São Paulo, segunda-feira, 27 de outubro de 2008

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São Paulo

ENTREVISTA

GILBERTO KASSAB

Kassab prevê poucas trocas, mas admite que pode cortar Orçamento

Democrata diz que agora será "cobrado" e que seu futuro político depende da gestão em SP

Eduardo Knapp -25.out.08/Folha Imagem
O prefeito Gilberto Kassab ao lado de flores e plantas que estavam na casa de sua mãe, que já morreu, e foram transferidas para o seu prédio

REELEITO ontem com mais de 60% dos votos válidos, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) diz que poderá fazer cortes no Orçamento de 2009, se a crise econômica global provocar uma redução nas receitas da cidade de São Paulo. Ao final da entrevista, Kassab dedicou seu triunfo ao governador José Serra (PSDB) e afirmou que ele foi o grande vencedor da disputa.
O prefeito diz que as alterações de cargos na administração serão "rotineiras" e nega ter negociado pastas com aliados, como PMDB, PR e PV, apesar de declarações de líderes dos partidos. "Se falaram isso, mentem. Não tenho compromisso com ninguém." No hall de seu apartamento, o porta guarda-chuva foi ocupado por dois bonecos "kassabinhos", um dos símbolos da campanha.

FERNANDO BARROS DE MELLO
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

FOLHA - A crise econômica global afetará a prefeitura, na nova gestão do sr.?
KASSAB
- Nosso Orçamento para 2009 já computa um crescimento menor do que o estimado pelo governo federal.

FOLHA - Mas a crise já se agravou depois do envio do Orçamento.
KASSAB
- Se tivermos um agravamento da crise, que tenha como repercussão a queda das receitas do município, não tenho nenhum constrangimento de mostrar com muita clareza os dados e fazer cortes no Orçamento. Isso ainda não ocorreu.

FOLHA - Qual será o 1º corte?
KASSAB
- Não cortarei na área social, na saúde, na educação, no transporte.

FOLHA - Vai ser possível fazer o número de creches prometidas, uma a cada dois dias de mandato?
KASSAB
- Isso é social e será feito no modelo de PPPs [Parceria Público-Privada].

FOLHA - Como fazer no transporte, já que as propostas são de longo prazo e de grandes custos?
KASSAB
- Nós ganhamos muita credibilidade com um discurso verdadeiro. Nos últimos 30 anos, ninguém fez investimentos que não tivessem seus resultados na própria gestão. Eu acredito que vamos concluir o Expresso Tiradentes, o Celso Garcia. O metrô também. O trânsito caminha junto com o transporte público.

FOLHA - O sr. acha que seu futuro político depende dessa gestão?
GILBERTO KASSAB
- A cidade agora cobra uma responsabilidade diretamente de mim. Estou vinculando o meu futuro na vida pública a um bom desempenho. Se me sair bem, estou preparado para voltar para casa e para ter outros desafios. Quem ocupa a Prefeitura de São Paulo tem que saber que o próximo desafio são questões de circunstâncias também.

FOLHA - Agora é gestão Kassab?
KASSAB
- É Kassab, mas uma continuidade da gestão Serra/ Kassab. Seria uma deslealdade com o Serra jogar a responsabilidade da administração no nome dele. É uma responsabilidade minha, mas tenho muito orgulho de dizer que vou me esforçar para continuar como uma gestão Serra/Kassab.

FOLHA - Como o sr. descreveria o novo mandato?
KASSAB
- É um governo de continuidade. Acho que as transformações vão surgir com a mais absoluta naturalidade. Não tem nenhum sentido mudanças bruscas, até porque o governo vai bem. Não fiz nenhuma aliança visando espaços.

FOLHA - Não é o que os aliados dizem. O PR e o PV dizem que negociaram duas secretarias, o PPS quer ocupar mais espaço...
KASSAB
- O que existiu até hoje é que, em todos momentos que surgiram espaços, eu consultei os partidos aliados. Nessa nova realidade, quando tiver alteração, vou conversar com aliados.

FOLHA - PR, PV, PMDB mentem quando falam de cargos?
KASSAB
- Nunca me comprometi. Se falaram isso, eles mentem. Não tenho compromisso com ninguém, só com a cidade. O compromisso com o PMDB é de estarmos juntos na eleição do Senado, na indicação da vice. Terei o maior prazer se, na hora que tiverem alterações rotineiras, puder dialogar e, se identificar bons quadros técnicos, terei o maior prazer em tê-los. Sou muito grato ao PR, PV e PMDB. É legítimo que participem do governo com bons quadros para preencher alterações.

FOLHA - Já se discutem nomes?
KASSAB
- Não. O importante é eu dar algumas sinalizações. Independente de alterações, que não estão previstas, o comando do governo vai continuar o mesmo, o Clóvis Carvalho continua na secretaria de Governo. A articulação com a Câmara continua com o Antonio Carlos Malufe. Se depender de mim, não muda nada ou muda muito pouco. Eu estou feliz.

