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Pratini veta Alca sem reforma tributária
DO ENVIADO ESPECIAL A DAVOS
O ministro da Agricultura,
Marcus Vinicius Pratini de Moraes, cumpriu ontem o papel que
ele próprio define como o de
"chutar o pau da barraca". Disse,
em almoço sobre o Brasil, que o
país não pode fazer um acordo
como o da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) com o atual
sistema tributário.
"Seria terrível", emendou Pratini, para em seguida voltar o foco
para os Estados Unidos: também
não haverá acordo se os EUA não
abrirem seu mercado para, por
exemplo, o suco de laranja, a soja
e o aço brasileiros. Como se fosse
pouco, o ministro acrescentou:
"Digam ao governo americano
que não venha com essa história
de cláusula social, cláusula ambiental, cláusula trabalhista".
É uma alusão às tentativas do
governo Clinton de vincular acordos comerciais à obediência pelos
países firmantes de padrões trabalhistas e ambientais básicos.
O governo brasileiro sempre
considerou tal vinculação como
protecionismo disfarçado.
O discurso de Pratini foi feito na
presença do presidente do Banco
Central, Armínio Fraga, do presidente do BNDES, Francisco Gros,
e do presidente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), Enrique Iglesias, para uma
platéia de aproximadamente 30
empresários, a maioria estrangeiros, interessados em Brasil.
A menção à reforma tributária,
vinculada à Alca, deveu-se ao fato
de Vittorio Corbo, professor de
Economia da Universidade Católica do Chile, ter comentado que a
economia brasileira "ainda é muito fechada". Armínio deu a resposta-padrão: concordou que as
tarifas de importação, embora tenham sido reduzidas a 14%, na
média, ainda são elevadas e prometeu "gradual redução".
Pratini foi na direção contrária:
disse que, por causa da estrutura
tributária brasileira, que pune o
exportador, mas não o importador, a economia não é fechada.
"Se a tarifa é 10%, na verdade é
5%", disse o ministro, porque, pela sua explicação, o importador
não paga os impostos que o exportador paga.
Nesse ponto, Armínio concordou. Cobrado duas vezes sobre a
reforma tributária, o presidente
do Banco Central disse que "a distorção mais significativa no sistema tributário brasileiro é o fato de
o Brasil ser um dos poucos países
que exportam impostos".
Armínio prometeu que, em matéria de reforma tributária, o governo vai se concentrar este ano
em simplificar o ICMS ("já há
quase um consenso com os Estados") e em reduzir a carga tributária sobre a exportação.
O presidente do BC anunciou
também "um tremendo boom de
produtividade" no Brasil. Depois
de dizer que a produtividade passara de um crescimento negativo
de 0,8% nos anos 80 para um positivo de 0,9% nos 90, poderá facilmente saltar para 1,5% ou mais.
Já Francisco Gros, do BNDES,
aproveitou a presença de empresários interessados em Brasil para
dizer que, mesmo tendo privatizado ou cedido em concessão 166
empresas nos últimos anos, o país
ainda tem "um enorme lote para
privatizar".
Com esses números e promessas, o almoço sobre o Brasil foi
música para os ouvidos dos empresários, por mais que Pratini
atravessasse o samba. Mas o próprio ministro cuidou de explicar
que cabe a ele "chutar, para depois o Itamaraty afagar".
(CLÓVIS ROSSI)
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