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Desconstrução do prefeito veio tarde, dizem petistas
DA REPORTAGEM LOCAL
EM SÃO PAULO
Fracasso na estratégia de
alianças, "corpo mole" com a
gestão do prefeito Gilberto
Kassab (DEM), erros no tom da
campanha e incapacidade de
mudar uma agenda negativa já
usada pelos adversários nas
eleições de quatro anos atrás
ajudam a explicar a derrota de
Marta Suplicy em São Paulo, na
opinião dos próprios petistas.
O erro mais evidente de estratégia da coordenação de
campanha foi o comercial que
questionou a vida pessoal de
Kassab e rendeu perdas, via decisão judicial, de minutos preciosos de TV durante boa parte
do segundo turno. Mas a derrota, avaliam petistas, começou a
ser desenhada bem antes do
início da campanha eleitoral.
Foi quando o partido, a partir
de decisão da bancada petista
na Câmara Municipal, resolveu
não ser agressivo contra a administração de Kassab, que tomou posse no início de 2006,
após José Serra (PSDB) deixar
a prefeitura para disputar e
vencer a sucessão estadual.
A opinião predominante entre os apoiadores de Marta era
a de que o tucano Geraldo Alckmin, já visto naquela época como favorito da sucessão municipal, canalizaria com mais facilidade o "sentimento anti-PT" de parte dos paulistanos.
Kassab, costumavam argumentar os petistas, era uma "figura
política muito mais frágil".
O prefeito, porém, soube
usar o peso da máquina municipal e fechou, com a ajuda de
Serra, acordos com o PMDB e o
PR, somou o maior tempo de
TV no primeiro turno e limitou
o arco de alianças de Marta aos
parceiros tradicionais.
A avaliação de que Kassab
ainda era o "melhor adversário" se manteve com a campanha. Por esse motivo, dizem, a
"desconstrução" da gestão do
prefeito demorou a começar.
Marta analisou a questão ontem: "No primeiro turno, como
tínhamos uma candidatura
muito tranqüila, partidária, nós
focamos em elaborar propostas
para a cidade", disse ela, que liderou as pesquisas durante toda a primeira etapa da disputa.
O PT apostava no aprofundamento do racha de kassabistas
e alckmistas. Os adversários até
se estranharam. Mas, entre um
cutucão e outro, canalizaram o
discurso anti-PT. No segundo
turno, se recompuseram.
"Em relação aos adversários,
havia um campo tão minado
entre eles e todos tão contra
nossa candidatura que não valia a pena ficar batendo ali. Foi
feita a análise que era melhor
fazer as propostas", disse Marta, que estreou a segunda etapa
da disputa num tom agressivo
em relação à gestão de Kassab.
O que os apoiadores de Marta
chamam de sentimento anti-PT, em especial na classe média, também não foi atenuado
por promessas como a isenção
de imposto para autônomos ou
a rede de internet grátis. Ainda
teve de lidar com a agenda de
2004: taxas e escolas de lata.
Do começo da campanha, em
junho, até o último Datafolha,
anteontem, ela não obteve
acréscimo de apoio na classe
média. Entre famílias que ganham de dois a cinco salários
mínimos, a chamada "nova
classe média", manteve-se com
38%. Entre as que ganham de
cinco a dez salários, ela caiu de
35% para 30%. Na faixa dos que
ganham mais de dez salários,
recuou de 23% para 20%.
O PT nacional, que exerce
pouca influência sobre o grupo
martista do partido, bombardeou a estratégia do primeiro
turno, baseada em propostas
para a cidade. Diziam que era
preciso "politizar mais" a disputa, algo que foi incorporado à
campanha, mas sem sucesso.
(CONRADO CORSALETTE E RANIER BRAGON)
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