São Paulo, sexta-feira, 27 de dezembro de 2002

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GOVERNO PETISTA

"Assustado" com a falta de verba, eleito promete não se lamentar

Não haverá recursos para investir em 2003, diz Lula

DA REPORTAGEM LOCAL

Prevendo um ano "difícil", o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou ontem, em São Paulo, que não haverá verbas para investimentos devido às limitações impostas pelo Orçamento de 2003 e declarou estar "assustado" com a ausência de recursos.
"A falta de dinheiro assusta todo mundo", disse ontem, ao deixar o prédio em que mora, em São Bernardo do Campo (SP). "A peça orçamentária mandada para o Congresso e aprovada é a mais apertada dos últimos dez anos. Ou seja, não tem dinheiro para investimentos. Agora eu tomei como decisão não ficar lamentando a falta de dinheiro."
Aprovado pelo Congresso na semana passada, o Orçamento da União para 2003 garante R$ 20,4 bilhões a mais do que o inicialmente programado para os gastos do primeiro ano do futuro governo. Também foram destinados R$ 14,2 bilhões para investimentos no próximo ano, praticamente o dobro do previsto no projeto enviado pelo Executivo.
"Se você não puder fazer uma grande coisa, em um primeiro momento, vai fazendo o possível. Mas, na hora em que conseguirmos canalizar os recursos existentes para a política social, estou convencido de que vamos fazer muita coisa", completou Lula.
Dando prosseguimento ao tom crítico em relação ao presidente Fernando Henrique Cardoso, o petista voltou a dizer que a situação apresentada pelo atual governo está "muito aquém" daquela encontrada pelos petistas encarregados da transição.
Segundo o presidente eleito, os números apresentados pela equipe de FHC refletem um esforço do atual governo para, "obviamente", tentar se "defender".
"Mas não devemos ficar batendo boca. Terminou o período do governo Fernando Henrique Cardoso. Em vez de ficar chorando o leite derramando e reclamando do que não foi feito, vamos tratar de fazer a nossa parte."
Anteontem Lula já havia dito que os dados divulgados pelo governo federal não eram "satisfatórios" do ponto de vista da situação econômica do país.
Para o petista, que perdeu três vezes consecutivas a disputa pelo Planalto, FHC teve seu mandato julgado pela população ao ser agora derrotado nas urnas. "O povo julgou o governo Fernando Henrique derrotando-o nas eleições. Agora temos de trabalhar."

Reunião ministerial
O petista viaja hoje pela manhã para Brasília, onde comanda a sua primeira reunião ministerial. Segundo ele, o futuro ministro da Fazenda e coordenador da transição, Antonio Palocci Filho, apresentará no encontro o relatório feito pela equipe responsável pela análise da administração federal.
"Eu acredito que sobre muita coisa a gente só vai ter informações exatas depois que tomarmos posse, depois que os ministros já estiverem trabalhando", repetiu ele, que ainda afirmou pretender estudar ontem o relatório.
Pela manhã Lula foi à Cantina do Mário, no Ipiranga, onde tomou café com leite e comeu pão com manteiga preparado na chapa. Depois foi ao barbeiro do qual é freguês há mais de 15 anos para aparar a barba e o cabelo. Em seguida, caminhou ao lado do historiador Marco Aurélio Garcia, seu assessor internacional, até a ONG petista Instituto Cidadania, onde ambos se reuniram para discutir sobre a situação da Venezuela.
Preparando-se para viver em Brasília, Lula disse que continuará dormindo em sua casa quando vier à cidade. "Pretendo vir dormir na minha cama. Acho que, como durmo nela há muito tempo, não tem nada mais confortável do que a cama da gente."


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