São Paulo, segunda-feira, 27 de outubro de 2008

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Rio de Janeiro

Paes vence Gabeira no Rio por 55 mil votos

Na disputa mais acirrada do Brasil no segundo turno, a diferença entre os dois candidatos é de menos de 2 pontos percentuais

Com feriado antecipado, cidade teve abstenção mais alta desde 1996, o que apoiadores de Gabeira dizem ter favorecido oponente


DA SUCURSAL DO RIO

Na disputa de segundo turno mais apertada da história do Rio, o peemedebista Eduardo Paes bateu o verde Fernando Gabeira e foi eleito ontem prefeito do Rio de Janeiro. A diferença foi de 55.225 votos: o peemedebista teve 1.696.195 (50,83% dos válidos) contra 1.640.970 (49,17%) do verde.
Aos 38 anos, Paes é o mais jovem mandatário da história da cidade. Rejeitado pela zona sul, direcionou sua campanha para as zonas norte e oeste, regiões mais pobres e que reúnem mais eleitores, carimbou seu oponente como candidato da elite e anunciou-se como parceiro do governador Sérgio Cabral (PMDB) e do presidente Lula.
"Dedico [a vitória] ao político que mudou a maneira de fazer política nessa cidade e no Estado, que trabalha pela parceria: o governador Sérgio Cabral. O povo do Rio vai ver a partir de agora um trabalho de parceria. O Rio vai ficar muito melhor com Eduardo Paes, Sérgio Cabral e o presidente Lula", disse Paes às 19h53, diante de sua casa e ao lado de Cabral.
Na crise do mensalão, Paes chegou a chamar Lula de "psicótico" e "chefe de quadrilha", mas na campanha fez as pazes com o presidente e enviou carta com pedido de desculpas para a primeira-dama Marisa Letícia. Ele disse ter falado por telefone com Lula ontem à noite.
Paes contou também ter conversado com Gabeira após a confirmação do resultado e agradecido "a lealdade com que ele conduziu o segundo turno". "Tenho certeza de que ele [Gabeira] vai ser parceiro na construção de uma cidade melhor e mais justa", afirmou o prefeito eleito, prometendo iniciar hoje a transição. "Eu e Cesar Maia [DEM] temos maturidade suficiente para superar nossas divergências."
O candidato do PMDB usou fortemente na campanha declarações de Gabeira criticando a vereadora campeã de votos do Rio, Lucinha (PSDB), chamada de "analfabeta política" e apontada como tendo uma "visão suburbana" em conversa telefônica presenciada por repórteres da Folha e de "O Globo".
Gabeira disse ontem não acreditar que a declaração tenha lhe custado a eleição. "Lucinha se transformou em uma guerreira, indignada com a campanha negativa, e colaborou com o nosso crescimento na zona oeste", declarou ao reconhecer a derrota, às 19h20.
Desde a introdução do segundo turno, em 1992, a eleição mais apertada até aqui tinha sido a de 2000, quando Cesar Maia, que estava no PTB, bateu Luiz Paulo Conde, à época no PFL, por 67 mil votos.
A abstenção foi de 20,25%, a mais alta na cidade desde 1996. O feriado do Dia do Funcionário Público (amanhã) foi antecipado para hoje pelos governos federal e estadual. Apoiadores de Gabeira acreditam que isso estimulou viagens e favoreceu o oponente.
Paes garantiu a vitória nas zonas oeste e suburbana, onde estão os eleitores de menor renda -obteve 57,06% e 54,97% dos votos válidos dessas áreas, respectivamente. Gabeira teve vantagem nas regiões de classe média: 70,31% na zona sul e 63,69% na norte.
Neste mês final de campanha, Paes agregou 12 partidos -entre eles PT, PC do B, PDT e PSB- contra os dois aliados do PV de Gabeira, PSDB e PPS.
Paes foi ontem a três igrejas. Na paróquia do Cristo Operário e Santo Cura D" Ars, em Vila Kennedy (zona oeste), fez uma oração por cerca de três minutos com o padre José Carlos Lino de Souza, também "capelão do Vasco", na definição de Paes, que torce pelo clube.
O peemedebista afirmou que foi nessa igreja que ouviu pela primeira vez, cantada por um grupo de jovens católicos, uma música que considerou representativa de sua candidatura: "Aquilo que parecia impossível/ Aquilo que parecia não ter saída/ Aquilo que parecia ser a minha morte/ Mas Jesus mudou minha sorte, sou um milagre e estou aqui".
Gabeira anunciou que pretende agora se engajar numa campanha para evitar a dengue no próximo verão. "Não terei nas mãos o governo, mas poderei articular iniciativas com entidades privadas." Ele usou uma imagem do candomblé para avaliar sua campanha: "A cidade do Rio usou a minha candidatura para uma mensagem de renovação, mudança. Eu sou apenas o cavalo. Esse é o meu sentimento". No candomblé, o "cavalo" é o médium que recebe um espírito.


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