São Paulo, segunda-feira, 27 de outubro de 2008

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São Paulo

Campanha do DEM atribui sucesso a "artilharia aérea e infantaria terrestre"

Propaganda na TV e azeitada máquina coordenada por subprefeitos nos 31 comitês impulsionaram Kassab

Características pessoais do prefeito, como disciplina para seguir as orientações do marqueteiro, também ajudaram seu desempenho


CATIA SEABRA
FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Numa associação à guerra, o comando da campanha de Gilberto Kassab (DEM) atribui o sucesso do candidato à "artilharia aérea e infantaria terrestre". Leia-se: propaganda eleitoral e a azeitada máquina coordenada por subprefeitos nos 31 comitês eleitorais distribuídos pela capital do Estado.
Responsável pela indicação dos coordenadores regionais, os subprefeitos participaram, religiosamente, das reuniões de segundas-feiras para desenho da estratégia. A cada noite, um grupo de subprefeitos também passava pelo comitê central para avaliar a campanha de rua. E, ontem, atuaram como delegados para fiscalização da eleição.
"A participação deles foi fundamental. Mostrou coesão. Uns mais timidamente, outros não, todos participaram da campanha", diz o coordenador de Mobilização da campanha, Sérgio Kobayashi, que, a exemplo de Guilherme Afif, compara a eleição a uma guerra.
Graças ao empenho pessoal do governador José Serra, que os procurou pessoalmente, Kassab herdou uma equipe tradicionalmente vinculada às campanhas do PSDB, a começar pelo coordenador de comunicação, o jornalista Luiz Gonzalez. Além de esvaziar a equipe do candidato tucano Geraldo Alckmin, que no primeiro turno disputou com o prefeito o espaço de anti-Marta, a contratação permitiu a montagem de um comando de veteranos.
Kobayashi faz campanhas para o PSDB desde 1986. Já o advogado Ricardo Penteado entrou no time no início da década de 1990, tal como o marqueteiro Luiz González. Todos já tinham trabalhado juntos. Ao comando de campanha se uniu a equipe da prefeitura, cujos cargos-chave continuavam ocupados por tucanos serristas.
Serra nunca concordou com o assédio de Kassab aos vereadores do PSDB, o que debilitou a candidatura Alckmin. Mas Serra foi um dos patrocinadores da aliança com o PMDB, que deu a Kassab o maior tempo de rádio e TV. O governador insistia para que se evitasse a coligação do PMDB com o PT, mas reconhecia que o PSDB não poderia oferecer a Orestes Quércia, o que ele mais queria: o direito de concorrer ao Senado em 2010. Em uma conversa com o prefeito, Serra afirmou que só o DEM poderia dar a Quércia essa segurança. Kassab fez a oferta ao ex-governador.
Segundo a Folha apurou, Quércia condicionou sua decisão ao aval de Serra. Após conversar pessoalmente com o governador, Quércia teve uma reunião com o chefe da Casa Civil, Aloysio Nunes Ferreira. O acordo foi sacramentado dois dias depois. "No dia seguinte, na casa de Quércia, a conversa foi muito rápida. Ele disse: "Aceito. Vamos tomar o uísque'", diz o ex-presidente do DEM Jorge Bornhausen.

Disciplina
Segundo aliados, os atributos do candidato também contribuíram para a vitória. Disciplinado, Kassab cumpria rigorosamente a orientação de Gonzalez. Frio, não se deixou abater nem mesmo em dois momentos cruciais em que Quércia ameaçou desembarcar da campanha. O primeiro aconteceu quando Kassab caiu para 11% das intenções de voto.
Apesar das pressões e do risco de dissidência também do PR, Kassab determinou que nada mudasse. Outro momento difícil foi no final do primeiro turno, quando ele ainda não tinha superado o PSDB e Quércia exigiu que Kassab o defendesse de ataques de Alckmin. Kassab contornou o problema sem deixar que a crise viesse à tona.
Kassab não se deixou abalar em julho, quando a Folha revelou e-mail em que Kassab pedia a 26 subprefeitos para identificar pontos onde os entrevistadores do Datafolha abordariam eleitores para realizar uma "ação". A notícia transformou aquela na pior semana da campanha do prefeito. Kassab assumiu a autoria do e-mail e repetiu que se tratava de uma "ação preventiva" para "evitar maldades" de adversários.
Agosto se aproximava e o risco era de polarização entre Marta e Alckmin. Para evitar isso, a campanha elaborou uma série de "desafios" diários do prefeito à petista, comparando números das gestões, buscando se viabilizar como anti-PT.
O objetivo era passar dos 50% de ótimo ou bom em setembro, para depois recorrer a motes como "deixa o Kassab aí, gente". Para aumentar sua aprovação, Kassab foi apresentado como realizador e corajoso. Também repetia números, algumas vezes superfaturados, de realizações da sua gestão.
A cada programa, pontuado com a aparição do boneco kassabinho, foi deixando para trás a imagem deixada em janeiro, quando foi a estrela do programa do DEM. A publicitária Paula Lavigne, responsável pelas peças, chegou a dizer que Kassab não tinha salvação.


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