São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 2001

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Órgãos do governo discordam de conclusões de pesquisa do Ipea

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo em peso discordou das conclusões apresentadas no estudo do economista Carlos Alberto Ramos, publicado pelo Ipea.
"A hipótese de que o recurso ao atendimento privado aumentou porque o serviço público deteriorou é puro chute e bem longe do gol", afirmou o ministro da Saúde, José Serra.
Para o diretor de Estatísticas e Informações Educacionais do Ministério da Educação, João Batista Gomes Neto, "se a conclusão de Ramos estivesse correta, isso significaria que o Plano Real deixou todo mundo rico. Todo mundo passou a comer frango e a poder pagar escola privada".
No caso da saúde e da educação, o governo concorda que a parcela da população de baixa renda atendida pelo serviço público aumentou em relação à parcela mais rica.
Mas, segundo eles, isso não significaria que os mais ricos evitaram o serviço público devido a sua baixa qualidade.
Para o ministro Serra, o próprio estudo demonstra que o gasto público atende preferencialmente os mais pobres, contrariando "teses neoliberais em voga, segundo as quais o sistema público atenderia mais os mais ricos".
Membros do governo têm enfatizado, em declarações, a necessidade de que os gastos sociais sejam cada vez mais voltados para os mais pobres.
A secretária de Assistência Social, Wanda Engel, sempre repete que muitos dos gastos ditos sociais não atendem os mais pobres. Um exemplo são os investimentos em universidades públicas, que beneficiam, sobretudo, os mais ricos.
Serra fez questão de enfatizar que o estudo se refere apenas à região metropolitana de São Paulo. "Não representa o Brasil", disse o ministro.
Segundo ele, a desorganização provocada pelo sistema de atendimento público municipal, o PAS (Plano de Assistência à Saúde), pode ter tido um impacto negativo.
Serra afirmou que, para a região metropolitana de São Paulo, os indicadores de saúde melhoraram muito.
Para tentar explicar o comportamento, o ministro defende que a expansão do número de associados em planos de seguro-saúde, sobretudo nos programas pagos por empresas, pode ter sido um fator para o uso da rede privada aumentar.

Queda na repetência
No caso da educação, Gomes Neto afirma que os dados com que trabalha não demonstram a existência de uma fuga da escola pública.
Segundo ele, somente as matrículas na rede pública entre a primeira e quarta série diminuíram. "Isso aconteceu porque diminui a repetência", diz ele.
Como na escola privada o número de matrículas se manteve, proporcionalmente teria havido um aumento da participação da rede privada sobre a pública, argumenta ele.
"Isso não quer dizer que a qualidade caiu e as pessoas deixaram de frequentar a rede pública. Aumentou foi a eficiência da aprovação nas escolas públicas", afirmou. (AS)


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