São Paulo, domingo, 27 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PT utiliza beijo de Serra contra peemedebista

DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
DO ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE

O presidenciável José Serra (PSDB) acabara de discursar, ainda era aclamado pela platéia de mais de 500 dirigentes políticos famintos que beliscavam aperitivos na churrascaria Galpão Crioulo, em Porto Alegre, e o candidato a governador Germano Rigotto (PMDB) o aplaudia com entusiasmo de deixar as mãos doloridas.
Foi quando Serra cochichou no ouvido de Rigotto, conta o gaúcho: "Vou fazer uma coisa que vai sair em todas as capas de jornal". Com a mão esquerda, segurou um ombro do aliado. Com a direita, o queixo. E tascou-lhe um beijo no rosto.
"Eu não estava esperando", diz o peemedebista. "Assustei-me. Na minha cabeça passou: "mas que coisa estranha, isso não é normal". Aí o Serra me disse: "Eu não sei como isso é visto no Rio Grande do Sul". Respondi: "Não é visto muito bem, não. O Estado é um pouco machista, preconceituoso" ".
Era o começo da tarde da sexta-feira retrasada. No instante em que sentiu o beijo de Serra, Rigotto soube que o problema que nascia não era comportamental, mas político.
A maior ameaça à sua campanha era o empenho do PT em convencer o eleitorado de que quem vota em Lula não deve votar no candidato de Serra a governador. Se a equação colasse, Tarso venceria.
Com o factóide do candidato do PSDB à Presidência, o PT ganhou um símbolo. Que foi parar no horário gratuito da TV, nos panfletos, na Internet. Rigotto ganhou um abacaxi.
"O PT tentou nacionalizar a campanha para fugir à discussão sobre o Estado", diz Rigotto. A afirmação foi a contrapartida à pregação de Tarso Genro sobre a condição governista de Rigotto, em cujos programas FHC e Serra não apareceram. No de Tarso, Lula foi figurinha fácil. O governador Olívio Dutra, carimbada, pouco vista.
No último programa de Rigotto na TV, anteontem à noite, uma jovem apelava: "Vamos pensar primeiro no Rio Grande". Havia duas mensagens: o primeiro voto na urna eletrônica é para governador; e que se esqueça -ou não se priorize- a Presidência ao votar para o Palácio Piratini.
Rigotto acha que escapou da armadilha involuntária em que Serra o jogou. E comenta: "Não gosto de beijo de homem. É aquela história: nós somos aqui muito machistas. Nós temos aquela coisa. Não é preconceito, mas eu prefiro receber beijo de mulher. Eu sabia que aquele beijo seria utilizado politicamente." (LG e MM)


Texto Anterior: Rio Grande do Sul: Antipetismo e "onda Lula" decidem no Sul
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.