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São Paulo, quinta-feira, 27 de novembro de 2003

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ENSINO PÚBLICO

Em seminário internacional, ministro da Educação pede a professores e alunos "radicalidade" e tensão ideológica

Cristovam diz que academia é conservadora

LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao debater os novos rumos do ensino superior, o ministro da Educação, Cristovam Buarque, provocou ontem professores, universitários e pesquisadores dizendo que é preciso haver "tensão ideológica" entre a academia e as "forças conservadoras". Afirmou ainda que falta "radicalidade" nos pensamentos e debates.
As afirmações foram feitas na mesa-redonda de ministros da Educação durante o seminário internacional "Universidade XXI", que termina hoje em Brasília e teve 1.200 inscritos. "Comparando a 30 anos atrás, estamos devendo esta tensão ideológica que o povo espera de intelectuais e professores, servidores e universitários."
Para o ministro, é a tensão positiva que faz o avanço do pensamento. "Se houvesse um golpe de Estado na Argentina ou no Brasil, os militares não precisariam prender nenhum professor e nenhum aluno. Isso me preocupa muito. Algo está errado se não representamos [a universidade] ameaça às forças conservadoras", afirmou Cristovam pela manhã, durante sua exposição, feita ao lado do ministro da Educação da Argentina, Daniel Filmus.
Também participavam da mesa os ministros da Educação de Cuba, Fernando Vecino Alegret, e do Sudão, Mohamed Abuzeid Mustafá. Na platéia estavam professores e especialistas de educação superior dos Estados Unidos, Europa, Ásia e América Latina.
Doutor em economia e professor universitário, Cristovam foi reitor da UnB (Universidade de Brasília) entre 1985 e 1989 e presidente da Universidade da Paz da Organização das Nações Unidas de 1987 a 1988.
À tarde, em entrevista, Cristovam disse que sua preocupação se refere ao fato de a universidade ser um lugar de debate de idéias que deveriam se confrontar. Mas, em sua visão, esse papel não tem sido preenchido. "O pensamento brasileiro é profundamente conservador. Não há exceção de pensamento, de utopia alternativa."
Citou o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) como a "única força no país que tem radicalidade na ação e nas idéias". "Cabe a nós encontrarmos soluções, não importando as perguntas nem as respostas formuladas dentro de nossas instituições, mas sempre ouvindo o povo. Não manifestando a partir do que nós achamos, do que o mercado determina, mas daquilo que as nossas nações precisam. Esse é o papel fundamental do saber responsável."
Nas discussões do seminário, especialistas de vários países têm defendido esse novo papel da universidade -mais amplo e ligado às demandas da sociedade.
É o caso do professor do Departamento de Economia da Universidade de Berlim Klaus Hüfner, que considera o ensino superior "peça-chave para todos os países na atual competição global".
Hoje, no encerramento do evento, será divulgado o documento "Compromisso de Brasília", com sugestões de um novo modelo universitário e críticas à mercantilização do ensino.


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