FOLHA - Ao longo da campanha alguns secretários mostraram maior lealdade do que outros. O sr. não acaba confiando mais em quem esteve ao lado da campanha?
KASSAB
- As pessoas da campanha se aproximam, é natural. Mas jamais vou deixar de ter a mesma consideração com um secretário que não se sentiu à vontade para entrar na campanha com o mesmo entusiasmo, porque cada um tem suas relações com o PSDB e relações pessoais com o Geraldo.

FOLHA - Quem cresceu?
KASSAB
- Em primeiro lugar o governador José Serra, que foi muito correto e íntegro. O papel do Serra, do Aloysio [Nunes Ferreira, secretário da Casa Civil de Serra], do [vice-governador Alberto] Goldman, que trabalharam para ter um só candidato e foram muito importantes para um partido unido.

FOLHA - E entre seus secretários?
KASSAB
- Não me sinto nem um pouco desleal com o PSDB se aqui elogiar e agradecer ao Januário [Montone, Saúde] , ao Alexandre Schneider [Educação], ao Clóvis Carvalho, ao Walter Feldman [Esportes], ao Manuelito [Magalhães, Planejamento], ao Caio Carvalho [São Paulo Turismo]. Os vereadores da bancada do PSDB, que estiveram junto conosco.

FOLHA - O sr. já tem candidato a governador em 2010?
KASSAB
- É um processo que vai ser liderado pelo Serra.

FOLHA - Se consultado, o sr. defenderia o nome do Alckmin?
KASSAB
- A coordenação é do Serra. E ele é muito hábil.

FOLHA - Ao apoiar o sr., Alckmin deixou claro que também considera o Serra líder do PSDB em São Paulo, após a disputa em 2006?
KASSAB
- Acho que sim. Difícil alguém deixar de entender que o Serra é o grande líder da aliança no Estado. O DEM tem no Serra o nosso líder.

FOLHA - É possível que o DEM aceite uma chapa Serra e Aécio Neves e dispense a vice em 2010?
KASSAB
- É prematuro falar que defendo. Mas acho possível e inteligente ser avaliado. São dois líderes importantes. Não tem porque não encontrar uma composição com o DEM que esteja inserida nessa aliança sem ser necessário ter a vice. Falo com muito respeito, porque o Aécio pode ter suas pretensões. Acho legítimo ele postular a presidência. Mas defendo Serra presidente.

FOLHA - E como o sr. explica o desempenho ruim do DEM neste ano?
KASSAB
- Não posso dizer que é um desempenho ruim. Um partido que elege o prefeito de São Paulo, de Mogi das Cruzes, de Ribeirão Preto. Eu não tenho os números nacionais.

FOLHA - O sr. citou apenas casos de São Paulo. Kassab surge como um líder nacional?
KASSAB
- Os maiores líderes nacionais são o Rodrigo Maia, o Jorge Borhausen, quem já ocupou as funções de líderes no Congresso. Eu sou um dos líderes. Acho que o peso de São Paulo é muito grande nesse processo. E o partido vai saber analisar o quão importante foi a aliança para a minha eleição, para a eleição do Serra governador. Não tem nenhum sentido não repetir essa aliança no plano nacional.

FOLHA - O alvo agora é o PMDB?
KASSAB
- Não diria o alvo. O PMDB está na base do presidente. Mas acho que há diversos líderes do PMDB, cito Orestes Quércia e Jarbas Vasconcelos, que vão analisar no médio prazo essa hipótese.

FOLHA - Qual foi o momento mais difícil da campanha? E o mais feliz?
KASSAB
- Eu diria que após a convenção do PSDB foi um momento triste. Eu trabalhei muito pela aliança e foi uma frustração. Era um direito meu sonhar em ter aliança. O mais feliz foi quando eu comecei a ter a sinalização das pesquisas que iria para o segundo turno.

FOLHA - O que o fez vencer?
KASSAB
- A boa avaliação. Mas também a equipe de comunicação, a presença do Serra na administração, a excelente equipe que tenho, o discurso errado dos adversários. Há quatro anos, eu era candidato a vice, e a campanha do PT já falava do [ex-prefeito Celso] Pitta. A cidade sabe que não sou ligado ao Pitta. Sou ligado ao bom gestor, ao meu partido, ao PSDB, ao Serra. A campanha dos meus adversários me ajudou muito.

FOLHA - Após os ataques do PT no final da campanha, o sr. acha que virou um alvo preferencial?
KASSAB
- O PT sempre fez uma oposição muito dura a mim.

FOLHA - O que o sr. achou do nível da campanha?
KASSAB
- A minha foi de um nível muito elevado. A do adversário em um nível muito baixo.

FOLHA - Para o sr. a Marta saiu menor que entrou?
KASSAB
- Só o tempo vai dizer.


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