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São Paulo
ENTREVISTA
GILBERTO KASSAB
Kassab prevê poucas trocas, mas admite que pode cortar Orçamento
Democrata diz que agora será "cobrado" e que seu futuro político depende da gestão em SP
Eduardo Knapp -25.out.08/Folha Imagem
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O prefeito Gilberto Kassab ao lado de flores e plantas que estavam na casa de sua mãe, que já morreu, e foram transferidas para o seu prédio
REELEITO ontem com mais de 60% dos
votos válidos, o prefeito Gilberto Kassab
(DEM) diz que poderá fazer cortes no
Orçamento de 2009, se a crise econômica global provocar uma redução nas receitas da cidade de São Paulo. Ao final da entrevista, Kassab dedicou seu triunfo ao governador José Serra (PSDB)
e afirmou que ele foi o grande vencedor da disputa.
O prefeito diz que as alterações de cargos na administração serão "rotineiras" e nega ter negociado
pastas com aliados, como PMDB, PR e PV, apesar de
declarações de líderes dos partidos. "Se falaram isso, mentem. Não tenho compromisso com ninguém." No hall de seu apartamento, o porta guarda-chuva foi ocupado por dois bonecos "kassabinhos",
um dos símbolos da campanha.
FERNANDO BARROS DE MELLO
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
FOLHA - A crise econômica global afetará a prefeitura, na nova gestão do sr.?
KASSAB - Nosso Orçamento para 2009 já computa um crescimento menor do que o estimado pelo governo federal.
FOLHA - Mas a crise já se agravou
depois do envio do Orçamento.
KASSAB - Se tivermos um agravamento da crise, que tenha como repercussão a queda das receitas do município, não tenho
nenhum constrangimento de
mostrar com muita clareza os
dados e fazer cortes no Orçamento. Isso ainda não ocorreu.
FOLHA - Qual será o 1º corte?
KASSAB - Não cortarei na área
social, na saúde, na educação,
no transporte.
FOLHA - Vai ser possível fazer o número de creches prometidas, uma a
cada dois dias de mandato?
KASSAB - Isso é social e será feito no modelo de PPPs [Parceria
Público-Privada].
FOLHA - Como fazer no transporte,
já que as propostas são de longo
prazo e de grandes custos?
KASSAB - Nós ganhamos muita
credibilidade com um discurso
verdadeiro. Nos últimos 30
anos, ninguém fez investimentos que não tivessem seus resultados na própria gestão. Eu
acredito que vamos concluir o
Expresso Tiradentes, o Celso
Garcia. O metrô também.
O trânsito caminha junto
com o transporte público.
FOLHA - O sr. acha que seu futuro
político depende dessa gestão?
GILBERTO KASSAB - A cidade agora cobra uma responsabilidade
diretamente de mim. Estou
vinculando o meu futuro na vida pública a um bom desempenho. Se me sair bem, estou preparado para voltar para casa e
para ter outros desafios. Quem
ocupa a Prefeitura de São Paulo
tem que saber que o próximo
desafio são questões de circunstâncias também.
FOLHA - Agora é gestão Kassab?
KASSAB - É Kassab, mas uma
continuidade da gestão Serra/
Kassab. Seria uma deslealdade
com o Serra jogar a responsabilidade da administração no nome dele. É uma responsabilidade minha, mas tenho muito orgulho de dizer que vou me esforçar para continuar como
uma gestão Serra/Kassab.
FOLHA - Como o sr. descreveria o
novo mandato?
KASSAB - É um governo de continuidade. Acho que as transformações vão surgir com a
mais absoluta naturalidade.
Não tem nenhum sentido mudanças bruscas, até porque o
governo vai bem. Não fiz nenhuma aliança visando espaços.
FOLHA - Não é o que os aliados dizem. O PR e o PV dizem que negociaram duas secretarias, o PPS quer
ocupar mais espaço...
KASSAB - O que existiu até hoje
é que, em todos momentos que
surgiram espaços, eu consultei
os partidos aliados. Nessa nova
realidade, quando tiver alteração, vou conversar com aliados.
FOLHA - PR, PV, PMDB mentem
quando falam de cargos?
KASSAB - Nunca me comprometi. Se falaram isso, eles mentem. Não tenho compromisso
com ninguém, só com a cidade.
O compromisso com o
PMDB é de estarmos juntos na
eleição do Senado, na indicação
da vice. Terei o maior prazer se,
na hora que tiverem alterações
rotineiras, puder dialogar e, se
identificar bons quadros técnicos, terei o maior prazer em tê-los. Sou muito grato ao PR, PV e
PMDB. É legítimo que participem do governo com bons quadros para preencher alterações.
FOLHA - Já se discutem nomes?
KASSAB - Não. O importante é
eu dar algumas sinalizações.
Independente de alterações,
que não estão previstas, o comando do governo vai continuar o mesmo, o Clóvis Carvalho continua na secretaria de
Governo. A articulação com a
Câmara continua com o Antonio Carlos Malufe. Se depender
de mim, não muda nada ou muda muito pouco. Eu estou feliz.
