São Paulo, domingo, 27 de dezembro de 1998

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Invasão de fazenda cresce

da Agência Folha, em Paranhos

O desemprego em massa de índios nas usinas de álcool de Mato Grosso do Sul vem agravando os problemas internos das aldeias e fazendo intensificar as invasões de fazendas consideradas indígenas, segundo Funai e Cimi (Conselho Indigenista Missionário).
Em 1998, foram três ações do gênero, que os índios chamam de "retomadas", mobilizando cerca de 1.150 índios guaranis e caiuás. No ano passado, os índios não fizeram nenhuma dessas "retomadas".
"Há 44 mil índios guaranis para 34 mil hectares no Estado. Com o desemprego, essa terra fica ainda menor. Isso acaba levando às retomadas", disse o assessor jurídico do Cimi, Mausir Pauletti, 38.
Em Paranhos (cerca de 450 km de Campo Grande), o líder da invasão de 33 chácaras, que hoje ocupam uma área reconhecida pelo governo federal como terra tradicional guarani, Otávio Reis, 41, chegou a trabalhar dois meses no corte de cana-de-açúcar no ano passado.
Pai de 12 filhos, Otávio Reis disse que o salário era pequeno e, o trabalho, "sofrido e não levava a nada".
A área invadida, chamada pelos índios de Potrero Guassu, estava ocupada por pequenos produtores que, em sua maioria, haviam comprado a terra dos primeiros assentados em lotes do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). Os índios continuam no local.
Na usina Debrasa, em Brasilândia, os índios cumpriram o último dia de trabalho em 18 de dezembro, sem perspectivas de um novo emprego.
Por orientação dos líderes, os 1.100 índios não deverão ser recontratados este ano.
O índio guarani Paulo de Oliveira, 23, disse que tentaria ser pintor de parede em Dourados (224 km de Campo Grande), cidade vizinha à sua aldeia.
Além da perda do emprego, onde ganhava líquidos R$ 11 por dia, Paulo viveu, nos últimos dias na usina, uma tragédia familiar: seu irmão Adeir, 22, se matou engolindo veneno. Adeir também era cortador de cana na Debrasa.
Paulo não sabe dizer a razão da morte. "Só me telefonaram sete dias depois aqui para a usina. Aí, eu não podia fazer nada", disse o índio.



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