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Greenhalgh quer intimar jornalista a entregar papéis
Justiça analisa pedido de advogado para ter acesso a documentos do Araguaia
Representante de familiares
de mortos na guerrilha, ele
sugere busca e apreensão na
casa de repórter, caso ele se
negue a repassar os dados
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O advogado Luiz Eduardo
Greenhalgh pediu que a Justiça
Federal determine a busca e
apreensão de documentos sobre a guerrilha do Araguaia que
estariam espalhados em mais
de 30 endereços de diversos órgãos públicos, incluindo as sedes da Abin (Agência Brasileira
de Inteligência) e do Comando
do Exército, em Brasília, e de
órgãos da Marinha e da Aeronáutica de sete Estados, além
das casas de quatro militares
que atuaram no conflito.
Na petição, o advogado exige
ainda que o jornalista Leonêncio Nossa, da sucursal de Brasília de "O Estado de S. Paulo",
seja obrigado a entregar à Justiça documentos que mantém
em seu poder, "sob pena de
busca e apreensão". O jornalista trabalha em reportagem que
contará a história do oficial do
Exército Sebastião Curió, que
combateu a guerrilha.
O pedido do advogado é agora analisado pela 1ª Vara Federal de Brasília no processo movido contra a União por 22 familiares de mortos no conflito
(1972-1975), os quais Greenhalgh representa. O procurador da República Rômulo Conrado foi contrário ao pedido.
Para ele, a União tem que revelar de imediato os documentos
que possui, para só então se falar em novas providências.
O processo se arrasta desde
1982 sem conclusão, embora
tenha transitado em julgado no
início deste ano. Os familiares
aguardam que a União abra arquivos, forneça a localização
das sepulturas e devolva os restos mortais dos militantes. A
guerrilha foi iniciada pelo PC
do B (Partido Comunista do
Brasil), que pretendia derrubar
a ditadura e instalar um governo comunista. Morreram no
conflito 59 guerrilheiros, 16
soldados e dez moradores da
região, segundo livro do jornalista Elio Gaspari.
Greenhalgh, em carta divulgada ontem na internet, diz que
não pediu a apreensão na casa
de Nossa. O trecho da petição
diz, na íntegra: "Seja intimado o
referido jornalista [Nossa], no
endereço ao final indicado, para que entregue em juízo referidos documentos, sob pena de
busca e apreensão, [e] preste
depoimento sobre os fatos".
Segundo a petição do advogado, "conforme declarações
constantes de reportagens juntadas "os relatórios secretos
que dizem ter sido destruídos
foram guardados por Curió",
que entregou farta documentação ao jornalista Leonêncio".
Em e-mail enviado à Folha,
Greenhalgh afirmou: "O objetivo dessa petição é fazer valer a
decisão transitada em julgado
que determina à União promover a abertura dos arquivos do
Araguaia, o que a ré [União], insistentemente, tem evitado fazer. A abertura é fundamental
para que possamos reconstruir
a verdade histórica dos fatos
ocorridos na ditadura militar".
A Folha apurou que a petição
não foi consensual entre os familiares, que reclamam da falta
de informações sobre o processo. O advogado nega que não
esclareça seus representados.
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