São Paulo, segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Análise

Serra sai fortalecido e Lula não transfere popularidade

Peemedebistas ganharam mais prefeituras e viram fiel da balança para 2010

PT aumentou o número de prefeituras sob seu comando, mas foi derrotado nas principais capitais em que disputou as eleições


KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ele não foi candidato, mas o governador José Serra (PSDB-SP) é o político que individualmente sai mais forte das eleições. Serra apadrinhou a reeleição do prefeito Gilberto Kassab (DEM), minando a chance de um núcleo alckmista no PSDB de São Paulo dar gás ao projeto presidencial do colega de partido e também governador, Aécio Neves (MG).
Kassab teve uma vitória significativa sobre a candidata Marta Suplicy (PT), o que o torna uma das novas lideranças políticas do país e o principal dirigente do DEM. Sem Kassab, o partido teria tido um desempenho sofrível. A sigla agora apostará mais do que nunca no projeto presidencial de Serra.
Na corrida interna no PSDB, Aécio se mantém vivo ao se recuperar do desastre que teria sido a derrota de Marcio Lacerda (PSB) em Belo Horizonte. O governador elegeu o candidato que saiu do bolso de seu colete, mas no sufoco e a um custo político que o deixa em desvantagem na competição com Serra. A tese de replicar nacionalmente a aliança PT-PSDB, partidos que apoiaram Lacerda na capital mineira, sai enfraquecida das urnas.
É justo lembrar que Serra não poderá tratorar Aécio como fez com o ex-governador Geraldo Alckmin (SP) na eleição paulistana. Para disputar o Palácio do Planalto, precisará do apoio de Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país. E o próprio Aécio deixa claro em conversas reservadas que vai lutar para ser o candidato tucano em 2010.
Nos bastidores, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tentará convencer Aécio de que o melhor caminho para conquistar o Planalto em 2010 é o mineiro ser vice de Serra. Aécio, porém, resiste à idéia.

PMDB
Entre os grandes partidos políticos, é inegável que o PMDB obtém uma espécie de primeiro lugar nestas eleições. O partido foi o que mais conquistou prefeituras no país. O PMDB terá forte poder de barganha para costurar alianças na eleição presidencial de 2010. Poderá apoiar o candidato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, hipótese mais provável hoje. Mas também poderá flertar com Serra, político que sabe que não pode depender apenas da parceria com o DEM para viabilizar seu projeto para o cargo presidencial.
Os resultados das eleições municipais ampliaram a máquina local peemedebista, arma que vitamina os candidatos a deputados federais e a senadores. Isso tende a dar ao PMDB uma das maiores bancadas no Congresso, o que é vital para a governabilidade dos presidentes que são eleitos sem maioria parlamentar, como tem sido a regra no Brasil.
As eleições dos peemedebistas José Fogaça em Porto Alegre e João Henrique em Salvador são boas notícias para Serra. O tucano tem boa relação com os chefes peemedebistas desses Estados.
A eleição de Eduardo Paes (PMDB) não é ruim para Serra. Melhor teria sido a vitória de Fernando Gabeira (PV). Mas Paes é ex-tucano e tem boa relação com Serra. O novo prefeito do Rio integra a área de influência política do governador peemedebista Sérgio Cabral, político que hoje é cotado para ser vice na eventual chapa encabeçada pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Cenário para 2010
Em relação à sucessão de 2010, as atuais eleições reforçam o cenário de um confronto entre PT e PSDB. Os resultados não vitaminaram a chance de uma terceira via, como Ciro Gomes (PSB) ou um nome peemedebista.
Tucanos e petistas deverão continuar a fazer o principal duelo da política brasileira, como uma espécie de Fla-Flu eleitoral. De um lado, Lula precisará vencer seu grande teste administrativo: superar a crise econômica mundial. Se a economia desandar, terá dificuldade para emplacar Dilma.
Entre os tucanos, Serra e Aécio terão um ano e meio agora para decidir quem será o candidato. Uma disputa fratricida poderá diminuir a chance do candidato que vencer a disputa no PSDB.

Petismo
O PT cresceu organicamente. Ou seja, aumentou o número de prefeituras, mas perdeu brilho político, porque foi derrotado nas principais capitais em que disputou. O crescimento petista aconteceu nas pequenas e médias cidades, além de alguns municípios importantes em regiões metropolitanas.
Ou seja, o PT teve um bom desempenho eleitoral com gosto de derrota política. Marta levou uma goleada de Kassab. O partido não recuperou Porto Alegre e não conquistou Salvador. Suas principais capitais são Recife e Fortaleza, já governadas por petistas.
O presidente Lula sai chamuscado. Nas cidades em que se empenhou diretamente pelos petistas, não transferiu votos em quantidade suficiente. A alta popularidade não deu resultado nas eleições municipais. No entanto, o PT continuará dependente do lulismo num grau ainda maior. Nesse sentido, Lula ganha, porque escolherá o candidato à Presidência sem contestação e poderá colocar um auxiliar direto, o chefe-de-gabinete Gilberto Carvalho, no comando do PT.
O presidenciável Ciro foi derrotado em seu reduto eleitoral. Empenhou-se pela candidatura da ex-mulher e senadora Patrícia Saboya (PDT) em Fortaleza, contrariando a aliança que o irmão e governador Cid Gomes (PSB) fez para a reeleição da petista Luzianne Lins.
A eleição de Lacerda em Belo Horizonte serve mais ao petista Pimentel e ao tucano Aécio do que a Ciro, político que terá dificuldade para viabilizar uma candidatura presidencial pelo chamado bloquinho (PSB, PDT e PC do B), três partidos que atuam juntos no Congresso.
Partidos que abrigam políticos que costumam trocar de legenda como quem troca de camisa, PR, PP e PTB continuam a funcionar como partidos do governo, qualquer governo. São siglas médias que apoiarão o próximo presidente.
PRB, PSC e PV cresceram. No entanto, continuam a ser satélites dos partidos maiores. Já PSOL confirma o destino de nanico da esquerda. Heloisa Helena se elegeu vereadora em Maceió, mas não acumula força para entrar no primeiro pelotão da disputa presidencial.
O PPS praticamente sumiu. Vai apostar as fichas em Serra, atuando como um satélite-nanico com verniz de esquerda para um político de esquerda que tem uma base de apoio de centro-direita.


Texto Anterior: Cuiabá: Reeleito, Wilson Santos critica "baixo nível" de campanha
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.