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ENSINO PÚBLICO
Em seminário internacional, ministro da Educação pede a professores e alunos "radicalidade" e tensão ideológica
Cristovam diz que academia é conservadora
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao debater os novos rumos do
ensino superior, o ministro da
Educação, Cristovam Buarque,
provocou ontem professores,
universitários e pesquisadores dizendo que é preciso haver "tensão
ideológica" entre a academia e as
"forças conservadoras". Afirmou
ainda que falta "radicalidade" nos
pensamentos e debates.
As afirmações foram feitas na
mesa-redonda de ministros da
Educação durante o seminário internacional "Universidade XXI",
que termina hoje em Brasília e teve 1.200 inscritos. "Comparando
a 30 anos atrás, estamos devendo
esta tensão ideológica que o povo
espera de intelectuais e professores, servidores e universitários."
Para o ministro, é a tensão positiva que faz o avanço do pensamento. "Se houvesse um golpe de
Estado na Argentina ou no Brasil,
os militares não precisariam
prender nenhum professor e nenhum aluno. Isso me preocupa
muito. Algo está errado se não representamos [a universidade]
ameaça às forças conservadoras",
afirmou Cristovam pela manhã,
durante sua exposição, feita ao lado do ministro da Educação da
Argentina, Daniel Filmus.
Também participavam da mesa
os ministros da Educação de Cuba, Fernando Vecino Alegret, e do
Sudão, Mohamed Abuzeid Mustafá. Na platéia estavam professores e especialistas de educação superior dos Estados Unidos, Europa, Ásia e América Latina.
Doutor em economia e professor universitário, Cristovam foi
reitor da UnB (Universidade de
Brasília) entre 1985 e 1989 e presidente da Universidade da Paz da
Organização das Nações Unidas
de 1987 a 1988.
À tarde, em entrevista, Cristovam disse que sua preocupação se
refere ao fato de a universidade
ser um lugar de debate de idéias
que deveriam se confrontar. Mas,
em sua visão, esse papel não tem
sido preenchido. "O pensamento
brasileiro é profundamente conservador. Não há exceção de pensamento, de utopia alternativa."
Citou o MST (Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra)
como a "única força no país que
tem radicalidade na ação e nas
idéias". "Cabe a nós encontrarmos soluções, não importando as
perguntas nem as respostas formuladas dentro de nossas instituições, mas sempre ouvindo o
povo. Não manifestando a partir
do que nós achamos, do que o
mercado determina, mas daquilo
que as nossas nações precisam.
Esse é o papel fundamental do saber responsável."
Nas discussões do seminário,
especialistas de vários países têm
defendido esse novo papel da universidade -mais amplo e ligado
às demandas da sociedade.
É o caso do professor do Departamento de Economia da Universidade de Berlim Klaus Hüfner,
que considera o ensino superior
"peça-chave para todos os países
na atual competição global".
Hoje, no encerramento do
evento, será divulgado o documento "Compromisso de Brasília", com sugestões de um novo
modelo universitário e críticas à
mercantilização do ensino.
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