São Paulo, quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ex-diretor da Abin recebeu grampos da PF, diz agente

Espião Marcio Seltz diz ter entregue pen drive com conversas a Paulo Lacerda

Assessoria de Lacerda diz que diretor afastado da Abin se reuniu com o agente, mas não recebeu os áudios nem o relatório que Seltz levava


HUDSON CORRÊA
ALAN GRIPP
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O agente da Agência Brasileira de Inteligência Marcio Seltz disse ontem à CPI dos Grampos que entregou pessoalmente ao diretor-geral afastado da Abin, Paulo Lacerda, um arquivo eletrônico com parte dos grampos da Operação Satiagraha, da Polícia Federal.
Recrutado para trabalhar na Satiagraha, Seltz disse ter recebido das mãos do delegado Protógenes Queiroz um pen drive com conversas de investigados e a missão de analisá-las. Segundo ele, os diálogos faziam referência a jornalistas e à cobertura da imprensa das atividades de Daniel Dantas. O agente revelou ter feito a triagem de e-mails que tiveram o sigilo quebrado pela Justiça.
Segundo o agente, tanto as gravações como os e-mails faziam parte de um relatório que ele entregou a Lacerda em junho, mês que antecedeu a deflagração da Satiagraha. Lacerda confirma o encontro, mas nega ter recebido os áudios.
As declarações contradizem declarações recentes e os depoimentos de Lacerda e Protógenes à CPI. Ambos disseram que a participação dos agentes se limitava a atividades de rotina, como checagem de endereços. O presidente da CPI, deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), foi além: "As denúncias são extremamente graves, desmentem cabalmente as declarações dadas por eles e imputam uma ilegalidade à Abin, que não poderia manipular grampos", disse.
Tenso, Seltz declarou que, em meados de março, recebeu do diretor-adjunto da Abin, José Milton Campana, a ordem para se apresentar a Protógenes na sede da PF, em Brasília. Seu primeiro trabalho, segundo ele, era fazer uma triagem das notícias publicadas sobre Dantas, classificando-as em favoráveis, neutras ou desfavoráveis ao banqueiro.
O agente, porém, foi descoberto pelo diretor de Inteligência da PF, Daniel Lorenz. Foi obrigado então a deixar a sede da PF, mas não a Satiagraha. A partir daí, segundo ele, passou a analisar os e-mails e os telefonemas interceptados, que resultavam em relatórios. "Ele [Protógenes] queria que eu comparasse o que estava sendo publicado [na imprensa] com o que estava sendo dito por eles [os investigados]".
Seltz disse ainda que Paulo Lacerda tinha conhecimento das missões delegadas a ele: "Doutor Lacerda já sabia o que eu estava fazendo [quando o chamou para a reunião]". Segundo o agente, no encontro Lacerda só pediu para que o seu trabalho fosse "criterioso".
Por meio de sua assessoria, Lacerda informou que o encontro teve como objetivo apenas uma conversa sobre o andamento da Satiagraha. Durante o encontro, segundo a assessoria, Seltz portava um relatório, mas o documento não foi lido nem entregue a Lacerda.
Ainda conforme a assessoria, mesmo se Lacerda tivesse ficado com o material, não teria ocorrido ilegalidade, pois a legislação, de acordo com a agência, permite o compartilhamento de dados entre Abin e a Polícia Federal.
O depoimento do agente José Ribamar Reis Guimarães, que também ocorreria ontem, foi adiado para a semana que vem a pedido da Abin. Ribamar, segundo a agência, participou de missões infiltrado em quadrilhas do crime organizado e não pode ter o rosto exposto na imprensa. A Abin espera que ele fale em sessão reservada.


Texto Anterior: Rio de Janeiro: Fazenda é acusada de ter cerca de 70 "escravos"
Próximo Texto: Abin só cedia 10 agentes por vez, diz Protógenes
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.