São Paulo, segunda-feira, 27 de outubro de 2008

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São Paulo

Marta critica Justiça Eleitoral e campanha do adversário

Para candidata petista, programas de TV de Kassab eram "desqualificadores"

"Notei que nós fomos sempre penalizados e eles, raramente", declarou Marta sobre decisões da Justiça favoráveis ao prefeito


CONRADO CORSALETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

RANIER BRAGON
EM SÃO PAULO

O tom inicial era de "virada" e "força da militância", mas Marta Suplicy (PT) não conseguiu esconder o descontentamento com o desfecho da sucessão paulistana já na manhã de ontem, pouco depois do início da votação que confirmaria sua derrota.
A petista atacou as decisões da Justiça Eleitoral na disputa, sugerindo que seu adversário, Gilberto Kassab (DEM), foi beneficiado. Criticou os programas de TV do prefeito, chamando-os de "desqualificadores". Deixou transparecer ironia ao comentar a ausência do presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, na campanha.
No final do dia, já com o resultado consolidado, deu uma declaração breve reconhecendo a derrota.
Marta recebeu bem cedo apoiadores e jornalistas num sindicato do centro da cidade. Cara inchada de sono, partiu para a ofensiva ao ser questionada sobre o fato de o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ter criticado candidatos que recorreram a ataques pessoais -ela foi punida no segundo turno por perguntar, na TV, se Kassab era casado e tinha filhos.
"Notei que nós fomos sempre penalizados e eles, raramente. Eu achei que durante a campanha a minha imagem foi sempre desqualificada e nada foi feito [pela Justiça]", disse.
"Ele [Kassab] sempre se passava por um rapaz bonzinho, porque [os ataques] não saíam da boca do candidato, mas as musiquinhas...", completou a petista, referindo-se aos jingles da campanha adversária que continham críticas a ela e à sua gestão (2001-2004). "Achei que foi uma campanha bastante desqualificadora da minha imagem o tempo inteiro."
Os petistas consideraram branda a punição do prefeito por ele ter apresentado em evento público o "checão" da prefeitura para o Metrô, uma de suas bandeiras de campanha. Kassab foi penalizado com multa. O comitê de Marta queria a cassação da candidatura.
"A Justiça Eleitoral foi parcial", disse seu coordenador da campanha, o deputado federal Carlos Zarattini. "Os juízes mostraram que têm preferências políticas", completou.
Marta evitou falar diretamente de seu comercial sobre a vida pessoal de Kassab, pelo qual chegou a pedir desculpas no debate da TV Record. "Fim de campanha é normal subir o tom, mas nós não subimos o tom primeiro", disse a petista.
"Os últimos 15 dias são muito acirrados. Às vezes eu fico até surpresa quando olho o que está acontecendo na campanha americana, as coisas ditas, às vezes tão violentas", afirmou.
Pouco antes de ir votar no colégio Madre Alix, nos Jardins, Marta foi questionada sobre a ausência de Berzoini nos últimos atos de campanha. O PT nacional foi crítico à atuação do grupo da ex-prefeita. "Não tenho a menor idéia. Ele foi convidado como todos os outros, deve estar ocupado com outras atividades nacionais."

Declaração
Marta se mostrou emotiva na hora de admitir a derrota, pouco depois das 19h, na frente de sua casa, nos Jardins.
Ela não respondeu a perguntas, apenas disse, em exatos 39 segundos: "Acabei de telefonar ao prefeito Kassab para parabenizá-lo. Quero agradecer aos milhões de eleitores que tiveram a confiança e votaram na gente. Ao mesmo tempo, quero agradecer à militância, que foi muito aguerrida, aos sindicatos que nos apoiaram, aos partidos aliados que compareceram às ruas e deram muita força. Agora cabe ao povo de São Paulo fiscalizar e cobrar os compromissos assumidos pelo novo prefeito. Da minha parte desejo o melhor para a nossa cidade."
Os aliados da ex-prefeita foram mais duros nas declarações públicas. Zarattini e o vice de sua chapa, Aldo Rebelo (PC do B) afirmaram que a petista foi "vítima de preconceito".
O deputado Jilmar Tatto (PT) foi além: "Houve uma frente das elites contra Marta".
A petista recebeu vários aliados em sua casa, entre eles o ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci (PT-SP). Ela ligou para parabenizar petistas eleitos, como Luiz Marinho, e conversou por telefone com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem agradeceu o apoio.


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