliado levou o PT, em prévias internas, a não lhe conceder o direito de buscar a reeleição.
Tarso aposta numa força que praticamente se transformou num mito local -a militância supostamente capaz de reverter "eleições perdidas".
Ele tem a seu favor gestões municipais com boa aprovação. Como a de Porto Alegre, onde o PT assumiu em 1989 e não saiu mais. Tarso investe na dobradinha com o seu candidato à Presidência. A "onda Lula" seria a sua salvação.

Chances
Pesquisas mostraram que Rigotto teria ampliado a vantagem com que fechou o primeiro turno -41,2% a 37,3% dos votos válidos. Do total de votos, três institutos deram ao peemedebista distância de 23 pontos (Ibope, no sábado retrasado), 18,1 pontos (Cepa, na quinta-feira) e 5,0 pontos ("Correio do Povo", na sexta). Ontem, o jornal "Zero Hora" publicou pesquisas Ibope e Cepa, com a diferença caindo. Foi para 16 pontos no Ibope (55% a 39%) e 8,5 no Cepa (51,8% a 43,3%).
Além dos números, contestados pelo PT, há outro abismo entre os dois finalistas: as ambições com que cada um deu a largada.
Tarso venceu Olívio nas prévias e abandonou a Prefeitura de Porto Alegre. Concentrou a estratégia em bombardear Antônio Britto, que ruiu com facilidade. Permitiu, contudo, que Rigotto chegasse sem arranhões à decisão.
O peemedebista abriu mão de renovar o mandato de deputado federal para se arriscar numa empreitada na qual poucos o levavam a sério. Passou meses sem romper a barreira dos 4%. "No fim de maio, esperava ganhar um pontinho. Avisaram-me que continuava com 4%. Foi difícil", disse anteontem, secando as lágrimas.
Uma possível derrota de Tarso, que já foi apontado como opção petista a uma candidatura ao Planalto, implicaria um golpe duríssimo na influência da seção gaúcha na vida do PT. No Rio Grande do Sul se encontra um dos pólos da esquerda partidária.
Rigotto teria pouco a perder. Embora tenha sido líder do presidente Fernando Henrique Cardoso na Câmara, não tem expressão de ponta no PMDB. Se ganhar, se tornará um dos governadores mais influentes da sigla.
Tarso diz que, se vencer, vai "trabalhar para acabar" com o antipetismo. Propõe uma aliança ampla como a de Lula para governar. Reforça um discurso mais flexível do que o de Olívio. Promete "unir" o Estado.
É a mesma promessa de Rigotto, que vê a própria eleição como condição para isso. Determinado a transmitir a imagem de "pacificador", afirma que convidaria o PT para integrar um governo seu, embora não acredite que o partido viesse a aceitar.
Tarso Genro intensificou na semana final de campanha a associação do antagonista com Serra e FHC. Rigotto quis discutir o Estado. O petista inventariou votos do rival na Câmara e na Assembléia. Rigotto listou supostos fiascos do governo Olívio e qualificou o Estado como "partidarizado, ideologizado e aparelhado" pelo PT.
Em três debates, o PT cantou vitória. O PMDB não viu reviravolta. Nos últimos dias, Porto Alegre foi colorida por uma avalanche de bandeiras petistas.
Porém os peemedebistas asseguram ter o controle das cidades pequenas e médias. Muitos militantes pró-Tarso foram para o interior atrás de votos.
O Rio Grande do Sul virou motivo do embate dos programas de TV de Lula e Serra. Os gaúchos têm vocação atávica para votar na oposição (a longevidade do PT em Porto Alegre é exceção).
Hoje se saberá se valeu mais a oposição ao governador Olívio Dutra, com a vitória de Rigotto, ou a oposição a Serra-FHC, com o triunfo de Tarso.


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