São Paulo, segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Desconstrução do prefeito veio tarde, dizem petistas

DA REPORTAGEM LOCAL
EM SÃO PAULO

Fracasso na estratégia de alianças, "corpo mole" com a gestão do prefeito Gilberto Kassab (DEM), erros no tom da campanha e incapacidade de mudar uma agenda negativa já usada pelos adversários nas eleições de quatro anos atrás ajudam a explicar a derrota de Marta Suplicy em São Paulo, na opinião dos próprios petistas.
O erro mais evidente de estratégia da coordenação de campanha foi o comercial que questionou a vida pessoal de Kassab e rendeu perdas, via decisão judicial, de minutos preciosos de TV durante boa parte do segundo turno. Mas a derrota, avaliam petistas, começou a ser desenhada bem antes do início da campanha eleitoral.
Foi quando o partido, a partir de decisão da bancada petista na Câmara Municipal, resolveu não ser agressivo contra a administração de Kassab, que tomou posse no início de 2006, após José Serra (PSDB) deixar a prefeitura para disputar e vencer a sucessão estadual.
A opinião predominante entre os apoiadores de Marta era a de que o tucano Geraldo Alckmin, já visto naquela época como favorito da sucessão municipal, canalizaria com mais facilidade o "sentimento anti-PT" de parte dos paulistanos. Kassab, costumavam argumentar os petistas, era uma "figura política muito mais frágil".
O prefeito, porém, soube usar o peso da máquina municipal e fechou, com a ajuda de Serra, acordos com o PMDB e o PR, somou o maior tempo de TV no primeiro turno e limitou o arco de alianças de Marta aos parceiros tradicionais.
A avaliação de que Kassab ainda era o "melhor adversário" se manteve com a campanha. Por esse motivo, dizem, a "desconstrução" da gestão do prefeito demorou a começar.
Marta analisou a questão ontem: "No primeiro turno, como tínhamos uma candidatura muito tranqüila, partidária, nós focamos em elaborar propostas para a cidade", disse ela, que liderou as pesquisas durante toda a primeira etapa da disputa.
O PT apostava no aprofundamento do racha de kassabistas e alckmistas. Os adversários até se estranharam. Mas, entre um cutucão e outro, canalizaram o discurso anti-PT. No segundo turno, se recompuseram.
"Em relação aos adversários, havia um campo tão minado entre eles e todos tão contra nossa candidatura que não valia a pena ficar batendo ali. Foi feita a análise que era melhor fazer as propostas", disse Marta, que estreou a segunda etapa da disputa num tom agressivo em relação à gestão de Kassab.
O que os apoiadores de Marta chamam de sentimento anti-PT, em especial na classe média, também não foi atenuado por promessas como a isenção de imposto para autônomos ou a rede de internet grátis. Ainda teve de lidar com a agenda de 2004: taxas e escolas de lata.
Do começo da campanha, em junho, até o último Datafolha, anteontem, ela não obteve acréscimo de apoio na classe média. Entre famílias que ganham de dois a cinco salários mínimos, a chamada "nova classe média", manteve-se com 38%. Entre as que ganham de cinco a dez salários, ela caiu de 35% para 30%. Na faixa dos que ganham mais de dez salários, recuou de 23% para 20%.
O PT nacional, que exerce pouca influência sobre o grupo martista do partido, bombardeou a estratégia do primeiro turno, baseada em propostas para a cidade. Diziam que era preciso "politizar mais" a disputa, algo que foi incorporado à campanha, mas sem sucesso.
(CONRADO CORSALETTE E RANIER BRAGON)


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: São Paulo: Lula minimiza derrota de Marta e afirma ter saído ileso da eleição
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.