São Paulo, terça-feira, 27 de outubro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Governo já tem votos para pôr Venezuela no Mercosul

Dos 19 senadores da Comissão de Relações Exteriores, 11 são favoráveis à adesão

Definição do colegiado deve sair na quinta-feira, depois tem de passar pelo plenário da Casa; o Paraguai também ainda não decidiu a questão


ANDREZA MATAIS
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo já tem os votos necessários na Comissão de Relações Exteriores do Senado para aprovar o ingresso da Venezuela no Mercosul. Dos 19 senadores que compõem o colegiado, 11 são favoráveis à adesão, todos pertencentes a partidos que apoiam o governo Lula.
A questão se transformou em um embate político que vem sendo travado na comissão entre governistas e oposição e com desfecho marcado para depois de amanhã.
O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) apresentou relatório contrário à participação da Venezuela no bloco, texto que deve ser rejeitado por 11 a 7. Na sequência, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), trará um substitutivo favorável, este sim com votos para ser aprovado.
A Folha ouviu na última semana os senadores da comissão, sendo que 10 afirmaram ser favoráveis à Venezuela e 7, contra (incluindo o presidente, que só vota em caso de empate). Apenas dois não quiseram se manifestar: os senadores Francisco Dornelles (PP-RJ) e Marco Maciel (DEM-PE). A Folha apurou que Dornelles tende a votar a favor e Maciel, contra a adesão.
Dos aliados, só o senador Fernando Collor (PTB-AL) promete votar com a oposição. Como estão garantidos os votos dos demais governistas, a defecção não fará diferença no placar favorável a Hugo Chávez, presidente da Venezuela.
Se não houver pedidos de adiamento, a votação na quinta irá coincidir com a presença de Lula em Caracas.
Um dos argumentos usados pelos favoráveis à entrada do país no bloco é que a "Venezuela não é Chávez" e que o povo não pode ser punido por um presidente de ocasião.
Para a oposição, além de perseguir opositores e a mídia, Chávez teria patrocinado a volta do presidente deposto Manuel Zelaya para Honduras, onde pediu abrigo à embaixada brasileira e está lá até hoje. "Mais uma vez Chávez é responsável por dificuldades e embaraço ao governo brasileiro", diz Tasso em seu parecer.
Assinado em agosto de 2006, o protocolo de adesão da Venezuela já foi ratificado pelos parlamentos de Argentina e Uruguai. Além do Brasil, só falta o Paraguai tomar a decisão. Em 18 anos de Mercosul, é o primeiro movimento de adesão.
A entrada da Venezuela já foi aprovada na Câmara. Falta ainda passar na comissão e no plenário do Senado.
A proximidade da eleição presidencial em 2010 contaminou a discussão sobre a presença da Venezuela no Mercosul. A oposição ficou irritada principalmente quando Chávez declarou que a próxima presidente do Brasil será Dilma Rousseff (PT), ministra da Casa Civil lançada candidata por Lula.
No relatório, Tasso escreve que "bastará uma natural mudança política no comando do Brasil para que o relacionamento entre nossos países corra o risco de sofrer uma perigosa mudança de rumos".
Tasso também expôs argumentos relacionados principalmente à falta de respeito aos princípios democráticos na Venezuela. Nesse ponto, a maioria dos senadores governistas concorda com o tucano.
"Em alguns aspectos não há democracia, como na relação com a imprensa. Eu também fui contra a adoção de possibilidade de reeleição indefinida", disse Eduardo Suplicy (PT-SP). "Eu voto a favor preocupado. Não gosto desse espírito de totalitarismo de Chávez", completou o senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE).
Segundo dados oficiais, a Venezuela é hoje o país que mais contribuiu para o superavit da balança comercial brasileira. O comércio entre os países cresceu 885% nos últimos dez anos.
"O veto não é à Venezuela, mas ao seu atual governo, que tem mostrado que não irá para somar, mas para desequilíbrio do Mercosul", disse o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA). "Neste momento, a Venezuela só tumultuaria o Mercosul", complementou o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), presidente da comissão.


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Análise: Decisão deve demorar mais alguns anos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.