São Paulo, quinta-feira, 27 de novembro de 2008

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Relator pede a cassação de Paulinho, e votação é adiada

PDT protesta contra o pedido de vista do DEM, pois estava certo da absolvição

Solange Amaral avalia que a abertura de novo processo contra Paulinho no STF vai permitir a reversão de votos hoje favoráveis ao deputado

ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O relator do processo contra o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), Paulo Piau (PMDB-MG), pediu ontem a cassação do mandato dele no Conselho de Ética da Câmara por envolvimento no esquema de desvio de dinheiro do BNDES. A deputada Solange Amaral (DEM-RJ), no entanto, pediu vista e adiou a votação para a próxima semana.
Parlamentares do PDT protestaram contra o pedido de vista pois apostavam que os membros do Conselho de Ética iriam absolvê-lo. "Havia um acordo para que o relatório fosse votado hoje", disse Dagoberto Nogueira (PDT-MS).
Solange Amaral acredita que o surgimento de fatos novos, como a abertura de um novo processo contra Paulinho no Supremo Tribunal Federal, possa reverter votos que hoje seriam favoráveis ao deputado.
Reportagem da Folha de ontem revelou que Paulinho é alvo no tribunal de um novo inquérito. A Força Sindical, presidida por ele, é suspeita de lançar mão de alunos fantasmas para justificar repasses federais que bancaram cursos oferecidos a desempregados.
Paulinho não acompanhou a reunião -segundo o advogado do deputado, Leonidas Scholtz, para não constranger os conselheiros. O deputado foi ontem a um evento no Planalto e sentou-se na primeira fila. À noite, participou de jantar de sindicalistas com o presidente Lula.
Em 15 páginas, o relator Paulo Piau apresentou os fatos que o levaram a concluir que "foi montado um esquema fraudulento sobre a liberação de verbas pelo BNDES" com a anuência do deputado: "Ele sabia do esquema fraudulento e o apoiava antes de ser deflagrada a Operação Santa Tereza, da Polícia Federal", afirmou.
Para ele, Paulinho se beneficiou com a atuação de Ricardo Tosto e de João Pedro Moura. Tosto era conselheiro do BNDES na época da liberação de empréstimos. Moura ocupava o mesmo cargo quando foi liberado dinheiro à ONG Meu Guri, presidida pela mulher do pedetista. O BNDES disse que não iria comentar o relatório. Os dois ex-conselheiros não foram localizados ontem.
Segundo o relatório, baseado em inquérito da Polícia Federal, parte do dinheiro liberado pelo banco foi distribuída entre Paulinho e outros integrantes do esquema. Nove cheques foram identificados pela PF em contas de pessoas ou ONGs ligadas ao esquema.
Paulinho teria recebido, via as ONGs Meu Guri e Luta e Solidariedade, quatro cheques no total de R$ 200.957,93. "Os pagamentos provenientes das fraudes eram lavados por meio de movimentação em dinheiro nas contas de ONGs, doações simuladas, pagamento de escritório de advocacia", concluiu Paulo Piau.
A conta da Meu Guri na Caixa Econômica Federal também registrou, segundo Piau, movimentação atípica para entidade filantrópica, "com muitos depósitos em dinheiro e em valores elevados". Foram identificados vários depósitos de R$ 9 mil, o que, para Piau, indica "intenção de evitar a notificação ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) que ocorre para movimentações acima de R$ 10 mil".
O relatório dividiu o Conselho de Ética. Dos 11 parlamentares que se manifestaram ontem, cinco sinalizaram voto a favor e seis contra o relator. Esse placar, porém, pode não se repetir porque quatro dos deputados são suplentes e podem não votar na semana que vem.
"Não temos direito de transformar o Paulinho da Força em "Paulinho da Forca". Ele é um deputado probo, honesto e responsável", diz Wladimir Costa (PMDB-PA). "Não temos elementos para puni-lo", diz Abelardo Camarinha (PSB-SP).


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