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São Paulo
Campanha do DEM atribui sucesso a "artilharia aérea e infantaria terrestre"
Propaganda na TV e azeitada máquina coordenada por subprefeitos nos 31 comitês impulsionaram Kassab
Características pessoais do prefeito, como disciplina para seguir as orientações
do marqueteiro, também ajudaram seu desempenho
CATIA SEABRA
FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Numa associação à guerra, o
comando da campanha de Gilberto Kassab (DEM) atribui o
sucesso do candidato à "artilharia aérea e infantaria terrestre". Leia-se: propaganda eleitoral e a azeitada máquina
coordenada por subprefeitos
nos 31 comitês eleitorais distribuídos pela capital do Estado.
Responsável pela indicação
dos coordenadores regionais,
os subprefeitos participaram,
religiosamente, das reuniões de
segundas-feiras para desenho
da estratégia. A cada noite, um
grupo de subprefeitos também
passava pelo comitê central para avaliar a campanha de rua. E,
ontem, atuaram como delegados para fiscalização da eleição.
"A participação deles foi fundamental. Mostrou coesão.
Uns mais timidamente, outros
não, todos participaram da
campanha", diz o coordenador
de Mobilização da campanha,
Sérgio Kobayashi, que, a exemplo de Guilherme Afif, compara
a eleição a uma guerra.
Graças ao empenho pessoal
do governador José Serra, que
os procurou pessoalmente,
Kassab herdou uma equipe tradicionalmente vinculada às
campanhas do PSDB, a começar pelo coordenador de comunicação, o jornalista Luiz Gonzalez. Além de esvaziar a equipe do candidato tucano Geraldo Alckmin, que no primeiro
turno disputou com o prefeito
o espaço de anti-Marta, a contratação permitiu a montagem
de um comando de veteranos.
Kobayashi faz campanhas
para o PSDB desde 1986. Já o
advogado Ricardo Penteado
entrou no time no início da década de 1990, tal como o marqueteiro Luiz González. Todos
já tinham trabalhado juntos.
Ao comando de campanha se
uniu a equipe da prefeitura, cujos cargos-chave continuavam
ocupados por tucanos serristas.
Serra nunca concordou com
o assédio de Kassab aos vereadores do PSDB, o que debilitou
a candidatura Alckmin. Mas
Serra foi um dos patrocinadores da aliança com o PMDB,
que deu a Kassab o maior tempo de rádio e TV. O governador
insistia para que se evitasse a
coligação do PMDB com o PT,
mas reconhecia que o PSDB
não poderia oferecer a Orestes
Quércia, o que ele mais queria:
o direito de concorrer ao Senado em 2010. Em uma conversa
com o prefeito, Serra afirmou
que só o DEM poderia dar a
Quércia essa segurança. Kassab
fez a oferta ao ex-governador.
Segundo a Folha apurou,
Quércia condicionou sua decisão ao aval de Serra. Após conversar pessoalmente com o governador, Quércia teve uma
reunião com o chefe da Casa
Civil, Aloysio Nunes Ferreira.
O acordo foi sacramentado
dois dias depois. "No dia seguinte, na casa de Quércia, a
conversa foi muito rápida. Ele
disse: "Aceito. Vamos tomar o
uísque'", diz o ex-presidente do
DEM Jorge Bornhausen.
Disciplina
Segundo aliados, os atributos
do candidato também contribuíram para a vitória. Disciplinado, Kassab cumpria rigorosamente a orientação de Gonzalez. Frio, não se deixou abater nem mesmo em dois momentos cruciais em que Quércia ameaçou desembarcar da
campanha. O primeiro aconteceu quando Kassab caiu para
11% das intenções de voto.
Apesar das pressões e do risco de dissidência também do
PR, Kassab determinou que nada mudasse. Outro momento
difícil foi no final do primeiro
turno, quando ele ainda não tinha superado o PSDB e Quércia
exigiu que Kassab o defendesse
de ataques de Alckmin. Kassab
contornou o problema sem deixar que a crise viesse à tona.
Kassab não se deixou abalar
em julho, quando a Folha revelou e-mail em que Kassab pedia a 26 subprefeitos para identificar pontos onde os entrevistadores do Datafolha abordariam eleitores para realizar
uma "ação". A notícia transformou aquela na pior semana da
campanha do prefeito. Kassab
assumiu a autoria do e-mail e
repetiu que se tratava de uma
"ação preventiva" para "evitar
maldades" de adversários.
Agosto se aproximava e o risco era de polarização entre
Marta e Alckmin. Para evitar
isso, a campanha elaborou uma
série de "desafios" diários do
prefeito à petista, comparando
números das gestões, buscando
se viabilizar como anti-PT.
O objetivo era passar dos
50% de ótimo ou bom em setembro, para depois recorrer a
motes como "deixa o Kassab aí,
gente". Para aumentar sua
aprovação, Kassab foi apresentado como realizador e corajoso. Também repetia números,
algumas vezes superfaturados,
de realizações da sua gestão.
A cada programa, pontuado
com a aparição do boneco kassabinho, foi deixando para trás
a imagem deixada em janeiro,
quando foi a estrela do programa do DEM. A publicitária
Paula Lavigne, responsável pelas peças, chegou a dizer que
Kassab não tinha salvação.
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