|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CONEXÃO RIBEIRÃO
José Alfredo, ex-assessor do ministro em Ribeirão Preto, foi contratado pela Interbrazil para tentar conter a liquidação da empresa
Amigo de Palocci fez lobby para seguradora
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
ROGÉRIO PAGNAN
DA FOLHA RIBEIRÃO
Responsável por um rombo de
pelo menos R$ 20 milhões no
mercado, a Interbrazil Seguradora S.A. recorreu a um velho amigo
do ministro da Fazenda, Antônio
Palocci, para tentar conter a liquidação da empresa e construir
pontes com o governo. Contratou
os serviços do petista José Alfredo
Carvalho, ex-assessor e ex-secretário de Palocci. Ao se apresentar
com passaporte para a Superintendência de Seguros Privados
(Susep) e o Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), José Alfredo é
mais um integrante da República
de Ribeirão Preto a enveredar pelo mundo do lobby.
Já sob risco de liquidação, a Interbrazil contratou José Alfredo
no início deste ano. Diretor de
Fiscalização na primeira administração de Palocci em Ribeirão
Preto e, por duas vezes, líder do
governo na Câmara daquela cidade, ele trabalhou pelo menos três
meses na seguradora. Desfrutou,
segundo dois ex-diretores da Interbrazil, de uma viagem a Londres às custas da empresa, além
de um carro Ômega e um celular.
José Alfredo chegou a instalar
um banco de couro no carro e
mandar a conta para a seguradora. Na atividade de assessoria, intermediou o primeiro encontro
da direção da Interbrazil com o
procurador-geral da Susep,
Moacyr Lamha. O procurador
conta que os dois conselheiros da
seguradora com quem conversou
-Carlito Souza e Rondon Borges- já estavam no prédio da Susep quando chegaram à sua sala.
"Seria leviandade dizer com
quem estavam. Não sei", afirma,
sem lembrar quem teria autorizado seu acesso ao edifício.
José Alfredo viaja tanto ao Rio,
onde está a Susep, que petistas de
Ribeirão Preto são capazes de garantir que ele trabalha na superintendência, por indicação do ministro da Fazenda.
Amigo de Palocci desde a década de 70, nos tempos de USP, José
Alfredo também diz ter agendado
uma audiência da diretoria da Interbrazil com Lídio Duarte, então
superintendente do IRB.
Ele jura nunca ter se valido da
amizade com o ministro. "Nunca
cheguei no Palocci. Nunca pedi
nada. Não tem nem solicitação de
audiência lá no meu nome. Lógico que já me procuraram, mas você tem um Donizeti Rosa, você
tem um Juscelino Dourado. Além
dos caras serem mais gananciosos, terem um apetite danado, eles
têm mais proximidade do Paloci.
Não tenho nenhuma", diz.
Embora funcionários garantam
que sua passagem pela empresa
tenha sido mais duradoura, José
Alfredo admite apenas uma temporada de três meses na Interbrazil, de fevereiro a abril.
A liquidação aconteceu em
agosto, mais de dois anos depois
de a Susep receber as primeiras
denúncias de graves irregularidades contra a seguradora.
De 2003 até 18 de agosto, a própria administração federal contratou os serviços da Interbrazil,
pagando R$ 1,1 milhão à seguradora. Assessor de Palocci quando
o ministro foi vereador e deputado estadual, José Alfredo explica
que deixou a Interbrazil quando o
superintendente do IRB rechaçou
a possibilidade de acordo. "Ele
[Lídio] me passou que não era
possível fazer nenhum acordo administrativo porque já estava na
Justiça. E, quando está assim, você faz acordo só na Justiça. Não
sou advogado, e a partir dessa
constatação, foi que teve o rompimento do contrato verbal."
Hoje, segundo informações do
mercado, José Alfredo estaria
prestando serviço a uma outra seguradora em fase de intervenção
branda. Ele diz ter chegado à direção da Interbrazil graças à proximidade com Carlito, a quem conheceria de Goiânia.
Governada pelo petista Pedro
Wilson até o início deste ano,
Goiânia também é o ponto de referência usado por Carlos Mundim para sua aproximação com a
Interbrazil. Subprocurador da
prefeitura na gestão de Wilson,
ele foi contratado pela seguradora
para instruir uma ação contra a
Celg, em Goiás, em julho deste
ano, após ter saído da prefeituta.
"Não tem nenhuma indicação política. Nunca me envolvi com caixa de campanha", descarta Mundim, atualmente no governo do
Estado do Tocantins.
Em seu depoimento à CPI dos
Correios, o presidente da Interbrazil, André Marques da Silva,
apontou Mundim como quem o
teria apresentado a Adhemar Palocci, diretor de Planejamento da
Eletronorte e irmão do ministro
da Fazenda.
Mundim nega. "Nunca fiz essa
apresentação, de apertar a mão.
Um dia, participamos de uma
reunião na prefeitura e Adhemar
Palocci [então secretário de Fazenda de Pedro Wilson] estava lá.
Mas nem falava direito com ele."
Mundim também não sabe precisar onde conheceu André Marques. "De Goiânia. Sabe como é?
Goiânia", afirmou.
Em mais uma demonstração da
generosidade da Interbrazil com
amigos com trânsito político, a
empresa acolheu a indicação do
delegado Mauro Marcelo Lima e
Silva para seu departamento jurídico. Foi a namorada de "um
grande amigo", o advogado Marcelo Iacomine.
Com versões desencontradas,
todas gravadas, Mauro Marcelo e
Iacomine admitem a contratação,
ocorrida em março de 2004. Nomeado diretor da Abin em julho
daquele ano, Mauro Marcelo disse, num primeiro momento, que
não reconhecia o nome da moça,
confundindo-a com uma ex-aluna. "Já indiquei muitos alunos assinando como delegado. Na Abin,
fui mais cuidadoso", disse.
Num segundo telefonema à Folha, lembrou que ela é a ex-namorada de um amigo. Mauro Marcelo afirmou ter indicado o amigo
para prestação de serviço à Interbrazil. Depois de apresentado, Iacomine teria solicitado a contratação da namorada.
Iacomine, por sua vez, diz nunca ter trabalhado para a Interbrazil. "Conhecia o pessoal do departamento jurídico da Inter e pedi",
afirma ele, pedindo para que sua
namorada não seja identificada.
A Interbrazil ganhou espaço no
noticiário político em setembro,
quando reportagem da TV Globo
revelou que a empresa pagara
contas de campanha do PT em
Goiás. E, revelada pela Folha, a
cópia de uma troca de e-mails associa a Interbrazil a Adhemar Palocci. Nela, o presidente da Interbrazil recebe uma mensagem em
que o irmão, Cláudio Marques da
Silva, solicita o pagamento a fornecedores da campanha do prefeito de Goiânia. Adhemar Palocci
foi secretário de Fazenda de Pedro
Wilson. No e-mail, Cláudio, que é
dono de gráfica, apresenta uma
lista de credores. Antes, afirma "o
que o Palocci quer é o seguinte:
grana para pagar o seguinte (...)".
Texto Anterior: Escândalo do "mensalão"/Investimentos na gaveta: Governo tem R$ 8 bilhões parados em caixa Próximo Texto: Frase Índice
|