São Paulo, domingo, 27 de outubro de 2002

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MATO GROSSO DO SUL

Tropas federais fiscalizam segundo turno entre o governador, Zeca do PT, e Marisa Serrano (PSDB)

Uso da máquina e denúncia marcam disputa

CHICO DE GOIS
ENVIADO ESPECIAL A CAMPO GRANDE
FABIANO MAISONNAVE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

A campanha durante o segundo turno em Mato Grosso do Sul foi marcada por denúncias de compra de votos, uso da máquina pública e agressão entre militantes.
Todo esse clima levou o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) a autorizar, pela primeira vez no Estado, a utilização de tropas federais para fiscalizar as eleições de hoje. No total, 6.000 homens do Exército estarão atuando nos sete principais colégios eleitorais.
Dados do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de Mato Grosso do Sul dão uma amostra do que foi a eleição no Estado. De acordo com a assessoria de imprensa do órgão, em comparação com 1998, aumentou em 30% o número de representações movidas pelos candidatos, sem contar as ações de investigação. No total, até sexta-feira à noite foram 390 representações.
No segundo turno, houve 46 ações -17 da coligação que apóia José Orcírio dos Santos, Zeca do PT, à reeleição, 14 da coligação de Marisa Serrano (PSDB), 14 do Ministério Público Federal e uma do Ministério Público Estadual.

Pesquisa
Na última pesquisa Ibope, divulgada ontem, o governador e candidato à reeleição aparece com 53% da preferência, em votos válidos, do eleitorado.
A candidata tucana, por sua vez, está com 47% das intenções de voto.
A possibilidade de um segundo turno pegou de surpresa os petistas, que acreditavam em uma vitória tranquila em 6 de outubro.
Assessores de Zeca do PT admitiram que o governador pensou que sua reeleição estava garantida e, por isso, acabou dedicando-se mais à eleição ao Senado de Delcídio do Amaral (PT) e de três deputados federais, entre eles seu sobrinho e braço direito, Vander Loubet.
Quando percebeu que sua eleição não eram favas contadas, Zeca passou a agir.

Uso da máquina
Seus partidários, porém, exageraram na dose. Esta semana, seis funcionários de alto escalão foram exonerados ou afastados de suas funções sob a acusação de uso da máquina pública.
No domingo passado, o governo exonerou o coordenador-geral do programa estadual de cestas básicas, Neriberto Pamplona.
Reportagem da Folha revelou que Pamplona e subordinados realizavam reuniões com moradores da periferia de Campo Grande para pedir votos a Zeca e ao presidenciável petista, Luiz Inácio Lula da Silva.
Outras duas servidoras foram afastadas, entre elas a coordenadora do programa em Campo Grande, Isabel Fernandes Alvarenga. Cerca de 60 mil cestas básicas são distribuídas por mês dentro desse programa, uma das principais bandeiras de Zeca na campanha pela reeleição.
Dois dias depois, nova reportagem da Folha revelou que o comandante-geral da PM, José Ivan de Almeida, usou o serviço de comunicações da corporação para convocar oficiais a um ato pró-Zeca. No mesmo dia, Almeida foi afastado, e o TSE aprovou por unanimidade a requisição de tropas federais para acompanhar a votação de hoje.
Na quinta-feira passada, a Polícia Federal flagrou a diretora-adjunta do Detran-MS, Marlene Alves Nogueira Rondon, com propaganda política de Zeca do PT dentro de um carro oficial utilizado por ela. Horas depois, o governo também a exonerou.
Por último, na sexta-feira o governo afastou o comandante do DOF (Departamento de Operações de Fronteira), coronel Júlio Cezar Komiyama, e o comandante do 3º Batalhão da PM, tenente-coronel Erudilho Nabuco, ambos lotados em Dourados (220 km de Campo Grande).
Gravação entregue à Justiça Eleitoral pela coligação de Marisa mostra que os dois pediram votos a Zeca dentro do batalhão, numa reunião da tropa.

Gasolina
Na sexta-feira, foi a vez da coligação que apóia Zeca do PT entrar com uma ação de investigação contra simpatizantes da candidatura de Marisa. Em uma fita gravada durante um encontro entre mototaxistas e o prefeito de Campo Grande, André Puccinelli (PMDB), que apóia Marisa, o peemedebista afirma que vai dar uma "contribuição" aos mototaxistas.
A "contribuição" seria o fornecimento de dez litros de gasolina por semana, até o final do ano, caso Marisa seja eleita governadora. O prefeito confirmou o encontro, mas negou que tenha oferecido gasolina em troca de votos.
A compra de votos é uma prática comum no Estado. Segundo pesquisa realizada em Mato Grosso do Sul, em agosto passado, revela que 18% dos eleitores do Estado receberam proposta para vender seu voto em 2000 -metade afirma ter aceitado.
O confronto entre militantes do PT e do PSDB também virou caso de polícia. Na quarta-feira, cem militantes adversários envolveram-se em uma briga na principal avenida da cidade. Por causa disso, o TRE proibiu a concentração de torcidas em frente a TV Morena, afiliada da TV Globo, durante o debate entre os candidatos na quinta-feira à noite.


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