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BOMBEIRO DO PLANALTO
Presidente quer que divergências entre ministros da Casa Civil e da Fazenda não se repitam em 2005
Lula negocia paz entre Dirceu e Palocci
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva conversará com os ministros
José Dirceu (Casa Civil) e Antonio
Palocci Filho (Fazenda) no início
do ano que vem e vai pedir que
discutam menos em 2005 do que
em 2004. Segundo apurou a Folha, Lula não gostou da troca de
farpas entre os dois, algumas públicas, outras nos bastidores, nas
últimas semanas.
Para o presidente, um clima
ruim entre os dois dificultará as
ações de sua administração em
2005, batizado por ele de "ano dos
investimentos no Brasil", no qual
"o governo vai colher o que plantou" em 2003 e 2004. Em férias,
Dirceu volta ao trabalho no início
de janeiro. Palocci descansará de
30 de dezembro a 10 de janeiro.
A interlocutores, Lula demonstrou contrariedade com a rodada
de entrevistas de final de ano de
Dirceu, ministro que faz ataques
mais abertos a Palocci, e com algumas reações internas do ministro da Fazenda às críticas.
O presidente demonstrou insatisfação com revides do ministro
da Fazenda, principalmente em
conversas reservadas com membros do governo e com vazamentos, na visão de Lula, feitos para
minar o chefe da Casa Civil.
O principal motivo das divergências entre Dirceu e Palocci são
as discordâncias do primeiro em
relação à política econômica. No
entanto, pesa também um pouco
de ciúme do chefe da Casa Civil
em relação ao prestígio do ministro da Fazenda com o público e
com Lula. Pesquisa interna do
Planalto mostra que Palocci é um
ministro popular e que Dirceu está entre os mais impopulares.
Nas conversas reservadas, Dirceu chega a dizer que não precisa
fazer caminhadas com Lula para
ganhar peso político -clara alfinetada no companheiro freqüente do presidente, que é Palocci.
Em entrevistas, Dirceu usou as
expressões "cadeirada" (para se
referir a uma discussão dura com
Palocci), "pensamento único"
(reação de membros do governo
que não aceitam críticas) e criticou sem rodeios o recente processo de elevação dos juros.
Ultimamente, bombardeou
com força a diretoria do Banco
Central, pressionando por troca
de diretores supostamente conservadores. Isso enfureceu Palocci e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
No início de dezembro, apesar
das negativas de Palocci, ele desabafou em seu gabinete no Ministério da Fazenda. Disse que não
agüentava mais Dirceu e que, no
que dependesse dele, não o ajudaria mais a recuperar poder.
Palocci se referia ao dia 22 de
novembro, quando Dirceu liderou uma saraivada de ataques dos
ministros do PT à política econômica em reunião na Granja do
Torto com Lula. Participaram
desse encontro 17 ministros do
PT e o presidente do partido, José
Genoino. Palocci disse que foi
uma tentativa de "motim" abafada por Lula, que disparou: "[A
política econômica] Está dando
certo, o caminho é esse".
Para acalmar Dirceu, Palocci
passou a apoiá-lo nas articulações
do PT para tentar derrubar o ministro Aldo Rebelo (Coordenação
Política), às quais Lula resiste.
Contrariado, o ministro da Fazenda ameaçou retirar o apoio.
Dirceu se sente traído por Aldo
no fracassado empenho para
aprovar a emenda constitucional
que permitiria a reeleição dos presidentes da Câmara, João Paulo
Cunha (PT-SP), e do Senado, José
Sarney (PMDB-AP). Dirceu
apoiou a reeleição, Aldo a minou.
Carimbos de bastidor
Já o ministro da Fazenda não
perde a chance de carimbar as críticas de Dirceu como "fogo amigo", que atrapalham a política
econômica e que seriam motivadas pela perda de espaço.
Passados quase dois anos de governo, Dirceu é hoje um ministro
menos poderoso do que era na
posse de Lula. O gerenciamento
do governo, missão conferida a
ele, ainda é contestado dentro do
próprio governo. Ele também
protagonizou indiretamente a
maior crise da gestão petista.
Em fevereiro de 2004, com a revelação do caso Waldomiro Diniz, um auxiliar de confiança de
Dirceu flagrado em atos de corrupção anteriores ao início do governo Lula, o ministro da Casa Civil encolheu politicamente.
Dirceu, que já havia perdido na
reforma ministerial de janeiro a
atribuição de coordenador político, pela sobrecarga de tarefas, viveu um ano difícil. Em novembro,
chegou a dizer a amigos que estava insatisfeito com os rumos do
governo e que podia reassumir o
mandato de deputado federal e
presidir a Câmara.
Lula, que preferia Dirceu na Câmara por acordo político e não
como fera ferida, procurou acalmá-lo. Para o presidente, é melhor mantê-lo na Casa Civil, comprometido com o governo, do que
tê-lo na Câmara contrariado.
Palocci, sempre elogiado publicamente por Lula, teve algumas
reações a críticas internas à sua
política que contrariaram o presidente. Apesar de publicamente se
mostrar tolerante aos reparos à
política econômica, ele joga pesado nos bastidores.
Tem sido assim, por exemplo,
nas discussões sobre reforma ministerial. Lula quase deslocou Ciro Gomes (Integração Nacional)
para o Planejamento, mas Palocci
o vetou de imediato. Alegou que
seria um risco à política econômica, pois Ciro diverge dela.
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