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Ex-diretor da Abin recebeu grampos da PF, diz agente
Espião Marcio Seltz diz ter entregue pen drive com conversas a Paulo Lacerda
Assessoria de Lacerda diz que diretor afastado da Abin se reuniu com o agente, mas não recebeu os áudios nem o relatório que Seltz levava
HUDSON CORRÊA
ALAN GRIPP
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O agente da Agência Brasileira de Inteligência Marcio Seltz
disse ontem à CPI dos Grampos que entregou pessoalmente ao diretor-geral afastado da
Abin, Paulo Lacerda, um arquivo eletrônico com parte dos
grampos da Operação Satiagraha, da Polícia Federal.
Recrutado para trabalhar na
Satiagraha, Seltz disse ter recebido das mãos do delegado Protógenes Queiroz um pen drive
com conversas de investigados
e a missão de analisá-las. Segundo ele, os diálogos faziam
referência a jornalistas e à cobertura da imprensa das atividades de Daniel Dantas. O
agente revelou ter feito a triagem de e-mails que tiveram o
sigilo quebrado pela Justiça.
Segundo o agente, tanto as
gravações como os e-mails faziam parte de um relatório que
ele entregou a Lacerda em junho, mês que antecedeu a deflagração da Satiagraha. Lacerda confirma o encontro, mas
nega ter recebido os áudios.
As declarações contradizem
declarações recentes e os depoimentos de Lacerda e Protógenes à CPI. Ambos disseram
que a participação dos agentes
se limitava a atividades de rotina, como checagem de endereços. O presidente da CPI, deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), foi além: "As denúncias são
extremamente graves, desmentem cabalmente as declarações dadas por eles e imputam uma ilegalidade à Abin,
que não poderia manipular
grampos", disse.
Tenso, Seltz declarou que,
em meados de março, recebeu
do diretor-adjunto da Abin, José Milton Campana, a ordem
para se apresentar a Protógenes na sede da PF, em Brasília.
Seu primeiro trabalho, segundo ele, era fazer uma triagem
das notícias publicadas sobre
Dantas, classificando-as em favoráveis, neutras ou desfavoráveis ao banqueiro.
O agente, porém, foi descoberto pelo diretor de Inteligência da PF, Daniel Lorenz. Foi
obrigado então a deixar a sede
da PF, mas não a Satiagraha. A
partir daí, segundo ele, passou a
analisar os e-mails e os telefonemas interceptados, que resultavam em relatórios. "Ele
[Protógenes] queria que eu
comparasse o que estava sendo
publicado [na imprensa] com o
que estava sendo dito por eles
[os investigados]".
Seltz disse ainda que Paulo
Lacerda tinha conhecimento
das missões delegadas a ele:
"Doutor Lacerda já sabia o que
eu estava fazendo [quando o
chamou para a reunião]". Segundo o agente, no encontro
Lacerda só pediu para que o seu
trabalho fosse "criterioso".
Por meio de sua assessoria,
Lacerda informou que o encontro teve como objetivo apenas
uma conversa sobre o andamento da Satiagraha. Durante
o encontro, segundo a assessoria, Seltz portava um relatório,
mas o documento não foi lido
nem entregue a Lacerda.
Ainda conforme a assessoria,
mesmo se Lacerda tivesse ficado com o material, não teria
ocorrido ilegalidade, pois a legislação, de acordo com a agência, permite o compartilhamento de dados entre Abin e a
Polícia Federal.
O depoimento do agente José Ribamar Reis Guimarães,
que também ocorreria ontem,
foi adiado para a semana que
vem a pedido da Abin. Ribamar,
segundo a agência, participou
de missões infiltrado em quadrilhas do crime organizado e
não pode ter o rosto exposto na
imprensa. A Abin espera que
ele fale em sessão reservada.
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