FOLHA - Ao longo da campanha alguns secretários mostraram maior
lealdade do que outros. O sr. não
acaba confiando mais em quem esteve ao lado da campanha?
KASSAB - As pessoas da campanha se aproximam, é natural.
Mas jamais vou deixar de ter a
mesma consideração com um
secretário que não se sentiu à
vontade para entrar na campanha com o mesmo entusiasmo,
porque cada um tem suas relações com o PSDB e relações
pessoais com o Geraldo.
FOLHA - Quem cresceu?
KASSAB - Em primeiro lugar o
governador José Serra, que foi
muito correto e íntegro. O papel do Serra, do Aloysio [Nunes
Ferreira, secretário da Casa Civil de Serra], do [vice-governador Alberto] Goldman, que trabalharam para ter um só candidato e foram muito importantes para um partido unido.
FOLHA - E entre seus secretários?
KASSAB - Não me sinto nem um
pouco desleal com o PSDB se
aqui elogiar e agradecer ao Januário [Montone, Saúde] , ao
Alexandre Schneider [Educação], ao Clóvis Carvalho, ao
Walter Feldman [Esportes], ao
Manuelito [Magalhães, Planejamento], ao Caio Carvalho
[São Paulo Turismo]. Os vereadores da bancada do PSDB, que
estiveram junto conosco.
FOLHA - O sr. já tem candidato a
governador em 2010?
KASSAB - É um processo que vai
ser liderado pelo Serra.
FOLHA - Se consultado, o sr. defenderia o nome do Alckmin?
KASSAB - A coordenação é do
Serra. E ele é muito hábil.
FOLHA - Ao apoiar o sr., Alckmin
deixou claro que também considera
o Serra líder do PSDB em São Paulo,
após a disputa em 2006?
KASSAB - Acho que sim. Difícil
alguém deixar de entender que
o Serra é o grande líder da
aliança no Estado. O DEM tem
no Serra o nosso líder.
FOLHA - É possível que o DEM aceite uma chapa Serra e Aécio Neves e
dispense a vice em 2010?
KASSAB - É prematuro falar que
defendo. Mas acho possível e
inteligente ser avaliado. São
dois líderes importantes. Não
tem porque não encontrar uma
composição com o DEM que
esteja inserida nessa aliança
sem ser necessário ter a vice.
Falo com muito respeito, porque o Aécio pode ter suas pretensões. Acho legítimo ele postular a presidência. Mas defendo Serra presidente.
FOLHA - E como o sr. explica o desempenho ruim do DEM neste ano?
KASSAB - Não posso dizer que é
um desempenho ruim. Um partido que elege o prefeito de São
Paulo, de Mogi das Cruzes, de
Ribeirão Preto. Eu não tenho os
números nacionais.
FOLHA - O sr. citou apenas casos de
São Paulo. Kassab surge como um líder nacional?
KASSAB - Os maiores líderes
nacionais são o Rodrigo Maia, o
Jorge Borhausen, quem já ocupou as funções de líderes no
Congresso. Eu sou um dos líderes. Acho que o peso de São
Paulo é muito grande nesse
processo. E o partido vai saber
analisar o quão importante foi a
aliança para a minha eleição,
para a eleição do Serra governador. Não tem nenhum sentido não repetir essa aliança no
plano nacional.
FOLHA - O alvo agora é o PMDB?
KASSAB - Não diria o alvo. O
PMDB está na base do presidente. Mas acho que há diversos líderes do PMDB, cito Orestes Quércia e Jarbas Vasconcelos, que vão analisar no médio
prazo essa hipótese.
FOLHA - Qual foi o momento mais
difícil da campanha? E o mais feliz?
KASSAB - Eu diria que após a
convenção do PSDB foi um momento triste. Eu trabalhei muito pela aliança e foi uma frustração. Era um direito meu sonhar em ter aliança.
O mais feliz foi quando eu comecei a ter a sinalização das
pesquisas que iria para o segundo turno.
FOLHA - O que o fez vencer?
KASSAB - A boa avaliação. Mas
também a equipe de comunicação, a presença do Serra na administração, a excelente equipe
que tenho, o discurso errado
dos adversários. Há quatro
anos, eu era candidato a vice, e a
campanha do PT já falava do
[ex-prefeito Celso] Pitta. A cidade sabe que não sou ligado ao
Pitta. Sou ligado ao bom gestor,
ao meu partido, ao PSDB, ao
Serra. A campanha dos meus
adversários me ajudou muito.
FOLHA - Após os ataques do PT no
final da campanha, o sr. acha que virou um alvo preferencial?
KASSAB - O PT sempre fez uma
oposição muito dura a mim.
FOLHA - O que o sr. achou do nível
da campanha?
KASSAB - A minha foi de um nível muito elevado. A do adversário em um nível muito baixo.
FOLHA - Para o sr. a Marta saiu menor que entrou?
KASSAB - Só o tempo vai dizer.
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