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Governo já tem votos para pôr Venezuela no Mercosul
Dos 19 senadores da Comissão de Relações Exteriores, 11 são favoráveis à adesão
Definição do colegiado deve sair na quinta-feira, depois tem de passar pelo plenário da Casa; o Paraguai também ainda não decidiu a questão
ANDREZA MATAIS
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo já tem os votos necessários na Comissão de Relações Exteriores do Senado para
aprovar o ingresso da Venezuela no Mercosul. Dos 19 senadores que compõem o colegiado,
11 são favoráveis à adesão, todos pertencentes a partidos
que apoiam o governo Lula.
A questão se transformou em
um embate político que vem
sendo travado na comissão entre governistas e oposição e
com desfecho marcado para
depois de amanhã.
O senador Tasso Jereissati
(PSDB-CE) apresentou relatório contrário à participação da
Venezuela no bloco, texto que
deve ser rejeitado por 11 a 7. Na
sequência, o líder do governo
no Senado, Romero Jucá
(PMDB-RR), trará um substitutivo favorável, este sim com
votos para ser aprovado.
A Folha ouviu na última semana os senadores da comissão, sendo que 10 afirmaram
ser favoráveis à Venezuela e 7,
contra (incluindo o presidente,
que só vota em caso de empate). Apenas dois não quiseram
se manifestar: os senadores
Francisco Dornelles (PP-RJ) e
Marco Maciel (DEM-PE). A
Folha apurou que Dornelles
tende a votar a favor e Maciel,
contra a adesão.
Dos aliados, só o senador
Fernando Collor (PTB-AL)
promete votar com a oposição.
Como estão garantidos os votos
dos demais governistas, a defecção não fará diferença no
placar favorável a Hugo Chávez, presidente da Venezuela.
Se não houver pedidos de
adiamento, a votação na quinta
irá coincidir com a presença de
Lula em Caracas.
Um dos argumentos usados
pelos favoráveis à entrada do
país no bloco é que a "Venezuela não é Chávez" e que o povo
não pode ser punido por um
presidente de ocasião.
Para a oposição, além de perseguir opositores e a mídia,
Chávez teria patrocinado a volta do presidente deposto Manuel Zelaya para Honduras, onde pediu abrigo à embaixada
brasileira e está lá até hoje.
"Mais uma vez Chávez é responsável por dificuldades e embaraço ao governo brasileiro",
diz Tasso em seu parecer.
Assinado em agosto de 2006,
o protocolo de adesão da Venezuela já foi ratificado pelos parlamentos de Argentina e Uruguai. Além do Brasil, só falta o
Paraguai tomar a decisão. Em
18 anos de Mercosul, é o primeiro movimento de adesão.
A entrada da Venezuela já foi
aprovada na Câmara. Falta ainda passar na comissão e no plenário do Senado.
A proximidade da eleição
presidencial em 2010 contaminou a discussão sobre a presença da Venezuela no Mercosul. A
oposição ficou irritada principalmente quando Chávez declarou que a próxima presidente do Brasil será Dilma Rousseff (PT), ministra da Casa Civil
lançada candidata por Lula.
No relatório, Tasso escreve
que "bastará uma natural mudança política no comando do
Brasil para que o relacionamento entre nossos países corra o risco de sofrer uma perigosa mudança de rumos".
Tasso também expôs argumentos relacionados principalmente à falta de respeito aos
princípios democráticos na Venezuela. Nesse ponto, a maioria
dos senadores governistas concorda com o tucano.
"Em alguns aspectos não há
democracia, como na relação
com a imprensa. Eu também
fui contra a adoção de possibilidade de reeleição indefinida",
disse Eduardo Suplicy (PT-SP).
"Eu voto a favor preocupado.
Não gosto desse espírito de totalitarismo de Chávez", completou o senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE).
Segundo dados oficiais, a Venezuela é hoje o país que mais
contribuiu para o superavit da
balança comercial brasileira. O
comércio entre os países cresceu 885% nos últimos dez anos.
"O veto não é à Venezuela,
mas ao seu atual governo, que
tem mostrado que não irá para
somar, mas para desequilíbrio
do Mercosul", disse o senador
Flexa Ribeiro (PSDB-PA).
"Neste momento, a Venezuela
só tumultuaria o Mercosul",
complementou o senador
Eduardo Azeredo (PSDB-MG),
presidente da comissão.
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