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Tribos nômades hoje vivem em casas de zinco
DO ENVIADO ESPECIAL AO RIO NEGRO
Até algumas décadas
atrás, os hupdas, os "senhores dos caminhos", como
são conhecidos, formavam
uma comunidade de caçadores nômades. Dois mil
anos antes, tinham sido empurrados pelo tukanos, mais
evoluídos, da beira dos rios
para o interior das matas.
Os salesianos acreditaram
que juntá-los em torno de
uma igreja facilitaria sua
doutrinação e sobrevivência.
Foi assim que cinco dos clãs,
com mais 300 pessoas, juntaram-se na região da Serra
dos Porcos, hoje Santo Atanásio. Até mesmo uma pista
para aviões Búfalos da Força
Aérea foi construída ali.
O aeroporto é agora uma
mancha abandonada na mata e os padres só aparecem a
cada seis meses para o batismo. A caça sumiu e as famílias vivem de mandiocas raquíticas. Por influência dos
padres, trocaram as malocas
amplas de folhas por pequenas casas de teto de zinco.
Vivem quase intoxicados
pelo fogo sempre aceso. Famílias se espalham em redes
que antes eram de tucum
-hoje são de tecido sintético,"criadouro" de doenças.
Os clãs hupdas camuflam
uma rivalidade centenária. A
tensão explodiu em junho
passado, quando festejavam
um troféu ganho num jogo
de futebol. Beberam caxiri o
dia inteiro, uma bebida fermentada à base de mandioca. Quando um aparelho a
pilhas tocava fitas de forró,
gente de um clã não gostou
de ver homens de outros clãs
dançando colados com suas
mulheres. E a guerra começou. Trocaram flechadas durante horas, até que na manhã seguinte contaram um
morto e vários feridos. Só
uma semana depois, três
chegaram a São Gabriel,
atravessados por flechas.
Nos computadores da
Foirn em São Gabriel, a
coordenadora Yessica Guerreiro chama a atenção para
Santo Anastásio. "A mortalidade infantil é de 40%. Se
nada for feito com urgência,
o grupo vai desaparecer."
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